Egito: Uma revolução popular por uma junta militar?
Se, contudo, a situação evoluir conforme demonstra neste momento, então, o lucro da revolução – a derrubada de Mubarak – deverá se comprovar, totalmente, não correspondente para com a magnitude do caráter popular da revolução.
Vista de forma rigorosamente fria, a situação é a seguinte: até o presente momento o resultado da insurreição foi livrar o povo egípcio do regime de Mubarak e empurrar-lhe – goela abaixo – uma junta militar, composta de pretorianos do regime de Mubarak, felizmente, sem ele.
O exército egípcio era detentor do poder antes, e o exército egípcio continua sendo detentor, também, agora, aliás, com sua feição mais crua, sem parlamento e sem Constituição.
Supõe-se que o mesmo regime que estrangulou a democracia no Egito durante, pelo menos, 40 anos, o mesmo regime conduzirá o país à redemocratização! O esquema é visivelmente estúpido, mas, curiosamente, é também diabólico. É também absolutamente seguro que a percepção sobre democracia dos generais do regime ditatorial e atuais componentes da junta é totalmente diferente daquela do povo rebelde.
Se, então, a junta militar for deixada totalmente livre e desimpedida para definir esta feição e conteúdo da nova democracia egípcia, aquilo que surgirá não terá nenhuma relação com aquilo com que sonharam os heróicos insurgentes da Praça Tahrir e o sacrifício de centenas de mortos terá sido em vão.
Ligado a EUA e Israel
Sequer para salvar as aparências, a junta militar não julgou necessário compor uma governo de unidade nacional constituído de civis, representantes primeiramente dos insurgentes, algumas personalidades e forças da existentes oposição. É absurdo, mas, neste momento, o Egito está sendo governado pelo governo que deixou Mubarak antes de ser derrubado, e agora com poderes ditatoriais.
O ditador do país hoje, marechal-de-campo Mohammed Houssein Tandawi, que desempenhou por 20 longos anos o cargo de ministro da Defesa do regime de Mubarak e antes havia sido chefe dos pretorianos da guarda presidencial, de 1988 até 1991. Trata-se de um elemento de absoluta confiança dos EUA e do Estado de Israel.
A vida se encarregará de mostrar se o exército egípcio buscará eternizar seu poder por intermédio de legalização de partido ou de partidos que manterá sob seu controle. A vida, igualmente, mostrará se o povo do Egito aceitará uma tal evolução rumo às eleições sob o controle absoluto do exército ou se exigirá um governo civil de unidade nacional, a fim de garantir uma mais essencial e mais profunda redemocratização.
O rigorosamente seguro é que as até o presente momento evoluções não criam nenhum risco para a continuação da política externa de submissão do Egito aos EUA e ao Estado de Israel, porque desde que o poder continuar completamente nas mãos do regime militar, nada muda e, nada mudará no Egito.
Medidas superficiais
Obviamente, ninguém poderá saber hoje como evoluirá a marcha da redemocratização do Egito, a qual definirá também a possibilidade de existir, teoricamente, uma coalizão governamental que se harmonizará com a vontade do povo egípcio e que desdenhará o ignominioso acordo de paz do Egito com o Estado de Israel. A ver.
Há também um enigma: como se manifestarão os insurgentes? Fator desconhecido e desestabilizador para cada planejamento relativo às evoluções políticas egípcias é finalmente o como se manifestarão política e eleitoralmente os milhões de egípcios que se rebelaram.
O caráter social da insurgência e a total impossibilidade de revelação de algum vetor de liderança política deixaram sem resposta a seguinte pergunta: poderá alguém ou alguns expressarem politicamente as disposições e as expectativas dos irados egípcios?
Se sim, então no Egito e em todo o Mundo Árabe haverá um terremoto político. Se não, então, essencialmente, nada mudará, além de algumas medidas superficiais de redemocratização, indiferentes para o resto do mundo.
* na Africa News Agency
Fonte: Monitor Mercantil