Crise na Europa não é econômica, mas política
Despenca furiosamente o nível de vida da população da Grécia. Deprecia-se incessantemente a Grécia sob o regime de extrema frugalidade. Ofende-se com sordidez de atos e linguagem a independência do país, inclusive até em seu direito fundamental de definir seu padrão de governança, quando um finlandês, comissário da União Européia, tenta forçar os partidos de oposição na Grécia a concordarem e apoiarem a política do governo, definida pela União Européia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Para milhões de gregos, o problema da sobrevivência econômica torna-se tanto agudo, quanto nunca antes ao longo dos últimos 50 anos. A desgraça de nossa pátria limita nossos horizontes políticos. E enquanto a propaganda do governo dissimula os motivos da crise, a fim de ser facilitada a aprovação da política governamental de arrocho máximo, turva o critério político dos gregos, os quais, enquanto tentam enfrentar os crescentes problemas do cotidiano, ficam impossibilitados de integrá-los ao âmbito pan-europeu.
A crise é européia, não é simplesmente da Grécia, de Portugal, da Irlanda ou da Espanha, como pensa a maioria das pessoas. Naturalmente, manifesta-se com particular violência nestes países, que constituem os mais fracos elos da Zona do Euro, mas a crise é muito mais ampla e muito mais séria.
Não é só crise dos países da periferia européia, não é só simplesmente crise pan-européia de dívida pública, assim como não é simplesmente crise da moeda comum européia, do euro. Estamos enfrentando a crise da própria estrutura da complementação européia.
Europa das elites
"Crise estrutural da Europa" é como a denomina em editorial o jornal político do mundo empresarial alemão Frankfurter Algemeine Zeitung. Em grego simples, este título significa que a própria UE enfrenta risco de derrocada e dissolução. Nós, na Grécia, estamos tentando solucionar nossos próprios problemas. Mas os alemães vêem mais longe, sentem muito mais rapidamente os perigos em gestação na UE, a qual constitui o espaço da hegemonia econômica e política do governo de Berlim.
Dez anos de euro já têm mostrado a todos o que, exatamente, significa na prática a moeda comum européia. Dez anos de funcionamento da Zona do Euro levaram à apoteose da superioridade econômica da Alemanha, à séria queda da França, à derrocada da competitividade da Itália, da Espanha, da Grécia, de Portugal e outros.
"O euro deveria unir os povos da Europa, mas, ao invés disso, agora divide o Velho Continente", constata em artigo o jornal alemão Die Zeit.
Outra importantíssima constatação do ex-chanceler alemão Helmut Schmidt, em seu artigo, publicado no mesmo jornal: "Não temos crise do euro, mas crise da UE", enquanto o jornal, em seu subtítulo, sentencia: "Os problemas econômicos do euro, por mais sérios que sejam, são solucionáveis. Se em algum momento a União Monetária Européia for despedaçada, isto acontecerá por motivos políticos".
A crise observada em determinados países da Zona do Euro não limita-se somente à economia. Envenena as relações dos países que a integram. Envenena as relações dos povos da Europa. Resulta no ressurgimento de todos os preconceitos nacionalistas e racistas, do tipo "todos os povos mediterrâneos são preguiçosos", "cada alemão traz um nazista".
"A crise rompe a urdidura política da Europa", escreve a revista britânica Economist, e tem absoluta razão.
Última advertência formula o jornal alemão Die Zeit, dirigindo-se, principalmente, aos alemães. "A exemplo de como unificou-se a Europa, poderá, também, dissolver-se. Cada vez torna-se mais claro que a Europa, como objetivo das elites, sem a participação dos cidadãos comuns, não funciona mais", destaca.
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Fonte: Monitor Mercantil