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    Comunicação

    Leitura de domingo

    Li deitado todo um calmo domingo. Eu no meu leito tranqüilo, minha suave cabeceira, meu cobertor bem limpo, tocando pedra, lodo, sangue, carrapato, sede, urina, asma: índios calados que não entendem, soldados que não entendem, senhores teorizantes que não entendem, operários, camponeses que não entendem. Acabas de ler, ficam fixos teus olhos em que lugar […]

    POR: Nicolás Guillén

    Li deitado
    todo um calmo domingo.
    Eu no meu leito tranqüilo,
    minha suave cabeceira,
    meu cobertor bem limpo,
    tocando pedra, lodo, sangue,
    carrapato, sede,
    urina, asma:
    índios calados que não entendem,
    soldados que não entendem,
    senhores teorizantes que não entendem,
    operários, camponeses que não entendem.

    Acabas de ler,
    ficam fixos teus olhos
    em que lugar do vento?
    O livro ardeu nas minhas mãos,
    eu o pus logo aberto,
    como uma brasa pura,
    sobre meu peito.
    Sinto
    as últimas palavras
    subir desde um grande buraco negro.

    Inti, Pablito, o Chino e Aniceto.
    O cinturão do cerco.
    O rádio do exército
    mentindo.

    Aquela lua pequenininha
    pendurada suspensa
    a uma légua de Higueras
    e duas de Púcara.
    Depois o silêncio.
    Não há mais páginas.
    Isso fica sério.
    Isto se acaba logo.
    Termina.
                               Vai se acender.
    Se apaga.
                                Vai nascer.

    Páginas Cubanas, tradução de Emir Sader – São Paulo: Editora Brasiliense, 1985, pág. 150.

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