Floradas e mais floradas

Adalberto Monteiro
Na bela idade dos cabelos
Algodoados e dourados,
Uma roseira explode em floradas e mais
Floradas…

Por vontade das entranhas da Terra
Jorra tinta incandescente
Pelo barro, pelas pedras, pela terra.
E as pessoas ficam a indagar
Por que emite aquelas vibrações
A estrela Vega.
Ninguém ao certo saberá! Nem ela.
Mas, o fato é que em vez do cinzel
Suas mãos se deram ao pincel,
E ela passou a colorir telas e mais telas
Como uma roseira que houvesse
Armazenado uma centena de primaveras.

E sua casa se viu alagada
Por uma enchente inusitada:
Quadros por toda parte,
Arte pendurada no alpendre, na sala…
Os netos se escondendo atrás das telas,
E nelas o bravio amor materno,
As extenuantes jornadas pelo pão,
As mãos erguidas, os calos da lida,
As marchas pela terra, pela vida…

As belas e corajosas senhoras do povo,
A bravura, a negritude e a alvura,
Na alma e na pele tudo em mistura.
No canavial, as sem-terra:
As Marias, as Margaridas, as Aparecidas,
As mãos algemadas no podão.
Libertas, transformam o barro em jarros,
O algodão, em vestidos bordados.

A infância dorme no chão da praça.
O fogo engole a favela, os rebentos nas
conchas dos braços,
A fibra feminina ante a desgraça.
As retirantes, as agruras da fuga, a coragem
da busca.

As mulheres de cabelos azuis,
A jovem mãe,
O triunfo da beleza e da vida.

   Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2005).