COMO SURGIU A CIDADE DE ANTÔNIO PRADO

      Em 14 de maio de 1886, foi fundada oficialmente a colônia de Antônio Prado, na Rota Turística Uva e Vinho, na Serra Gaúcha. O nome da colônia foi dado em homenagem a Antônio da Silva Prado, Ministro da Agricultura da época, que favoreceu a instalação de núcleos coloniais no Rio Grande do Sul.

                            
                    CENTRO HISTÓRICO DE ANTÔNIO PRADO-(RS)

      Sua população, composta quase que exclusivamente de imigrantes italianos e seus descendentes, trabalhadores ordeiros e religiosos, conquistou a emancipação política em 11 de fevereiro de 1899.

      As comunidades de imigrantes italianos devem à religião seu modo de organização. Os povoados e vilas nasceram, quase sempre, ao redor de uma capela e a partir dela, como ponto de referência, é que a comunidade se organizava.

      À sua volta, construíam o salão de festas, a escola, suas casas. Lá tinham seus encontros religiosos, sociais e de lazer. Embora o isolamento representasse um entrave ao desenvolvimento do município, constituiu-se em um dos fatores de preservação do patrimônio arquitetônico, tipicamente italiano, cujo tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional deu-se em 1989. Antônio Prado é reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – como Patrimônio Histórico Nacional, por possuir e preservar o maior conjunto arquitetônico da imigração italiana. Em 1985, o IPHAN tombou a "Casa da Neni", e posteriormente, em 1989, mais 47 casas. Como maior acervo da arquitetura urbana de imigração italiana no Brasil, Antônio Prado emprestou seu centro histórico para compor o cenário do filme "O Quatrilho", projetando nacionalmente a cidade. Com isso, levou para o Brasil e para o mundo, muito mais do que a arquitetura colonial italiana, preservada em Antônio Prado. Foram mais do que cenas de um filme; foi a revivência da própria história da imigração.

A DEVOÇÃO DOS IMIGRANTES ITALIANOS, MOSTRADA NO CINEMA

      Numa esquina da localidade de Fastro, em Belluno, na Itália, o Capitel Della Madonna avisa: aqui também se evoca a devoção na mãe de Jesus, o redentor da humanidade, segundo a tradição cristã. A imagem é uma das captadas pelo produtor Fernando Roveda, o diretor de fotografia Daniel Herrera e o diretor André Costantin na segunda quinzena de novembro, para a realização da segunda parte do documentário “Se Milagres Desejais”. A primeira versão foi rodada em 2007, através de edital Etnodoc, registrando os capitéis de Antônio Prado e região. Como na época sobrou um material significativo, a meta agora é construir uma ponte histórico-religiosa e sócio-cultural entre a tradição dos imigrantes daqui com a mesma prática da terra de origem. O primeiro filme será a base da nova produção, que percorre a Região do Vêneto, províncias de Verona, Vicenza, Padova e Belluno.

                                                               
                   CAPITEL DELLA MADONNA, EM BELLUNO-VÊNETO-ITÁLIA

      Outrora muito comuns por toda zona rural da região do Vêneto, os capitéis surgiram no rio grande do sul, nos primeiros anos da imigração italiana e veneta. Os capitéis são ainda hoje, a expressão da religiosidade dos imigrantes no Brasil.Como encontravam dificuldades de adaptação os seus primeiros anos na “nova Terra”, começaram a usar os capitéis como sua máxima expressão religiosa, que passou como algo que suprisse as necessidades dessas gentes imigrantes, que não tinham recursos para construir uma igreja, ou até mesmo uma capela. Os capitéis, pequenos oratórios devocionais, construídos à beira das estradas feitos, sobretudo em madeira, já era tradição rural da região do Vêneto. Em Antônio Prado, os capitéis foram sendo construídos; primeiro em madeira rústica, depois também em alvenaria. Os capitéis eram mandados erigir por alguma família, ou várias famílias, ou comunidades inteiras, em regime de cooperativa; reuniam o dinheiro necessário para as suas construções e autorizavam algum artista e marceneiros a sua execução. Os capitéis eram (e são) feitos como pagamento de promessas, por uma graça alcançada, para a proteção espiritual da comunidade ou família, ou ainda para satisfazer o desejo de uma mãe ou pai já morto, que desejou em vida que os filhos fizessem um capitel em louvor ao santo de devoção daquele ente querido. Hoje em dia, as famílias ou pessoas que mandaram erigir os capitéis, por terem saído da região, fazem apenas uma visita anual ao capitel da família, época em que refazem a pintura, fazem a limpeza dos arredores, torçam os acessórios religiosos e flores e fitas que os enfeitam. Alguns poucos fazem anualmente uma festa à beira da estrada, com missa campal e oferecem mesas e mais mesas de comidas e fogos de artifício ao final da missa; especialmente os capitéis em honra de Santo Antônio, donde se mesclam os costumes vênetos com os portugueses e brasileiros, durante as festas juninas. Antigamente, rezavam-se semanalmente os “terços”, faziam novenas e tríduos em homenagem aos padroeiros. Com o passar dos anos, muitos dos capitéis perderam sua características, às vezes até por alguém ter sido agraciado com algum milagre e se transformam em capelas e ermidas. Tanto as capelas quanto os capitéis ainda são encontrados nos dias atuais na região de Antônio Prado (RS), ainda que as finalidades e significados não fossem exatamente aqueles trazidos pelos imigrantes vênetos, ficando apenas a história, que se pretende passar aos descendentes e aos brasileiros.

      Seguindo o contexto de “separados pelo destino, mas unidos pela fé”, o novo “Se Milagres…” será uma espécie de homenagem aos 135 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, festejados em 2010. Para realizar a produção, parcerias com a UCS; Petrobras; Nordeste Alimentos; ACIs de Antonio Prado; Móveis Nordeste, de Flores da Cunha; Grupo Perboni e entidades italianas da Região do Vêneto. Tudo para registrar as histórias da religiosidade que deixa marcas no cotidiano lá e cá.

                                      
                  CAPITEL ATUAL NUMA ESTRADA DE ANTÔNIO PRADO

      Integrando a programação dos 135 anos da imigração italiana no RS, em 18 de maio de 210, uma quarta feira, foi apresentado o filme documentário “Se Milagres Desejais”, no “plenarinho” da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.

      O audiovisual sonda a paisagem cultural de um Brasil fundado no frio, na fé e no desejo imigrante de construção da América.

      De acordo com o pesquisador Fernando Roveda, o documentário se constrói a partir dos testemunhos de uma religiosidade tecida à margem do credo oficial, num curioso e diverso panteão de santos para finalidades específicas e que atesta o vigor da cultura popular. Erguido em situações de promessas e de graças alcançadas ou não, o capitel passa a demarcar um espaço sagrado à beira dos caminhos, compartilhado por outros anônimos fiéis. O filme documentário tem duração de 26 minutos, direção de André Costantin e Nivaldo Pereira, com argumento e pesquisa de Fernando Roveda. A trilha sonora original é de Marcos de Ros, direção de fotografia de Alessandro Ditadi, montagem de Daniel Herrera e produção de Geni Onzi.

      PREMIAÇÃO INTERNACIONAL (ANO DE 2010).

      Pela segunda vez, um filme com história de Antônio Prado é premiado em Verona na Itália. Se “milagres desejais”, ou se “desiderate miracoli”; a história dos capitéis de Antônio Prado e da Regione del Vêneto foi selecionado em meio a 198 filmes de 30 países para participar do concurso internacional do Film Festival della Lessinia em Bosco Chiesanuova – Verona. Dos 198 filmes 26 foram selecionados para o concurso e sete foram premiados. O filme recebeu o Prêmio da Lessinia –“alla migliore opera riguardante I Monte Lessini Veronesi”.

      O primeiro filme a receber prêmio foi em 2008 com o documentário Eco das montanhas que conta a história dos cimbros (povo céltico das margens do Mar Báltico, que se estabeleceram na Germânia e que no século XI-AC invadiu a Gália e foi detido pelos romanos na região dos Alpes e pelos celtiberos na Espanha) em Antônio Prado e da Regione del Vêneto.

      Na cidade de Rotzo participaram da apresentação oficial do filme Se milagres desejais na sede da Câmara de Vereadores de Rotzo, com a participação da comunidade local. O filme também foi apresentado oficialmente no Museu Etnográfico de Belluno.

      No dia 28 de agosto ocorreu a cerimônia de premiação dos filmes em concurso no Film Festival della Lessinia em Bosco Chiesanuova. Se milagres produzido por Fernando Roveda com direção de André Costantin e Nivaldo Pereira, o qual foi baseado no livro Caminhos da Fé, pesquisa realizada em Antônio Prado.

      Se consideramos que o filme “O Quatrilho” (1994), dirigido por Fábio Barreto, baseado em obra de mesmo nome de José Clemente Pozenato, que teve como cenário a região de Antônio Prado (também utilizaram a cidade de Farroupilha), foi indicado ao Oscar na categoria de "Melhor Filme Estrangeiro", são três os filmes que mostram a região, seus aspectos étnicos e costumes da região. Embora “O Quatrilho” não tenha sido premiado pelo “Oscar da Academia de Cinema de Holywood”, ganhou outros prêmios; tais como Melhor Atriz para Glória Pires, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha sonora do Festival de Cinema de Havana.

      O município de Antônio Prado editou lei que institui o tombamento voluntário de bens de valor histórico. Com essa iniciativa, a cidade que se orgulha de ter um acervo de 48 casas centenárias, que retratam o período da imigração italiana, pretende, no mínimo, dobrar este número. O objetivo é fazer com que mais proprietários de imóveis ou de bens móveis se interessem em preservar o patrimônio histórico e também criar pousadas, restaurantes e casas comerciais que ajudem a incentivar a permanência de turistas na cidade.

      Encravada em um vale, Antônio Prado tem população de 14 mil habitantes, dos quais 9 mil residem na área urbana. A economia se baseia na indústria moageira, fábrica de vidros e na pecuária leiteira. As pequenas propriedades rurais que se dedicam à atividade leiteira abrigam 5 mil moradores. Nem mesmo os historiadores sabem explicar porque os imigrantes escolheram o vale para se instalar. O sobe e desce de lombas é uma constante, principalmente para quem quer visitar o campanário, uma torre centenária com mais de 20 metros de altura, junto à gruta de Nossa Senhora de Lourdes, ou as 48 casas que estão localizadas no centro da cidade.

      O prédio da prefeitura foi edificado entre 1896 e 1900. Em frente à praça que abriga réplicas de casas históricas e de um moinho d’água, o turista pode conhecer também a Casa Neni, hoje, uma loja de ‘armarinho’. O imóvel de madeira, com dois pisos, construído em 1910 sob orientação de Maximo Espirotti, foi a moradia de Antonio Bochesi.

FARINHA DE MILHO BRANCA É TIRADA DO MOINHO D’ÁGUA

      Nos passeios já oferecidos em Antônio Prado, além do casario em madeira e dos prédios públicos pintados com as cores da bandeira italiana, são paradas obrigatórias: o museu, a ferraria e o moinho d’água de dona Catarina. No Museu Padre Schio, coordenado por Aidee Sartori Plachi, há réplicas e quadros das 48 casas tombadas e dos capitéis (capelinhas construídas à beira das estradas). O salão de pedra do museu foi dividido em quarto, com colchão de palha de milho, travesseiro de penas, cama de ferro, cozinha e área de marcenaria com as ferramentas trazidas da Europa.

      O passeio ganha outra forma na visita ao moinho de farinha de milho de Catarina Frizo Francescatto, uma legítima descendente de italianos que mistura o dialeto da região com um português com sotaque. É uma rara oportunidade de conhecer como era a vida no início do século passado. A roda d’água move as pesadas pedras.

      Do moinho construído há 120 anos, dona Catarina tira farinha de milho branca, que pouca gente conhece. E a produção não é só para turista ver. A descendente de imigrantes vive realmente de seu árduo trabalho. Ela conta que freqüentemente entra a noite moendo milho. Do girar da roda, Catarina tirou o sustento de sua família e construiu sua casa. Viúva, a moageira vive de forma alegre, recebendo de forma bem italiana os turistas e vizinhos que compram a famosa farinha para fazer a tradicional polenta.

                                                 
                 A RODA D´ÁGUA DO MOINHO DE DONA CATARINA EM ANTÔNIO PRADO

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Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.