Andy indagava se os recursos limitados eram coerentes com o contínuo crescimento econômico, e como esse crescimento se pareceria. Minha resposta, dada de improviso, foi esta:

A maneira como vejo a questão é que isso tem a ver com uma mudança de critério, de toneladas de coisas para a qualidade. Você tem um pequeno veículo elétrico (movido a energia solar) em vez de um utilitário esportivo, mas ele anda muito bem e tem um excelente sistema de entretenimento embutido.

Você vive num apartamento ou numa casa numa vila, e não numa mansão, mas sua cozinha é controlada por ondas cerebrais pelas quais são elaborados pratos de alta gastronomia sob encomenda. E, se fizermos a contabilidade do PIB correta, o que teremos à mostra será um crescimento econômico.
A questão, neste caso, é que o PIB não é o único objetivo da existência humana; mas sim que, mesmo que o PIB seja muito menos um dado mecânico do que muitas pessoas imaginam, é bem possível que o PIB real medido aumente mesmo que o volume físico da produção não tenha mudado tanto. Alan Greenspan costumava dar palestras sobre como o PIB estava ficando mais leve; apesar da fonte, ele tinha razão.

Você pode ver parte deste efeito no comércio mundial. O volume das transações globais aumentou muito nos últimos 40 anos – quase 250%, se eu estiver lendo esses dados corretamente (quem tiver uma fonte melhor sobre o volume físico do comércio ou do PIB, por favor, sinta-se livre para me informar). Mas o “volume” de negócios medido pela Organização Mundial do Comércio – com base na mesma metodologia que usa os preços constantes, usada para o PIB – aumentou duas vezes mais.

O que estamos observando hoje no comércio mundial é uma mudança para mais produtos eletrônicos e de alto valor em relação ao peso*; mas o fato é que o PIB real não significa necessariamente toneladas ou BTUs e pode continuar aumentando, mesmo na maneira como fazemos a contabilidade hoje, num mundo de recursos naturais limitados.

*Remontando a 1982-1983, quando passei um ano no Conselho de Assessores Econômicos, estive em contato com o pessoal do Departamento de Agricultura, que andava muito interessado em promover exportações de produtos agrícolas de “alto valor”. Me perguntei: Alto valor pelo quê? A resposta era: por libra. No topo da lista estava, eu acho, material para inseminação artificial de gado…

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Fonte: O Estado de S. Paulo