Na plateia, militantes e dirigentes acompanharam um relato vivo sobre o cenário europeu e especialmente italiano, marcados pela crise do capitalismo e pelo desgaste político do governo de Silvio Berlusconi, cujo pico foi atingido nos últimos meses após denúncias envolvendo escândalos sexuais. A mesa foi coordenada pelo secretário de Relações Internacionais, Ricardo Abreu Alemão. O presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, e o editor do Vermelho, José Reinaldo Carvalho, também marcaram presença.

Abrindo os debates, Fabio Amato disse que “a crise pode resultar em quebra da União Europeia”. O mercado comum, desde sua implantação, mostra-se incapaz de lidar tanto com as questões nacionais de cada país como para enfrentar cenários adversos de caráter global. Além disso, baseado apenas em relações comerciais, coloca em evidência uma política neoliberal e monetarista, cujos limites ficaram ainda mais evidentes com a atual recessão.

Para Amato, um dos grandes problemas atuais são as saídas buscadas pelos governos do Velho Continente. “Eles pagam as dívidas privadas, aumentam as dívidas públicas, cortam os benefícios sociais, os salários e penalizam os trabalhadores, o que, claro, resulta em recessão”. Ele lembrou ainda que a Itália tem hoje uma das maiores dívidas públicas do mundo, na casa dos 120%.

Segundo ele, o momento pode resultar tanto em saídas pela direita quanto pela esquerda. “Portanto, o desafio das esquerdas na Europa é criar uma frente social e política antineoliberal porque a capacidade de a esquerda dar respostas aos problemas atuais é, ainda, muito limitada”.

Por outro lado, o dirigente italiano destacou que na crise “aumenta a capacidade de mobilização dos setores sociais. Muitas vezes, a dificuldade é criar vinculação entre essa reação e uma proposta política concreta, construindo uma esquerda atualizada e autônoma”.

Em sua fala, Marco Consolo resgatou um pouco da história recente da esquerda na Itália. Lembrando da participação do seu partido no governo de Romano Prodi, disse que “chegamos ao governo numa forte onda antiglobalização e na ascensão dos movimentos sociais e achamos que isso seria suficiente para nos dar condições de governabilidade. E foi nosso maior erro”.

Além disso, destacou, “os movimentos se desmobilizaram diante do ‘governo amigo’ e em certa medida perderam autonomia. De nossa parte, sofremos da ‘enfermidade governista’, de uma institucionalização do partido que passou a ter suas decisões tomadas não pelas suas próprias instâncias, mas dentro do governo”. Para Consolo, o principal desafio neste momento para a esquerda italiana é “resgatar a credibilidade frente aos movimentos sociais, ao povo e criar novos instrumentos partidários”.

Quanto a Berlusconi, disse que sua política é de uma linha fascista “mais soft porque não precisa de tanques e armas, uma vez que dispõe da televisão e que conta com um tipo de populismo racista”.

Segundo Consolo, a direita – não apenas na Itália – se organiza hoje através da mídia e qualquer processo de mudança terá o ataque frontal dos meios de comunicação”. Por tudo isso, finalizou, é urgente a união e o fortalecimento da esquerda, e de uma ampla frente democrática e antineoliberal para forjar uma alternativa ao “berlusconismo”.

Da redação