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    Comunicação

    Carta de Idalzira para Joan

    Glosa: “Eu vivo nesta cidade Para cumprir minha sina Nunca gozei nesta vida Pois sofri desde menina” Peço para me escutar Porque minha história é triste Não sei como se resiste Tanta mágoa a enfrentar Comecei a trabalhar Com poucos anos de idade Criei-me na orfandade Enfrentei um golpe fino Para cumprir meu destino Eu […]

    Glosa:
    “Eu vivo nesta cidade
    Para cumprir minha sina
    Nunca gozei nesta vida
    Pois sofri desde menina”

    Peço para me escutar
    Porque minha história é triste
    Não sei como se resiste
    Tanta mágoa a enfrentar
    Comecei a trabalhar
    Com poucos anos de idade
    Criei-me na orfandade
    Enfrentei um golpe fino
    Para cumprir meu destino
    Eu vivo nesta cidade

    Papai foi que nos criou
    Mas nunca nos deu madrasta
    Pois de sofrimento basta
    O que o destino mandou
    Papai muito trabalhou
    Com ajuda da mão divina
    Numa cidade pequenina
    Viver pobre como Jó
    Morreu e me deixou só
    Para cumprir minha sina

    Depois veio o casamento
    Que era a última esperança
    Porém uma brisa mansa
    Que soprava igual ao vento
    Não escolhia momento
    Pra me deixar nesta lida
    Numa existência sofrida
    Que é duro de se imaginar
    Por isto eu vou lhe contar
    Nunca gozei nesta vida

    Cinco filhos eu criei
    Com um trabalho danado
    Mas foi bom o resultado
    De um a um eduquei
    Com o pouco que ensinei
    Tornaram-se gente fina
    Todos cumpriram a sina
    Foram embora trabalhar
    Não adianta reclamar
    Pois sofri desde menina

    Cedro, 05 de junho de 1990

    Cordel Umbilical: Correspondência Poética e outros escritos – Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2010, pág. 44.

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