Duong Nguye Tuong iniciou a palestra dizendo que falava para um partido irmão do Partido Comunista do Vietnã (PCV) e que a intenção era trocar experiências e impressões sobre a edificação do socialismo nas condições concretas de cada país. Ele dividiu a intervenção em três partes: a renovação econômica, o papel do PCV na sociedade e a configuração do Estado e do governo. Explicou que até 1986 seu país seguiu o modelo econômico soviético, o que resultou, com a crise que derrubou aquele sistema, em sérios problemas sociais e políticos.

Foi quando o Comitê Central (CC) do PCV decidiu aplicar a política de renovação, conhecida como “socialismo de mercado”. Segundo Duong Nguye Tuong, tal orientação implicou em considerar algumas vantagens do sistema capitalista, adaptadas às condições vietnamitas. Uma delas é a forma de propriedades, que agrupa o setor privado, o Estado e os investimentos estrangeiros. Mas trata-se de uma economia dirigida, comandada pelo governo sob a orientação do PCV.

Esse arranjo, explicou, deu uma nova dinâmica ao país, substituindo importações e até exportando produtos básicos, como o arroz. Hoje o Vietnã é o segundo exportador desse produto, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Duong Nguye Tuong disse que em 25 anos o país construiu uma economia moderna, avançada e com características típica do socialismo, que cresce em média 7,2% ao ano há mais de 20 anos. Para ele, a socialização do país passou a ser vista como um projeto de longo prazo, planejado e bem alicerçado, de acordo com as peculiaridades vietnamitas.

Denominações

Outro aspecto da renovação, disse ele, é a condução política do país. Houve uma reforma no PCV e no governo para adequá-los à nova orientação econômica. Isso deixou o partido mais forte para liderar a nova fase de desenvolvimento. Essa renovação, explicou Duong Nguye Tuong, consistiu basicamente em superar a prática de copiar o modelo soviético e adotar uma política em consonância com a realidade vietnamita. Não foi uma tarefa que exigiu grandes esforços porque o PCV tem uma cultura de adaptar-se às realidades, segundo Duong Nguye Tuong, desde a sua fundação, em 1930.

O partido nasceu com a denominação de Partido Comunista da Indochina e em 1945, com o nome de Partido do Trabalho, constituiu a Liga da Independência do Vietnã, com a finalidade de agrupar todas as forças que lutavam para derrotar a colonização francesa. Essa denominação durou até a derrota completa dos invasores norte-americanos, em 1976, quando adotou o nome de Partido Comunista do Vietnã. Segundo Duong Nguye Tuong, essa trajetória demonstra a capacidade do PCV de adaptar-se à cada realidade do país e se expressar de forma condizente com os anseios e a cultura do povo, que sempre vê nos nomes uma significação.

Percalços

Com essas flexões e a adoção de políticas que respondem às características de cada momento, o partido granjeou grande prestígio e respeito. Duong Nguye Tuong explicou que o povo chama o PCV de “nosso partido”. A popularidade é tanta que cada família tem pelo menos um membro filiado. Essa condição, disse ele, demonstra ao mesmo tempo muita confiança do povo e a responsabilidade que cabe aos comunistas na direção do processo revolucionário. O PCV, enfatizou Duong Nguye Tuong, procura corresponder a essa respeitabilidade zelando pelo vigor da teoria e da política dos comunistas.

Ele explicou que o governo vietnamita tem um perfil voltado para os interesses do povo. Um governo do povo e para o povo como princípio da construção do país, enfatizou. E o PCV, como força dirigente desse processo, tem uma grande força mas também muitos desafios. Segundo Duong Nguye Tuong, a natureza do partido como único dirigente desse processo cria condições para o burocratismo e a corrupção, temas que têm merecido atenção especial do Comitê Central. Esses percalços, disse ele, são combatidos para que não obstaculizem o processo de construção de um Vietnã rico, civilizado, democrático e forte.

Caminhos

Encerrando sua participação, Duong Nguye Tuong respondeu a perguntas dos presentes, reafirmando as condições peculiares do país e a busca incessante da democratização das relações sociais, da incorporação da juventude no processo revolucionário e de superação das debilidades econômicas. Ele explicou, em rápidas palavras, as políticas que são adotadas para preservar os direitos dos trabalhadores, a valorização das instâncias democráticas e os desafios que surgiram com a nova realidade econômica e política.


Renato Rabelo, Duong Nguye Tuong, Ricardo Abreu “Alemão” e André Tokarski

Renato Rabelo, o presidente nacional do PCdoB, fez questão de abrir os trabalhos, ressaltando que não poderia deixar de dar as boas-vindas ao camarada vietnamita. Destacou que em conversa com Duong Nguye Tuong constatou que a tarefa do Vietnã na derrota de dois imperialismos — o francês e o norte-americano — parecia menos árdua do que a de construir o socialismo.

Para Renato Rabelo, foi uma conversa franca, condizente com o histórico de amizade entre os dois partidos. Segundo o presidente do PCdoB, a visita de Duong Nguye Tuong foi uma honra, que merece ser valorizada para a compreensão dos caminhos da construção do socialismo. Participaram da mesa dos trabalhados Ricardo Abreu “Alemão”, secretario de Relações Internacionais do PCdoB, e o presidente nacional da União da Juventude Socialista (UJS), André Tokarski. O evento foi uma co-promoção da Fundação Maurício Grabois, do Portal Vermelho, da Secretaria de Relações Internacionais do PCdoB, do Cebrapaz e da UJS.