O Peru é o terceiro maior produtor mundial de cobre e zinco e o maior produtor de ouro, zinco, prata, chumbo, estanho e telúrio da América Latina. É também o segundo maior produtor de cobre, molibdênio e bismuto da região.

Não por acaso, o grande fluxo de capitais estrangeiros que aportou na economia peruana nos últimos anos mirava as exportações dessas riquezas, reenditando a velha lógica colonial de embarque ponto a ponto sem agregar quase nada ao desenvolvimento local. A geografia peruana tem três círculos: costa, selva e serra.

A selva e a serra concentram a miséria reproduzida pelo modelo neoliberal predominante desde os anos 90, ancorado em liberdade absoluta aos capitais, receita fiscal irrisória de apenas 15% (inferior à média acanhada da América Latina de 18%) e proteção social mínima à população, decorrente de parcos investimentos públicos em serviços essenciais.

Mais de 50% dos moradores da Amazônia peruana e das áreas serranas vivem na pobreza, contra média de 19% na costa branca e mestiça. Paradoxalmente foi nos cinturões da selva e da serra que se concentraram os grandes projetos de mineração que fizeram o fastígio da elite no litoral, sem benefício equivalente à maioria miserável que vive nessas áreas.

Não por acaso, vieram dos indígenas, que formam 45% da população, os votos que propiciaram a vitória de Humala contra o continuísmo neoliberal assumido por Keiko Fujimori.

A tarefa mais difícil do novo governo agora será coordenar as expectativas de mudança dos seus eleitores com o timming necessário à recomposição das finanças públicas, deliberadamente desprovidas de recursos para acionar programas de crescimento e inclusão social.

Com uma mídia hostil, despudoramente tendenciosa, a ponto do prêmio Nobel de Literatura,o conservador Vargas Llosa, suspender a veiculação de suas colunas em um dos jornais da direita, em protesto pela cobertura eleitoral, não será fácil a decolagem do novo governo.

Mais que nunca, o apoio de Estados progressistas da América Latina, Brasil à frente, será fundamental à estabilidade e ao sucesso de Humala.

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Fonte: Carta Maior