No entanto, a Justiça suspendeu o pagamento das indenizações concedidas devido a uma liminar proposta pelo advogado João Henrique Nascimento de Freitas, assessor jurídico do parlamentar direitista Jair Bolsonaro (PP-RJ).

Flavia Moreira

O debate foi coordenado pelo diretor da FMG-RS, Daniel Sebastiani e contou com as participações do presidente do PCdoB-RS, Adalberto Frasson; o representante do PCdoB no GT do Tocantins, Aldo Arantes; do Chefe de Gabinete do governador, Vinicius Wu; dos deputados federais Manuela d'Ávila e Assis Melo; e da secretária do Turismo do RS, Abgail Pereira.

“Estes camponeses viveram violência brutal. Estão na expectativa de receber alguma coisa para o final da vida e para deixar para suas famílias. “É necessário que a sociedade tome conhecimento desta situação para se solidarizar com os camponeses e que isso possa sensibilizar a Justiça federal”, afirmou Aldo Arantes, integrante da Comitê Central do PCdoB e do Grupo de Trabalho Tocantins, do Ministério da Defesa, que faz busca pelos restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia, no sul do Pará. Aldo Arantes também chama atenção para o fato de que dos 45 camponeses que haviam obtido a anistia, cinco já morreram.

O presidente estadual do PCdoB, Adalberto Frasson, destacou que a realização do ato é uma homenagem àqueles que deram suas vidas para alterar o rumo de nosso país. Relembrar e exigir que a memória desse tempo seja revelada significa avançar na construção de uma pátria mais justa, avançada e democrática. “A democracia no Brasil ainda engatinha e tem quem não queira que ela caminhe por suas próprias pernas”, lembrou o deputado federal Assis Melo, avaliando que "relembrar a guerrilha é não deixar que o País retroceda a esse tempo".

Para a secretária estadual do Turismo, Abgail Pereira (PCdoB), a trajetória do seu partido se confunde com a história do Brasil. "Nos enche de orgulho saber que nosso povo não se abaixou, seja para os militares, seja para os imperialistas", recordou.

Representando o governador, o Chefe de Gabinete, Vinicius Wu destacou a atuação de Tarso Genro a frente do Ministério da Justiça na realização das caravanas da Anistia e lembrou que o Brasil ainda não realizou sua transição completa para a democracia, carecendo de instrumentos para esclarecer aquilo que de fato ocorreu entre 1964 e 1985. Ele observou que o Brasil é a nação que menos avançou na América do Sul em termos de resgate histórico e de reparações referentes ao regime militar. “Devemos mostrar que a luta e o sacrifício desses jovens não foi em vão”, disse Wu ao defender a Comissão da Verdade.

A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputada Manuela d’Ávila, destacou que a história desse período precisa ser contada para que ela não seja esquecida. “Se todos soubessem o que ocorreu no Araguaia, com esses camponeses, se o Poder Judiciário conhecesse essa história, nós não estaríamos aqui fazendo esse ato para que eles recebam essa reparação por tudo que sofreram durante a ditadura”, disse Manuela, lembrando que a ofensiva contra os guerrilheiros no Araguaia foi a maior operação militar realizada pelas Forças Armadas desde a Guerra do Paraguai.

No mesmo evento, foi veiculado o documentário “Camponeses do Araguaia — a Guerrilha vista por dentro”, produzido pela Fundação Maurício Grabois. Durante a Caravana da Anistia, uma equipe da fundação colheu uma série de depoimentos de camponeses que contam como foram torturados para revelar segredos sobre a localização de guerrilheiros, tiveram suas casas e plantações queimadas, viram seus animais serem mortos. “O filme é importante porque é a voz dos camponeses, mostrando o que aconteceu com eles. São depoimentos comoventes. Revelam com muita força emocional que pessoas tiveram suas casas queimadas, perderam suas terras, foram torturadas”, disse Aldo Arantes.

Exército oculta cadáveres do Araguaia

Integrante do GT Tocantins, Aldo Arantes revelou que houve o que chama de “operação limpeza” na área onde houve a luta. Ele conta que, em 2009, o grupo de trabalho realizou 63 escavações no local e não encontrou nada. A certeza veio depois que ouviu a confirmação da boca de militares que participaram do combate à guerrilha. “Tive oportunidade de ouvir depoimentos no sul do Pará, não só de camponeses, mas de ex-militares. Alguns dos quais participaram da Operação Limpeza”.

Ainda assim, Aldo Arantes diz que os militares com quem conversou não sabem onde foram parar os corpos. Ele acredita que só oficiais de alta patente sabem o que ocorreu, e trabalha com duas hipóteses: os restos mortais dos guerrilheiros podem ter sido lançados no fundo do Rio Araguaia, ou incinerados. Arantes tem insistido com o Ministério da Defesa para que sejam ouvidos os oficiais que comandaram a guerrilha. “O grupo de trabalho tem técnicos muito bons, mas sem informações dos oficiais não vamos achar nada”, diz.

O evento foi prestigiado por militantes, dirigentes partidários e autoridades, como o coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Procuradoria Geral do Estado, Carlos Delia; o corregedor geral da Susepe, Marcelo Sgarbossa; o membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RS, Rodrigo Puggina, entre outros.

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Fonte: Portal Vermelho