Senhor Presidente, Senhoras Senadoras, Senhores Senadores,

Este 27 de abril registra o centenário de nascimento de um grande lutador pela liberdade e pelo socialismo, de um grande intelectual e historiador marxista, o general Nelson Werneck Sodré. Para comemorar a data, um grupo de historiadores e intelectuais começaram um movimento sediado, simbolicamente, na cidade paulista de Itu, considerada o berço da nossa República. Nessa cidade Nelson está sepultado. Foi no quartel do Regimento de Artilharia (o Regimento Deodoro) em Itu, para onde foi, no início da década de 1930, como aspirante a oficial, que ele teve seus primeiros postos no Exército. Foi também em Itu que conheceu Yolanda Frugoli, com quem se casou.

Werneck Sodré destacou-se como um militar nacionalista, ligado depois ao Partido Comunista. Intelectual e historiador, foi um dos fundadores do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), na década de1950. Foi desligado das funções de instrutor de história militar da Escola de Comando e Estado Maior do Exército devido às suas posições nacionalistas, à participação na campanha O Petróleo é Nosso e à publicação de um artigo, sob pseudônimo, em que se opunha à participação do Brasil na Guerra da Coréia. Seu último posto militar, na ativa, foi a promoção a coronel em 1961. Assim, passou para a reserva no posto de general de brigada.

Nelson é um dos pioneiros da historiografia marxista no Brasil. Muitos de nós tivemos a oportunidade de ter nossa curiosidade aguçada por obras como a Historia da Literatura Brasileira. Este livro não é apenas a resenha e valorização de nossos grandes autores, mas também uma busca de entender a produção artística de nosso país levando em conta a situação econômica vivida nos vários períodos de nossa formação. Aprofundou a visão marxista do nosso passado com Formação da Sociedade Brasileira. É de 1945 a primeira edição de um guia fundamental para os estudiosos, o livro O Que Se Deve Ler Para Conhecer o Brasil, que mereceu sucessivas reedições, revistas e atualizadas.

São dele também obras de grande valor para conhecer, a partir de uma visão materialista dialética, a trajetória de nosso povo, como As Classes Sociais no Brasil, A ideologia do Colonialismo, Formação Histórica do Brasil e, na primeira metade dos anos 60 do século passado, a prestigiada e perseguida História Nova do Brasil. Este livro foi elaborado por uma equipe de historiadores dirigida por Werneck Sodré. Depois de abril de 1964, a obra foi apreendida e destruída pelos generais golpistas e seus autores presos.

A ditadura militar cassou os direitos políticos do general aposentado e o impediu de lecionar. Mas não teve forças para fazer cessar seu trabalho pela emancipação dos brasileiros e a produção de obras como As razões da Independência, História Militar do Brasil, História da Burguesia Brasileira, História da Imprensa no Brasil. Ele também trabalhou pela divulgação do socialismo científico no Brasil, através de antologias como Fundamentos da Economia Marxista, Fundamentos da Estética Marxista, Fundamentos do Materialismo Histórico e Fundamentos do Materialismo Dialético.

Senhoras Senadoras, Senhores Senadores,

Nelson Werneck publicou até às vésperas de sua morte, em 1999. Seus livros compõem um impressionante conjunto dedicado a esquadrinhar o passado brasileiro a partir do pensamento marxista e a difundir entre nós o pensamento avançado e socialista.

Este general e pensador foi um lutador incansável contra os que queriam um Brasil submisso às potências internacionais e depositou uma confiança muito grande na capacidade de o proletariado liderar a construção de um país democrático, progressista, soberano, com justiça social e sem exploração de classe. Socialista, enfim. Um gigante, cuja obra abriu os caminhos para o aprofundamento do conhecimento histórico. Não há em suas obras uma “neutralidade” acientífica. Pelo contrário, seu engajamento ideológico, militante, ajuda-nos a entender o caráter da luta política que travamos em nosso país e a necessidade de enfrentar os setores retrógrados e a direita que não querem que o país continue a avançar. Esta é a atualidade de seu pensamento.

Daí a relevância da comemoração de seu centenário. A comissão formada em Itu para divulgar sua biografia e sua obra, composta por sua filha Olga, pelos professores Jonas Soares de Souza, Maria de Lourdes Figueiredo Sioli, Luis Roberto de Francisco, pelos intelectuais Maria Cristina Monteiro Tasca e Alan Dubner e pelo jornalista Salathiel de Souza tem um programa ambicioso. Ela pretende fomentar iniciativas locais e nacionais para marcar 2011 como o Ano Nelson Werneck Sodré. O objetivo é desenvolver atividades que envolvam a Academia Brasileira de Letras, a Biblioteca Nacional, o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, departamentos de história das universidades brasileiras. Está sendo preparada também uma página eletrônica com informações sobre o historiador e sua obra.

Como brasileiro, como um dos que lutam por um futuro progressista para o nosso povo, registro nesta Casa, em nome do Partido Comunista do Brasil, o centenário de Nelson Werneck Sodré e agradeço a ele pela contribuição que deu à nossa luta e que continua nos dando, através de sua obra, para a compreensão de nossa história.

Obrigado.