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    Comunicação

    O Hiperativo

    O Hiperativo       “É claro que vai dar certo. Sempre dá.” – Foi o que disse a mãe ao menino, em frente ao consultório da psicóloga, ou terapeuta, como Dolores preferia chamar a pessoa que atenderia seu filho.         A porta se abriu e uma mulher estereotipada ao extremo surgiu com um sorriso avassalador. No […]

    POR: Redação

    3 min de leitura

    O Hiperativo

          “É claro que vai dar certo. Sempre dá.” – Foi o que disse a mãe ao menino, em frente ao consultório da psicóloga, ou terapeuta, como Dolores preferia chamar a pessoa que atenderia seu filho.

            A porta se abriu e uma mulher estereotipada ao extremo surgiu com um sorriso avassalador. No rosto, pequenos óculos de armações quadriláteras e transparentes. Ela abaixou-se à altura dos olhos do menino, fitando-os com os seus e soltou uma risada seguida de um “ora, vejam só que jovenzinho bonitinho! Vamos entrando para conversarmos e nos tornarmos grandes amigos”. Elevou-se, então, à estatura da mãe e a tranquilizou. Disse haver boas revistas para ler durante a espera e, colocando a mão sobre o ombro do pequeno Moacir, arrastou-o para dentro da sala.

            Ele, pouco por medo, pouco por algo que somente as crianças de nove anos sentem, apreciava o branco das paredes em contraste com os quadros coloridos, dispostos de forma regular, um em cada parede. 

            Tudo bem com você?

            O menino a fitou, por vontade própria, pela primeira vez.

            – Olá, sei que se chama Moacir. Está com vergonha de mim?

    Ele ainda a olhava. Agora cerrava um pouco mais os olhos. 

            – Ok. Se não vai falar, vou te mostrar uma coisa.

           Ela pegou uma caixa de lápis coloridos e, quando levou a mão até a primeira folha de uma pilha colocada sobre sua mesa, o menino quebrou o silêncio.

           – Não faça isso. Abaixe essa mão e deixe essa folha exatamente onde ela está.

           Terminada a frase, a sobrancelha esquerda dele estava com duas alturas da direita. 

           Meia hora depois, a porta da sala se abriu e o menino saiu. Sozinho. A mãe, que já havia folheado todas as revistas da espera, sorriu. Ele retribuiu franzindo a boca para a esquerda. Ela estendeu a mão e ambos seguiram em direção à rua. Antes de sair, porém, o menino fez questão de virar a plaquinha da porta para que, de agora em diante, indicasse “fechado”.

    * Luiz Henrique Dias é dramaturgo. Siga ele lá: @LuizHDias (luizhenriquedias.com.br)

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