Na época os indicadores da companhia eram tímidos, e sua produção de petróleo era irrelevante comparada às necessidades do país. Carlos Tadeu Fraga, gerente executivo do Cenpes, conta que o principal objetivo do laboratório, construído na mesma área da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), era “dominar o conhecimento, os fundamentos físicos, químicos de todos os fenômenos que existem na indústria do petróleo”. O segundo, de formar recursos humanos preparados para dialogar em pé de igualdade com profissionais dos fornecedores internacionais.

O período que remonta o final dos anos 1970 e início de 1980 foi decisivo na história da companhia e do Cenpes, quando ocorreram as duas grandes crises do petróleo com o choque de preços, obrigando a Petrobras a aumentar seus esforços na procura de reservas dentro do país. O trabalho resultou na descoberta de óleo e gás na Bacia de Campos, mas que demandavam tecnologias não disponíveis na indústria mundial, pois as reservas situavam-se abaixo de rochas submersas em águas profundas.

“As descobertas levaram a Petrobras a realizar uma enorme articulação nos ambientes nacional e internacional, com universidades, centros de pesquisas e fornecedores, para a formação desse conjunto de tecnologias inéditas na época”, explica Fraga.

A fabricação de equipamentos e sistemas para exploração de petróleo em águas profundas foi realizada, predominantemente, no exterior, apesar da aplicação ter se dado, predominantemente, dentro do país e com a participação de pesquisadores do Cenpes.

Fraga acredita que com o pré-sal o país terá que ser mais ambicioso e aumentar o volume de tecnologias e processos realizados em território. O pré-sal brasileiro é considerado a descoberta mais relevante de óleo e gás no mundo, nos últimos 6 anos, com um porte equivalente a área de produção do Golfo do México, descoberta há 40 anos. A exploração do reservatório demandará inovações tecnológicas, produtos do setor de fabricação de bens e fornecimento de serviços, além de mão de obra qualificada para atender todos os setores ligados a produção e exploração de óleo e gás.

As atividades na área de P&D da Petrobras aumentaram 5 vezes entre 2001 e 2010, e entre 2006 e 2010 a companhia investiu R$ 1,8 bilhão em parcerias com universidades e instituições de pesquisa. O montante foi determinado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) que obriga, desde 2005, que 1% da receita bruta proveniente de campos onde a Petrobras tem participação especial seja investido em pesquisa e desenvolvimento – sendo 50% do total aplicado em instalações da própria concessionária, e 50%, obrigatoriamente, em universidades e institutos de pesquisa credenciados pela ANP.

Em 2008, a Petrobras foi considerada a terceira entre as 5 petrolíferas que mais investem em P&D no mundo – Shell foi a primeira seguida da PetroChina.

Estratégia

Os investimentos em infra-estrutura de laboratórios ligados ao Cenpes foram realizados em complemento as ações do Ministério de Ciência e Tecnologia, através de fundos setoriais, como FINEP. Fraga diz que graças a parceria e a determinações da ANP, nos últimos 4 anos foi possível constituir em universidades brasileiras laboratórios equivalentes aos melhores laboratórios do mundo.

Para tanto, a companhia identificou 50 temas tecnológicos de interesse para o desenvolvimento da indústria do petróleo, em seguida procurou por universidades ou institutos de pesquisa do país que tinham competência ou potencial para desenvolver essas áreas. Por último se perguntou onde estavam os melhores laboratórios que tratavam desses temas no mundo para analisar e repetir os modelos no Brasil.

“Construímos através disso um laboratório que é referencia mundial na Universidade Federal de Alagoas, centro de altíssima competência em cálculos estruturais complexos. Por conta disso que temos, também, na USP, Unicamp e UNESP, laboratórios dos mais sofisticados no mundo”. A área total desses laboratórios que hoje pesquisam para a Petrobras já representa 4 vezes o tamanho do laboratório do Cenpes, considerado maior centro de pesquisas aplicadas do hemisfério sul e um dos maiores do mundo.

Os investimentos realizados na expansão da infra-estrutura de centros de pesquisa resultaram em três grandes benefícios, segundo Fraga. O primeiro foi a redução do tempo de espera de ensaios encomendados pela companhia, antes feitos em laboratórios do exterior. Muitas vezes a Petrobras tinha que ficar numa fila de espera junto com outras empresas como Exxom e Shell.

O segundo benefício foi a redução de custos, com serviços não mais pagos em dólar ou em outras moedas. E o terceiro benefício, considerado por Fraga mais importante, é ligado à atração de recursos humanos talentosos para as universidades e centros de pesquisa.

"A gente costuma brincar que quando o dia está pesado no Centro [de Pesquisas Tecnológicas] da Petrobras a melhor coisa a fazer é dar uma circulada num laboratório desses e encontrar 50 rapazes e moças trabalhando num tema tecnológico da fronteira do conhecimento, e que vai fazer diferença para a Petrobras e a sociedade brasileira, com os olhos brilhando mais do que aquele refletor que está nos iluminando", conta.

Apenas o Cenpes, possui hoje cerca de 1.600 pesquisadores, sendo 50% do contingente mestres e 25% doutores, mais da metade com menos de dez anos de experiência e a outra metade com mais de 25 anos de experiência.

Segundo levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que analisa as 50 redes de pesquisa que unem Cenpes, universidades e institutos, existem dez pesquisadores na academia trabalhando em áreas de interesse da Petrobras para cada 1 pesquisador trabalhando dentro das dependências da companhia.

O trabalho indica, ainda, que a produção científica para a Petrobras de pesquisadores internos nas universidades é em média 40% superior em relação a produção científica do pesquisador médio das universidades brasileiras, “desmistificando um pouco a dúvida que muitas vezes surge quando você tem um pesquisador na academia trabalhando um problema industrial, imaginando-se que isso vai reduzir a produção científica”, pontua Fraga.

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As informações utilizadas para produção desse texto foram tiradas de palestra dada por Carlos Tadeu Fraga, durante o 5ª Fórum de Debates Brasilianas.org.

Fonte: Brasilianas.org.