Após duas horas de debate, os partidos chegaram ao consenso em torno dos seguintes pontos: defesa do sistema proporcional, do voto obrigatório e do fortalecimento dos partidos; aperfeiçoamento e ampliação dos mecanismos que garantam a participação popular nas decisões políticas do país (referendos, plebiscitos, consultas etc.); defesa da fidelidade partidária; prosseguir com o debate sobre a coincidência das datas de todas as eleições; indicar para as fundações partidárias a realização de um estudo sobre o financiamento público exclusivo das campanhas; e dialogar com os demais partidos da base aliada sobre a reforma política.


Brizola Neto, Renato Rabelo, Rui Falcão e Eduardo Campos

Na entrevista coletiva logo após a reunião com os representantes dos partidos, Rui falcão, presidente do PT, destacou o compromisso dos presentes de manter reuniões periódicas para debater diferentes temas nacionais. Renato Rabelo, presidente do PCdoB, enfatizou o consenso sobre o financiamento público exclusivo de campanha e a decisão de delegar às fundações partidárias a tarefa de estudar melhor a proposta. Para ele, esse assunto é importante porque responde a uma série de anseios sobre a lisura dos pleitos. E acrescentou que ele tem sentido democrático e garante melhores condições de igualdade nas eleições. O financiamento publico exclusivo de campanha se insere na preocupação de uma reforma política democrática, acrescentou.

Brizola Neto, representando o PDT, e o governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos — que também é presidente do PSB —, comentaram outros pontos de consenso da reunião. Rui Falcão complementou informando que a participação do ex-presidente Lula na discussão reforçou a importância dos temas alinhavados e disse que esses pontos de consenso serão difundidos para se iniciar o diálogo com as respectivas bancadas no Congresso Nacional e com os governadores do campo aliado. Renato Rabelo reforçou que outras reuniões devem acontecer em breve como um fórum periódico de consenso e entendimento.

Combinação

Falando com exclusividade ao Grabois.org, Eduardo Campos considerou a reunião muito proveitosa e a primeira de muitas ao longo deste ano para debater pontos essenciais que orientarão as bancadas no Congresso Nacional. Esses consensos, acrescentou, podem dar contorno à reforma política. Segundo ele, houve mais convergências do que divergências. Ressaltou que o tema é complexo e lembrou que divergências históricas começam a ser debeladas. Saudou a iniciativa dos quatro partidos e se disse satisfeito com o desprendimento que pautou a reunião.

Renato Rabelo, também falando com exclusividade para o Grabois.org, considerou a reunião uma iniciativa exitosa. Para ele, além dos pontos de consenso uma questão positiva foi a disposição demonstrada por todos os partidos presentes — sobretudo pelo PT — de continuar com as reuniões de forma periódica para tratar de assuntos candentes na busca de um entrosamento maior, da definição de um trabalho coletivo. Segundo o presidente do PCdoB, o fato de a reunião ter colocado na mesa pontos de consenso, com posteriores formulações no sentido de elaborar propostas comuns, é um fato muito positivo.

Tudo isso em combinação com as fundações partidárias, disse. Para Renato Rabelo, essa decisão valoriza as fundações e realça seu papel de buscar de forma mais aprofundada o estudo desses temas. Essas medidas, enfatizou, reúnem condições para se conseguir um êxito maior em torno de propostas comuns sobre a reforma política, que serão debatidas com os outros partidos da base do governo. Renato Rabelo também comentou a presença de Lula na reunião, fundamental pela autoridade política do ex-presidente. Segundo o presidente do PCdoB, Lula teve papel decisivo no encaminhamento dos assuntos debatidos.

Nilmário Miranda, presidente da Fundação Perseu Abramo, também falou ao Grabois.org. Para ele, a reunião foi um passo excepcional, iniciado com as fundações partidárias que vêm subsidiando as direções dos partidos para a construção de consensos. Segundo ele, este é um bom momento para se fazer a reforma política. O debate está posto, a necessidade existe e as condições são favoráveis. Ele lembrou que desde dezembro as fundações vêm debatendo o assunto e ressaltou que os partidos que participaram da reunião têm ligações com a sociedade civil por meio dos movimentos sociais, o que, em sua opinião, amplifica o debate.

Estudo

Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois, comentou para o Grabois.org a importância dos temas debatidos. Segundo ele, o fato de quatro partidos que no espectro partidário brasileiro representam o campo da esquerda se reunirem para discutir a reforma política tem muita importância. Explicou que o Brasil tem uma frente ampla de sustentação ao governo da presidenta Dilma Rousseff e que esses partidos lutam, desde aos anos 1980, para que o o Brasil trilhasse o caminho que hoje percorre.

Para Adalberto Monteiro, é importante que esses partidos se reúnam com freqüência para oferecer ao conjunto da frente de sustentação do governo contribuições que ajudem a coesionar os aliados e impulsionem o cumprimento do programa de governo eleito. Outro ponto ressaltado por ele é o destaque que os partidos deram para o papel das fundações. Segundo Adalberto Monteiro, o trabalho realizado desde dezembro ajudou e vai ajudar a dar mais substância ao debate sobre a reforma política. Ele citou como exemplo a tarefa de estudar o financiamento público exclusivo de campanha para se saber como ele funcionaria em qualquer dos cenários que surgirem nos debates sobre a reforma política.