Código Florestal: verdades que precisam ser ditas
Na polêmica que se estabeleceu sobre o relatório do Código Florestal do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) recentemente aprovado pela Câmara dos Deputados, uma singela questão tem sido ignorada pelos ditos “ambientalistas”: a soberania do país. Devem imaginar que é um desperdício a Amazônia, o Pantanal e o meio ambiente em geral estarem sob a guarda do Brasil e dos brasileiros. Acreditam, talvez, que as florestas tropicais e equatoriais teriam um futuro bem mais tranqüilo se estivessem sob a jurisdição de europeus, japoneses, norte-americanos ou quem sabe de um ente que congregasse todos eles.
É claro que há nisso uma contradição. Esses “ambientalistas” só se tornaram verdes depois que aniquilaram todo o verde que tinham à sua volta. Foi assim com os Estados Unidos, que destruíram o meio ambiente com voracidade desde suas origens como nação. O Japão não fica atrás. A fuligem no ar japonês é assustadora. Quase não há peixes em boa parte da costa japonesa, por conta do ritmo esfaimado da indústria pesqueira. Na Espanha, na França e na Itália a parte com influência mediterrânea apresenta grande diversidade de paisagens erosivas.
Os ricos não choram diante das ruínas que semearam. Não há motivos para acreditar que agora estão de fato preocupados com a ecologia dos outros. O que há são evidências de que estão esperneando para preservar a rede gigantesca de transações e de negócios, cobrindo os continentes mais do que as nações, ignorando fronteiras espalhadas em todas as latitudes. Interesses comerciais, jogadas financeiras e xadrez geopolítico são elementos que não podem faltar em um debate que vá à raiz da questão.
Condições subdesenvolvidas
O Brasil não precisa, evidentemente, seguir pelo mesmo caminho dos ricos para se desenvolver. Ao contrário, esse quadro dá ao país a chance de aperfeiçoar a experiência de crescimento. É certo que em um país em desenvolvimento, com graves problemas socioeconômicos para resolver, as preocupações ecológicas nem sempre são prioridades. A concentração da terra, por exemplo, empurrou populações inteiras para a Amazônia, muitos hoje colonos que profanam a floresta para ter o que comer. Praticam a agricultura de subsistência, talvez a atividade econômica mais primitiva do homem.
Sem falar dos aventureiros que cortam árvores e destroem ecossistemas mais antigos do que a própria humanidade. E das empresas, muitas delas praticando extrativismo predatório, que possuem milhares de quilômetros quadrados da Amazônia. Tudo resultado do proselitismo irresponsável dos anos de ditadura, que enxergava a região como uma enorme seara para abrir estradas e espalhar a densidade demográfica brasileira. Agora temos a oportunidade de realizar um desenvolvimento econômico pujante e compatível com a preservação ambiental.
O relatório do Código Florestal explicita com todas as letras que o Brasil pode tranquilamente abrigar a Amazônia, o Pantanal, os rios exuberantes, os parques nacionais e tantas outras maravilhas naturais sem que sejam um peso, um atravanco para o desenvolvimento do campo. A preservação do meio ambiente não implica a preservação de condições subdesenvolvidas, como geralmente querem os “ambientalistas”. Ninguém discute, por exemplo, a urgência da demanda energética brasileira.
Coleção de árvores
O desenvolvimento de todas as regiões do país a partir de parâmetros conservacionistas bem-postos impõe a necessidade de uma fiscalização rigorosa. É impossível que nós, brasileiros, por alguma razão esotérica, não consigamos aviar essa receita. Isso significa realizar diretrizes e ações administrativas que façam o país mirar o futuro e saber para que lado olhar. Evidentemente, é necessário que o Estado precipite essa inflexão nos modos de pensar e agir, criando balizas legais e conduzindo politicamente o processo.
É fundamental que o Brasil moderno vá até o campo para proteger as populações locais, respeitando sua cultura e suas terras, agindo contra ingerências externas. Numa definição: um posicionamento nacional claro e indiscutível do Estado. Isso é básico. E contrário ao discurso vil dos “ambientalistas” que não consideram a defesa da soberania do país como essencial para o seu povo. É inaceitável que a nossa agenda seja submetida àqueles que nos repreendem, que nos alertam, falando do alto de uma cátedra depois de terem devastado suas próprias florestas.
Nossa natureza não é só uma coleção de árvores. É também, e acima de tudo, um grupo de pessoas. Só na região amazônica vivem 27 milhões dos 190 milhões de brasileiros. Quem acha natural que o desenvolvimento das potencialidades ambientais brasileiras seja assumido por um Ministério do Meio Ambiente auxiliado por ONGs, simplesmente, não entende que a natureza é mais do que árvores e rios. A Amazônia, por exemplo, é a fronteira, não só da geografia, mas da questão nacional. É o nosso grande laboratório. É o espaço em que podemos melhor repensar e reorganizar o país inteiro, e definir um novo projeto nacional de desenvolvimento.
Água benta
A defesa do meio ambiente constitui uma das discussões mais inflamadas que o mundo terá de travar e superar no futuro próximo. Numa imagem: se cada um tratar bem de sua árvore, em pouco tempo teremos uma floresta verdejante, viçosa, renovada. A complexidade do assunto começa pela sua definição geográfica. Há quem olhe para o problema como se ele fosse da esfera dos países pobres, como fazem os “ambientalistas”. E há os que o vêem sob uma perspectiva mundial e histórica.
A pretensão de alguns de transformar o conceito de Estado nacional em algo restrito a poucas nações faz parte da lógica de que muitos países devem renunciar às suas soberanias. A situação de dependência de matérias-primas e as dificuldades de provisão de energia e de alimentos remetem o problema para uma discussão acalorada. As versões que rodam o mundo imputando aos países pobres a responsabilidade pelo problema ambiental a rigor reivindicam o controle internacional dos redutos ecológicos ainda existentes no planeta.
O esforço diplomático de Brasil, Índia, China e México para incluir nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, órgão da ONU (IPCC) que congrega especialistas de mais de 120 países, a responsabilidade histórica dos países ricos sobre a degradação do meio ambiente foi um episódio da série de verdades que precisam ser ditas. Esse é o debate que interessa de fato, do qual os “ambientalistas” fogem como o Diabo da água benta.
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Editor do Grabois.org