Seja como for, na minha experiência pessoal os trens são a mais libertadora das três formas de transporte mecanizado que costumo usar. Os aviões são péssimos: os invasivos procedimentos de segurança, a obrigação de desligar os aparelhos eletrônicos na decolagem e na aterrissagem, a falta de algum lugar para ir no caso de querermos nos levantar.

Os carros – bem, se deixarmos de lado os engarrafamentos (diga-me o quanto você se sentiria livre esperando durante uma hora na fila para entrar no Lincoln Tunnel), o grande problema dos carros está no fato de termos de dirigi-los, o que nos impossibilita de fazer outras coisas.

Mas, a bordo de um trem, posso ler, ouvir música, acessar a internet por meio da conexão sem fio do computador, levantar e ir até o vagão refeitório para saborear iguarias de terminal; ah, e não tenho de me submeter às restrições da Guerra aos Líquidos.

Quando posso, prefiro viajar de trem até Boston, por exemplo, mesmo que isto me tome algumas horas a mais, simplesmente porque o tempo é mais bem aproveitado assim.

É verdade que os trens só partem em determinados horários; se amanhã eu quisesse ir de trem do belo centro de Trenton até Washington, teria de escolher entre os 21 horários de partida, separados por intervalos de aproximadamente uma hora, ou menos, ao passo que, se viajasse de carro, eu poderia partir a hora que quisesse. Grande coisa.

E nem me pergunte sobre a liberdade de movimento que sinto em Nova York, onde o metrô nos leva praticamente a toda parte, em comparação a, digamos, Los Angeles, onde temos de nos preocupar constantemente em evitar o trânsito e encontrar uma vaga para estacionar.

Assim, se os trens representam um coletivismo desalmado, podem me incluir nessa.

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Fonte: O Estado de S. Paulo