SAGRADA FAMÍLIA-SÍMBOLO DO NATAL

Numa época de tristezas,
Num fim de uma tarde quente primaveril,
Vi o menino-Deus num quadro,
O quadro era o mais lindo que jamais existiu.

Sonhei com Ele, o Menino Jesus,
Descendo dos céus por uma fresta de sol.
E vinha atravessando cafezais e outras plantações,
Colhendo (e plantando) muitas florinhas de escol.

Ele vinha feliz, saltitante: menino!
E Ele chegava no primeiro arrebol
Colhia lírios do campo e folhas do inhame
Donde o orvalho refletia a luz do sol

Colheu penas de canários da terra,
Colheu galhos com cafés maduros,
De pintassilgos, sabiás e jandaias,
Colheu libélulas, besouros, anuros… .

E ria, ria muito, O menino…
Ele ia chegar lá em casa, disso eu já soubera
Pois três reis chegaram da Fazenda Estrela D´Oeste
E me avisaram: o rei dos reis te espera

Informaram-me: prepare-se; Ele vai chegar.
E, de longe, eu O via, e ouvia Seu sorriso…
Fiquei com medo de que não tinha compreendido
Como mantê-lo, pois bem tratá-lo era preciso.

Pensei: como pode esse menino,
Ficar andando assim, pelo mundo?
-Ele poderia ser vítima dos maus,
Ou até de algum vagabundo!

-Teria Ele fugido do céu,
Aproveitando-se do sono do Pai Eterno?
Ou teria tido a Divina permissão,
Para fazer de mim um ser humano mais fraterno?

Ele era uma criança muito linda,
Quis eu que Ele morasse comigo; pela eternidade… .
Aos treze anos Ele me acompanhou,
Quando do campo saí, rumo à cidade.

Andamos, passeamos e nos divertimos,
Ele me ajudou na saudade da minha gente!
Aos dezoito, Ele me amparou quando perdi meu pai,
Chorou junto comigo, ficou ali, do meu lado: paciente!

Aos trinta, Ele ajudou-me a escolher a companheira,
Até os sessenta, sempre comigo: meu amigo!
Para vê-lo é necessário muito amor,
Ele só aparece na hora do perigo.

Ora, vós pensais que estou maluco,
Falando-vos Deste Ser tão divino,
É Natal; sempre me lembrarei Dele,
-Como esquecer meu protetor – Jesus Menino?

Ele mora comigo; dentro de mim!
Olhar dentro de meus olhos e tudo o mais … .
Hoje o encontrei macambúzio, talvez
Pensando nas pessoas que perdi nesses natais … .

O aniversário Dele está chegando,
E este ano eu não posso dar-LHE um presente… .
Perguntei-lhe hoje: – por quê estás junto comigo,
Por tantos anos, com saúde ou doente?

Disse-me Ele: você não é perfeito, nem um pouco,
Podes crer, tu tens a alma dos poetas
Tu podes errar muito, toda a vida,
Mas alguma rima, verás; que tu acertas!

Depois Ele debruçou-se em meu regaço,
Afagou-me; e pediu que me acalmasse,
E disse-me que amasse minha vida,
Por mais que infortúnios eu passasse.

Disse-me: lá fora, está a aurora,
Mais um dia vem chegando,
Vem a Mim, que te sigo sempre,
Vem, confia: sua sorte está mudando!

Mesmo sem saber por que,
Suas palavras me acalmaram ao final.
Duas lágrimas minhas, Nele respingaram,
Compreendi: Ele me avisava que já era Natal.

E essa criança tão humana quão divina
E esta minha quotidiana vida de poeta,
Procuro não ter minha alma pequenina
Procuro a prosa e a rima que, em mim, Ele desperta.

E é porque ele anda sempre comigo,
É que vejo a vida como poeta e sonhador,
E o Seu mínimo olhar me enche de sensação,
De que o próprio universo, fala comigo com amor.

A Criança Nova que habita meu ser e meu coração,
Dá uma mão a mim e a outra a tudo que existe,
O mundo, eu e o Deus Menino; vamos os três,
Levando ânimo e alegria para quem é triste.

E assim vamos os três pelo caminho da existência,
Saltando, cantando, rindo; gozando o nosso segredo,
Vamos tentar encantar o mundo; em toda a parte,
Pois vale muito a pena, se viver sem medo.

A Criança Eterna acompanha-me sempre,
A direção do meu olhar é a mesma do seu dedo,
O meu ouvido atento, alegremente recebe os sons,
Das coisas que Ele sempre me diz em segredo.

Ele faz cócegas em meus ouvidos,
Juntos jogamos futebol, em campo de relva macio,
Mas, a bola que é o mundo, Ele a sustém,
Por todos os meus dias, por tantos anos a fio… .

Grave, Ele segura a bola do mundo com as mãos,
Ao mesmo tempo em que me fez agora poeta,
E como o perigo é grande, se a bola cair ao chão,
Por isso Ele me incita viver a vida de modo correta.

Depois eu conto-lhe histórias dos homens
Ele me sorri, porque para Ele, tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis, nem rainhas,
E tem pena de ouvir as lamentações minhas.

                                                                     
                                           MENINO JESUS ENTRE OS DOUTORES

 Depois que Ele adormece, deito-o em minha cama,
E levo-o ao colo para dentro do meu coração,
Ele dorme dentro da minha alma, que reclama,
Velo por Ele, noite e vida adentro; com toda devoção.

Mas, às vezes Ele acorda em meio à noite,
Bate palmas, faz piruetas, sorri; me acena,
Enquanto meu coração sofre açoites da vida,
Ele faz com que minha tristeza seja pequena.

Ele está em toda a parte; é onipresente,
Está no campo, nas aldeias, nas cidades,
Ele está em nossos corações por todo o sempre,
Para saciar as nossas necessidades.

                 SÃO PAULO-BRASIL-NATAL 2010-AVENIDA PAULISTA-PARQUE TRIANON

Peço hoje a Ele, que no ocaso da vida,
Que Ele me leve à sua divina casa e à sua cama,
Que me conte histórias, dê-me sonhos, para eu brincar,
E possa, enfim, descansar junto a quem me ama… .

Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.