Segundo a Folha, o governador Geraldo Alckmin promete obras para o próximo verão e joga a culpa no colo de seu antecessor, José Serra. O jornal lembra que seu partido está há 16 anos no comando do estado e que o próprio Alckmin, em mandato anterior, realizou uma obra bilionária de rebaixamento da calha do rio Tietê, com a promessa de acabar com as enchentes.

"O que deu errado?" questiona a manchete no caderno "Cotidiano", da Folha, acrescentando a resposta: "faltou alerta" para fechar as ruas alagadas e "faltou fiscalização" para evitar a ocupação de morros e outras áreas instáveis.

A palavra

Um jornalismo cheio de dedos impede que se declare a verdade: faltaram competência e sensibilidade.

Para se ter uma idéia de como os problemas são vistos com olhos diferentes conforme os personagens envolvidos, basta lembrar que, por muito menos, os jornais ainda tascam nas manchetes a expressão "caos aéreo" a cada atraso de vôo em algum aeroporto brasileiro.

A imprensa adotou a expressão após o acidente com o Boeing 737 da Gol, que se chocou em pleno vôo com um jato executivo Embraer Legacy, em 29 de setembro de 2006. O afastamento de oito controladores de vôo para investigações deflagrou naquela ocasião uma "operação padrão" em aeroportos de todo o país, causando sucessivos atrasos e cancelamentos.

O caderno "Metrópole" do Estadão também cobra a responsabilidade do governador e do prefeito, lembrando que os locais alagados são conhecidos há 24 anos, relata os dramas de muitas famílias e diz que as verbas para canalizações de córregos foram reduzidas.

A situação é descrita como caótica, mas em nenhum momento os jornais abrem manchetes sobre o "caos urbano".

Caos deve ser apenas o aéreo, e conforme quem esteja no governo, é claro.

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Fonter: Observatório da Imprensa