Na coluna de opinião que assina ao domingo no “The New York Times”, o professor da Universidade de Princeton lembra que, após a criação do Euro, em 1999, as nações europeias que anteriormente tinham sido consideradas de risco – e que, por isso, se deparavam com limites aos montantes de endividamento – passaram a receber grandes entradas de capital. “Afinal de contas, pensavam aparentemente os investidores, a Grécia/Portugal/Irlanda/Espanha eram membros da união monetária europeia, por isso o que é que poderia correr mal?”, prossegue Krugman.

“A resposta para essa pergunta é agora, claro, dolorosamente evidente. O governo grego, ao ver ser-lhe permitido financiar-se a taxas ligeiramente acima das que eram aplicadas à Alemanha, assumiu demasiada dívida. Os governos da Irlanda e Espanha não o fizeram (Portugal está algures no meio) – mas os seus bancos sim; e quando a bolha estoirou, os contribuintes ficaram a braços com a dívida da banca. O problema piorou com o facto de o ‘boom’ de 1999-2007 ter deixado os preços e os custos nas nações devedoras muito distanciados do que se observava nos seus vizinhos”, sublinha o economista.

Krugman destaca as diferenças de ponto de vista no que diz respeito ao melhor rumo a tomar. Os líderes europeus ofereceram pacotes financeiros de emergência, mas apenas em troca de programas de austeridade. E quem se apõe a estes programas, defende que não só impõem muito mais sofrimento directo, como também deterioram a crise económica a reduzem as receitas.

O BCE, sublinha Krugman, tratou então de “proclamar a austeridade com um elixir económico universal que deveria ser imposto de imediato, de forma generalizada, incluindo em países como o Reino Unido e os EUA, que continuam a ter elevados níveis de desemprego e que não estão a sofrer pressões por parte dos mercados financeiros”.

No entanto, “o mundo imaginário da confiança não se fez presente. Os países europeus em apuros devido ao endividamento estão, conforme seria de esperar, a sofrer uma contracção económica adicional devido a esses programas de austeridade, e a confiança está a diminuir em vez de aumentar”, realça o economista no seu artigo de opinião publicado no “The New York Times”.

Grécia, Irlanda e Portugal não irão reembolsar as suas dívidas na totalidade

“Está agora claro que a Grécia, a Irlanda e Portugal não poderão – e não irão – reembolsar as suas dívidas na totalidade, se bem que Espanha talvez possa consegui-lo”, refere ainda Paul Krugman.

Assim, na opinião do Nobel da Economia, aquilo que a Europa precisa, “realisticamente”, é de se preparar para “alguma espécie de redução da dívida, que envolva uma combinação de ajuda por parte de economias mais fortes e ‘haircuts’ [redução do valor da dívida a pagar aos detentores de obrigações] impostos aos credores privados”. “No entanto, o realismo é algo que parece estar em défice”, comentou.

E porquê? “Por um lado, a Alemanha está a assumir uma linha dura contra qualquer coisa que possa assemelhar-se a uma ajuda aos seus vizinhos em apuros, se bem que uma importante motivação para o actual programa de resgate existente ter sido uma tentativa de defender os bancos alemães de perdas”, refere Krugman.

“Por outro lado, o BCE está a agir como se estivesse determinado a provocar uma crise financeira. Começou por subir as taxas de juro, apesar do mísero estado de muitas economias europeias. E os responsáveis do Banco Central Europeu têm vindo a advertir contra qualquer forma de alívio da dívida – com efeito, na semana passada um membro do conselho de governadores deu a entender que até mesmo uma reestruturação suave das obrigações gregas seria motivo para o BCE deixar de aceitar essa dívida como colateral para os empréstimos aos bancos gregos. A isto juntou-se a declaração de que se a Grécia procurar um alívio da dívida, o BCE desligará a ficha do sistema bancário grego, que é crucialmente dependente desses empréstimos”, destaca Krugman.

“Se os bancos gregos forem à falência, isso poderá muito bem obrigar a Grécia a sair da Zona Euro – e é muito fácil de ver como é que isso poderia dar início a um efeito dominó em grande parte da Europa. Assim sendo, no que anda o BCE a pensar?”, questiona-se o economista.

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Fonte: Jornal de Negócios