A tese de Doutorado intitulada "A Constituição de 1988, as reformas e o jornalismo de campanha", defendida na Faculdade de Comunicação da UFBA, deu origem à obra "Jornalismo de campanha e a Constituição de 1988", editada pela EDUFBA em parceria com a Assembléia Legislativa da Bahia. O livro será lançado na Bahia no próximo dia 28 de janeiro, às 18h, na Livraria Cultura (Shopping Salvador).

Na ocasião, estará sendo lançada também a 2ª edição do livro "Imprensa e Poder – ligações perigosas", pela mesma EDUFBA, baseado em sua dissertação de Mestrado, na mesma linha de pesquisa, em que analisa o comportamento da mídia na CPI do PC Farias e impeachment de Collor. Aqui, o autor critica a complacência do jornalismo brasileiro, de um lado, e celebra o episódio da investigação jornalística que levou ao impeachment de Collor, de outro. Em anexo, estão depoimentos de protagonistas c omo Clóvis Rossi, Bob Fernandes, Gilberto Dimenstein e João Santana Filho.

Em "Jornalismo de campanha e a Constituição de 1988", Emiliano José parte de uma premissa: a imprensa brasileira constituiu-se em elemento essencial, ancorada no seu vasto arsenal discursivo, na caracterização da Constituição de 1988, desde que ela foi promulgada, como um OBSTÁCULO ao desenvolvimento do País. Ou seja, a imprensa foi ator decisivo na desconstrução da Constituição Cidadã, inserida no processo de imposição do projeto neoliberal, com claro programa político, a serviço dos interesses das classes dominantes.

Emiliano caracteriza o jornalismo brasileiro como um dos mais partidarizados do mundo. As famílias oligárquicas que controlam os meios de comunicação monopolizam o discurso político no Brasil. Elas rejeitam, pelo menos nos últimos 50 anos, uma atitude positiva em relação a governos reformistas e democráticos. "Nem é preciso lembrar Vargas, Goulart e as articulações que resultaram no golpe militar de 1964, a conivência com a ditadura. Basta que nos lembremos da rejeição ao presidente operário Lula".

A versão contemporânea do "jornalismo de campanha" pesquisado por Emiliano José começa na Era Collor, assume a ideologia neoliberal, demoniza as empresas estatais, santifica as empresas privadas, o estado mínimo e o deus-mercado, faz um impressionante lobby por reformas anti-trabalhistas e antissociais, como o desmantelamento da Previdência, receitua o enterro do nacional-desenvolvimentismo. Para formar a opinião pública, constrói o cenário do caos e adota a perversão da linguagem: antirreforma significa reforma, privatizar significa modernizar, estatizar é atraso, demissão é enxugamento. O pensamento único instala-se no jornalismo.

Na Nota do Autor, ele futuca a Rede Globo. Prega a ética singular do cidadão comum para o jornalista: não mentir, não inventar, não produzir matérias à base do "testar hipóteses". "Como explicar porque a Rede Globo havia dito que o presidente Lula era CULPADO pela morte de quase 200 pessoas no acidente da TAM?". Testam-se hipóteses, mente-se e se a mentira não colar, a imprensa continua a vida numa boa, sem pedidos de desculpas, repete sempre.

O professor vislumbra mudanças, poucas. Ele destaca o surgimento do jornalismo eletrônico, blogs como os de Paulo Henrique Amorim, agências como Carta Maior, CartaCapital, Caros Amigos. Entidades que mostraram "o outro lado", desmascarando calúnias, mentiras e reportagens plantadas com o objetivo de desestabilizar o presidente-operário, a exemplo do dossiê das ambulâncias. Agora, deputado federal, Emiliano aponta o caminho da democratização das mídias, sem a qual não haverá democracia.

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Oldack Miranda é jornalista.

Fonte: Terra Magazine