(Luanda, 1979 – o angolano)
Entre os heróis aprendidos nos bancos escolares, dou preferência ao índio Poti, ao negro Henrique Dias, dois brasileiros, empunharam armas ao lado de escassos patriotas portugueses, puseram a correr os holandeses – a corte portuguesa já dera a colônia perdida.
Em Luanda, uma das faces da Bahia, a outra é Lisboa, o diretor do Museu Histórico, Henrique Abrantes, exibe-me troféus de guerra, alguns de épocas remotas, outros da luta recente pela independência. Ao ouvir-me citar o nome de Henrique Dias, perguntou-me se eu sabia que o negro, personagem da história do Brasil, era natural de Angola. Espanto-me, não sabia, pensava-o filho de africanos nascido em senzala do nordeste. Nasceu aqui, garante-me o diretor, apóia-se em documentos, pode exibi-los se eu quiser, dispenso.
Conta-me uma história que dá nova dimensão ao herói do manual de História do Brasil. A expedição militar que saiu do Rio de Janeiro com o objetivo de expulsar os holandeses de Angola deveria ter contado com a bravura e a competência comprovadas de Henrique Dias. Designado capitão do batalhão dos negros, importante troço das tropas, na última hora foi destituído do comando e afastado da viagem.
Os secretas a serviço do governo da colônia haviam descoberto um plano subversivo, trama do angolano – Henrique Dias não pretendia se limitar à expulsão dos holandeses, seu projeto libertário era botar para fora de Angola os invasores batavos e na mesma vassourada os colonizadores lusos, proclamar a independência.
Aqui fica a informação como a recebi, nem tirei nem acrescentei, eu a deixo aos cuidados dos doutos da categoria de Thales de Azevedo, José Calasans, Dias Tavares, ou seja, Luiz Henrique.
Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei – Rio de Janeiro: Record, 1992, pág. 144.