Cirandeiros da paz
“Se a abelha desaparecer, o Homem só viverá por mais quatro anos”. (Albert Einstein). A paz é uma ciranda da qual todos devemos participar – e que haverá de triunfar sobre o engano trágico dos conflitos e guerras movidas (pasmem) até mesmo em nome de Deus, levando à frente conflagradas e odiosas bandeiras religiosas. Esta foi, em síntese, a mensagem de Roberto Crema, reitor da Universidade da Paz, no Encerramento do II Festival Mundial da Paz, no Centro de Convenções, em Goiânia. Comoveram suas palavras de poeta e cirandeiro da paz, lembrando a todos da lucidez do compromisso que todos temos de travar: o de defender a vida onde ela se faça presente, em tudo, por todos, e em todo canto e lugar.
Foram três dias de uma pajelança mágica, trans-religiosa e trans-disciplinar, envolvendo centenas de terapias alternativas (gratuitamente oferecidas a quem as quisesse como cura possível para desvios do corpo, da mente e da alma). Personalidades iluminadas da vida cultural e acadêmica se fizeram presentes, proferindo palestras e oferecendo cursos, fazendo luz e espargindo a coragem e a generosidade de insistir em dizer o que é dito pelas grandes almas, desde o sermão da montanha. Sabendo que ainda é possível ser feliz, fui lá, levei os meus queridos, familiares e amigos – apazigüei minhas inquietudes entregando a trindade de corpo mente e alma que sou, a terapias como o reiki, a cromoterapia, e até viajei nas asas mágicas de uma vivência xamânica, em que pude entrar em conexão com caminhos interiores que precisam ser vivenciados.
Na cerimônia de encerramento Roberto Crema apresentou aos cirandeiros da paz a veneranda figura da freira Maria Loreto, de 92 anos. Sentada ao lado da cadeira reservada à presença iluminadora de Pierre Weill, ela, que partilhou da amizade e saber integrativo de Teilhard Chardin, falou com energia e lucidez fantásticas, emocionando a todos. Uma prova cabal de que lucidez de ser e de viver não entra em paralisia, e só é acometida de alzheimer espiritual quando nos entregamos à entropia da inapetência para viver em felicidade e harmonia com todas as criaturas da vida. Lembrando a coragem pioneira de Chardin, vidente e vítima do obscurantismo, como Giordano Bruno, escandalizando o Vaticano com verdades que hoje a ciência confirma.
Roberto Crema tirou os sapatos para falar – um reitor de pés no chão: diferente de outros, pelos Brasis afora, e por Goiás adentro, que mandaram professores e estudantes para a violência inquisitorial da ditadura, falou de seu encontro com Maria Loreto, em Uberlândia, onde era bem sucedido advogado da próspera empresa de seu pai. Não obstante ocupar uma posição invejada por muitos, era muito infeliz, por não gostar do que fazia. Falou-lhe de sua tristeza, acrescentando que só a psicologia lhe provocava arrepios. “Então vá por este caminho, meu filho! Faça aquilo que o arrepia”.
Não sabendo que seria difícil, o pedidor de deferimento demitiu-se da próspera infelicidade, e foi a Brasília, encontrar os caminhos que o levariam à elevada estatura de ser humano a que chegou. No final, Élida, da Unipaz de Goiás, passou à representante de São Paulo o anel simbólico da lucidez do compromisso, que recebeu de Luciana, da Unipaz de Brasília. É a visão profunda do feminino, e seu poder de organização. Roberto passou a chama simbólica, a sinalizar que a ciranda da paz tem que continuar sua viagem, para que o absurdo e a violência que hoje devastam e matam no futuro sejam vistos como uma ilusão mortal e mortífera, que não pode sobreviver sem alimentar-se de intolerância e maldade. Na ciranda da paz o desespero muda em esperança – a tristeza cede passagem á alegria, e a perversidade deixa lugar à mansidão da inocência. Como falou Gandhi, a grande alma: “Não existem caminhos para a paz. A Paz é o caminho”.
Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.