Houve avanço expressivo também na formação de doutores e mestres. Em 1987 formavam-se 5 mil por anos; no ano passado, foram 50 mil.

Especialmente nos últimos anos, houve notável desconcentração nos cursos de pós-graduação, com crescimento expressivo no centro-oeste, norte e nordeste. No norte havia 19 cursos de doutorando formando 340 doutores por ano. Depois do governo Lula, formam-se 1.400. Mesmo assim, a região toda tem 3.500 pesquisadores, menos que a USP.

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Agora, trata-se de perseguir um modelo que permita concatenar formação profissional, estímulo às pesquisas e coordenação com as demandas do setor produtivo.
Não se pretende tocar na autonomia universitária nem na liberdade de produção científica. Mas entende-se que a Universidade precisa sair da torre de marfim e trabalhar com mais agilidade o tema inovação. Para tanto precisarão ser erguidas pontes entre produção científica e espaço de articulação sistêmica e orgânica com a produção.

Na Alemanha existem 59 institutos de pesquisa para os quais a indústria leva problemas concretos para serem trabalhados em pós e em pesquisas.

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O Brasil dispõe de dois modelos maduros, diz Mercadante. Um, o da Embrapa na agricultura. Outro, o Cenpes (Centro de Pesquisas) da Petrobras, com laboratórios em 19 estados.

Aliás, a cadeia de petróleo e gás terá grande impacto nos esforços de inovação do país nos próximos anos. A Petrobras já gerencia 50 redes de pesquisa com 70 instituições produzindo para demandas objetivas da empresa. Hoje em dia a Petrobras fatura R$ 260 bilhões por ano e precisa investir 2% em pesquisa e desenvolvimento.

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Um problema sério é a baixa demanda por inovação por parte do setor privado.

Segundo Mercadante, há uma falsa visão de que a exportação de commodities não contempla o desenvolvimento tecnológico. Há investimento em inovação em pesquisa agrícola, logística etc. Mas evidentemente é pequena a pauta de exportações de produtos de alta e média tecnologia.

Em parte, deve-se ao câmbio apreciado, que encarece a pesquisa em comparação com a compra de máquinas e equipamentos. Mas, diz Mercadante, inovação é a resposta estrutural a essa perda de competitividade, o que vai garantir a sustentabilidade da economia brasileira.

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Há um conjunto de iniciativas em andamento ou em preparação visando conferir nova dinâmica à questão da inovação. Do lado privado, o movimento comandado pela Confederação Nacional da Indústria que teve como auge a Conferência Nacional da Inovação, mobilizando centros no país inteiro.

Negociações com multi

Multinacional que quiser acesso à subvenção, incentivo fiscal ou mesmo financiamentos do BNDES terá que se comprometer com a transferência de tecnologia a implantação de centros de pesquisa no país. Foi esse o centro de negociações com a IBM e a GE brasileiras, nas quais o governo ajudou as filiais a conquistarem a instalação de laboratórios aqui, competindo com outras subsidiárias mundiais.

Desburocratizando a importação

Um dos grandes desafios será a desburocratização das importações de material de pesquisa. Por ser isenta de impostos, é alvo preferencial da Receita e da Anvisa. Agora, foi constituído um grupo interministerial para criar um modelo de atuação concentrado em determinados portos e aeroportos. Esse grupo será formado por especialistas (beneficiados com bolsas do CNPq) e os centros de pesquisa serão estimulados a importar por lá.

Prioridades

Na formação profissional está havendo mapeamento de carências relevantes. Como a engenharia. Por aqui se forma um engenheiro para cada 50 formandos; na Coreia, essa proporção é de um para quatro. A botânica é outra área que exigirá cuidados estratégicos. Há oferta muito baixa de pesquisadores especialmente na Amazonia. Há grande demanda pela área de biotecnologia, mas o setor não se desenvolverá se não houver o trabalho de base da botânica.

Importação de cérebros

O IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) está na frente de grandes centros internacionais. Recentemente, abriu 6 vagas de pós-doutorados para candidatos do mundo inteiro. Recebeu 97 inscrições, 13 dos EUA, 11 da Índia, entre outros países. Para a vaga de pesquisador, candidataram-se 86 alunos do mundo inteiro. Agora, o MCT pretende repetir a experiência da Unicamp, que vem abrindo vagas de docentes para professores do mundo inteiro.

A experiência da Unicamp

A Unicamp espalhou anúncios nas principais revistas científicas do mundo todo, convidando pesquisadores professores titulares para vir ao brasil. Recebeu 200 currículos que foram apresentados a cada unidade para definir o plano de pesquisa. O professor selecionado foi convidado para uma pesquisa, com contrato de dois anos. O MCT pretende repetir essa experiência em outros centros.

O fator Nicolelis

O neurocientista Nicolelis não é apenas dos maiores cientistas brasileiros, mas também um empreendedor científico de peso. Terá papel central em alguns projetos que estão sendo tocados em sigilo no Ministério. Um deles, uma universidade na região da tríplice fronteira na qual alunos argentinos, brasileiros e paraguaios aprenderão ciência convivendo entre si. O segundo projeto, uma Comissão de Ciência do Futuro, cujos detalhes ainda estão em segredo.