Numa resenha desta obra, a professora Sofia Manzano escreve: “Nos marcos da comemoração de seus 90 anos, um grupo de autores e militantes brasileiros se propôs a dar continuidade ao processo de análise e debater sobre os acontecimentos que a revolução soviética desencadeou, como experiência, para aqueles que sabem que o capitalismo jamais seria o fim da história. O primeiro resultado desse debate está contido no livro lançado neste mês pela Editora Quarteto, Outubro e as Experiências Socialistas do Século XX”.

O livro, organizado pelo professor Milton Pinheiro, é plural, pois conta com a colaboração de intelectuais de diversas tendências do interior do marxismo e do movimento socialista brasileiro. Entre eles se encontram Marly Vianna, Lincoln Secco, Marcos Del Roio, Virgínia Fontes, Muniz Ferreira, Mauro Iasi, Augusto Buonicore, Renildo Souza, Ricardo Moreno, Henrique Carneiro e Ricardo Costa.

Ainda segundo Manzano: “O debate apresentado nesse livro, pelo seu engajamento e compromisso, constitui um rico conjunto de posições e análises que certamente contribuirá para dar seguimento aos movimentos transformadores da sociedade. Como o capitalismo e suas crises trazem apenas o aprofundamento da barbárie, a revolução dessa ordem é um imperativo para a emancipação humana. Nesse sentido, conhecer o passado é o elemento crucial para a ação do presente e a construção do futuro”.

O Grabois.org publica abaixo a apresentação feita pelo organizador e o sumário da obra.

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OUTUBRO E AS EXPERIÊNCIAS SOCIALISTAS DO SÉCULO XX

APRESENTAÇÃO

Prof. Milton Pinheiro – Coordenação. do Cemarx – Universidade Estadual da Bahia .

Em novembro de 2007, nos marcos das comemorações dos 90 anos da Revolução Russa, o CEMARX da universidade do Estado da Bahia, através do DEDC II, realizou um seminário sobre os 90 Anos da Revolução Bolchevique, já que esse movimento tornou-se um marco decisivo para o que ocorreu no século XX e contribuiu para mudanças profundas na vida do povo russo e lançou bases para a expansão do socialismo em várias partes do mundo.

O primeiro ciclo do socialismo compreendeu 72 anos de construção de um amplo campo socialista, marcado não apenas pela revolução russa de 1917, mas também pela instalação de governos no Leste Europeu, no pós-guerra, e as revoluções na China, Vietnã, em Cuba e em outros países. Esse amplo movimento que foi um divisor de águas, no campo da política, no século XX, constituiu um bloco de partidos comunistas que lutavam em seus países, para transformar a realidade social, impulsionando as lutas dos trabalhadores, incentivando o florescimento da cultura e da ciência e indicando a necessidade histórica da emancipação humana.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a URSS foi decisiva para a derrota dos nazistas, o que contribuiu em muito para a possibilidade da democracia no planeta. Até a década de 1960, a economia do socialismo cresceu significativamente, mais do que o chamado bloco capitalista. A URSS chegou a apresentar taxas de crescimento anual do PIB de 18%. Tornou-se a primeira nação a lançar o homem para fora da órbita terrestre, melhorou significativamente a vida de seus cidadãos. Foram feitos inimagináveis se levarmos em consideração a situação de pobreza e fome que passava aquela nação durante os anos pré-revolucionários. Anos marcados pelo monopólio da terra em mãos de aristocratas fundiários, pelo controle e atraso cultural promovido pela igreja ortodoxa e por uma estrutura política despótica que era dirigida pelos czaristas.

Ao lado disso, paralelamente, o capitalismo atravessou o século XX carregando consigo contradições objetivas. Em sua fase contemporânea aprofundaram-se paradoxos capitaneados pela expansão e internacionalização dos capitais em uma dimensão nunca antes vista, gerando a concentração de riqueza e poder e estabelecendo uma relação de neocolonialismo entre as nações.

O crescimento das forças produtivas, por si só, não elevou o padrão de bem estar e satisfação das necessidades de amplas massas populacionais, apesar de ter proporcionado um crescimento da produção, da riqueza e, consequentemente, de destruição do meio ambiente. Da contradição entre o crescimento produtivo, de um lado, e a expansão da pobreza, por outro, fizeram emergir lutas por afirmação das soberanias nacionais e o aprofundamento dessas contradições trouxe por resultante o acirramento da violência como método social que aproxima os povos da barbárie.

O conjunto desses acontecimentos não passou despercebido aos militantes e aos intelectuais. Vários sujeitos que tiveram papel protagonista nos principais eventos políticos da Rússia e do mundo, a partir de 1917, produziram farta literatura sóciohistórica e polemizaram sobre os fatos que abalaram o mundo contemporâneo depois de outubro. Além disso, cientistas sociais e historiadores fizeram uso de seu ofício para analisar o processo revolucionário que resultou da formação da URSS e seus desdobramentos socioeconômicos, políticos e culturais.

Do debate sobre a diversidade e as experiências socialista no Leste Europeu, na América Latina, na África e na Ásia, formou-se um campo de reflexão sobre a natureza e o caráter do socialismo, trazendo para a cena política e teórica, várias perspectivas analíticas.

O seminário em comemoração aos 90 anos da Revolução Russa, realizado pelo Cemarx da Universidade do Estado da Bahia, contou também, como coordenadores do evento, com a participação do professor Muniz Ferreira, representando a UFBA e, com a participação do professor Ricardo Moreno, representando o Centro de Memória Maurício Grabois, (CMMG). Esse seminário teve a presença de vários intelectuais de universidades brasileiras que contribuíram para analisar e debater a atualidade da luta pelo socialismo, o balanço das fases da economia soviética, os modelos táticos e estratégicos dos operadores políticos, a produção cultural revolucionária na URSS, as experiências socialistas em várias partes do mundo e as causas da derrota na URSS e no Leste Europeu.

Esse seminário serviu de base para a organização do livro que ora apresento. Acrescentei ainda a contribuição de diversos intelectuais e professores, especialmente convidados a refletirem, a partir de suas experiências acadêmicas e políticas, suas análises sobre a questão que nos foi levantada como objeto do seminário: analisar a revolução de outubro e as experiências socialistas do século XX.

Tanto o seminário quanto o presente livro não pretendem esgotar o conjunto das reflexões e pesquisas sobre esse rico período, suas consequências e contribuições que legaram para as lutas dos povos em todo o mundo. Os recortes que nos foram possíveis analisar não tiveram como objeto as chamadas “experiências socialistas” na África, no Vietnã, na Coreia e não entramos no mérito, de forma aprofundada, no rico debate cubano.

Esperamos, assim, que as ricas e plurais análises sobre a temática originária, maturada pelo tempo, seja uma literatura que enriqueça o debate acadêmico e contribua para alavancar as lutas sociais, em especial as lutas de classe.

Gostaria ainda de registrar que, além da contribuição dos professores citados que coordenaram comigo o seminário, contei, na confecção desse livro, com a contribuição acadêmica da professora Sofia Manzano, do Instituto Caio Prado Jr (ICP). Por fim, indicamos ainda o apoio decisivo da Universidade do Estado da Bahia para efetivar a publicação desse livro.

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Sumário

Apresentação
Milton Pinheiro

Prefácio
Virgínia Fontes

A atualidade da Revolução Soviética e a questão do Estado
Mauro Luis Iasi

90 anos da Revolução Russa
Marly de A. G. Vianna

Lênin
Lincoln Secco

Leninismo e a luta pelo socialismo hoje
Augusto Buonicore

A dinâmica geopolítica da internacional comunista
Marcos Del Roio

Outubro e o socialismo no leste, comentários
Milton Pinheiro

Emancipação e retrocesso “bonapartista” na revolução russa e em outras revoluções
Henrique Carneiro

Celebrar outubro, problematizando
Muniz Ferreira

Revolução russa, estado e mercado
Renildo Souza

O movimento comunista internacional pós-1917 e o PCB: os caminhos da luta antiimperialista
Ricardo Costa

Refletindo alguns ensinamentos acerca da experiência do socialismo real
Ricardo Moreno