O Velho do Cacete

No caminho recente do meu novo “emprego” até minha casa, percorro uns bons quilômetros da Marginal Pinheiros.
Outro dia, trafegando (quando o fluxo segue adiante) numa média de vinte quilômetros por hora (horário do “rush”); fiquei parado num cruzamento, coisa que não percebi, pois na cidade de São Paulo, a prefeitura costuma colocar placas sobre as grandes avenidas que cruzam ruas secundárias de grande movimento; neste cruzamento esta placa não havia.
De repente, vi-me no meio de dois fluxos, o da Marginal Pinheiros e da outra ruazinha. Eu não podia voltar nem seguir adiante. Aguardei o momento em que o carro à frente seguisse, enquanto os carros da tal ruazinha aguardavam que meu carro se movesse. Uma dezena de motos, provindo da ruazinha passaram por detrás do meu carro e seguiram adiante. Porém um deles, com uma garota na garupa, parou ao lado da porta do meu carro e gritou:
– Oh velho do cacete!!!!
Felizmente, num átimo, o fluxo da avenida seguiu e fiquei em segurança em meio ao congestionamento. No entanto aquela voz do jovem motociclista ainda ecoava na minha cabeça: – Oh velho do cacete!
Agora, passados alguns dias, providenciei um cacete para andar comigo no carro: trata-se de um cabo de machado, feito com madeira de pinheiro; bem pesado!
O fato é que a zombaria do jovem, pensando que eu seja distraído, me levou a gostar do apodo.
Agora eu sou, realmente, um velho do cacete. E aguardo o dia em que tal motociclista pare ao meu lado, clamando por uma cacetada!
Ah, meus queridos leitores; não queiram crer que este escrevinhador pretende sair batendo em todos os motociclistas ou pessoas que me contrariarem; tal como fez o personagem do Michael Douglas no filme “Dias de Ira”.
Eu só quero, de modo egoísta, rir baixinho do atrevido motociclista por adivinhar que eu sou, realmente, o velho do cacete!

   Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS.
É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista.