Agrava-se a crise em toda a Europa
"A crise diz respeito aos EUA e não a nós", foi a primeira avaliação de "Frau" Angela Merkel após a "armação" que resultou na derrocada do Lehman Brothers, em outubro de 2008. Em continuação, a crise parecia contagiar a Grécia, para em alguns meses depois atingir Irlanda, Portugal, Espanha e pôr na alça de mira os próximos elos fracos, Itália e Bélgica.
Assim, a crise tende a ser apresentada como problema apenas do Sul europeu, tanto em nível de administração fiscal, quanto de disciplina social e convergência política, um quadro que este também é por sua vez enganoso. Muito simples: no sul da Europa apresentam-se com forte gravidade problemas comuns do total dos países integrantes da Zona do Euro.
O volume total da dívida pública dos países integrantes da Zona do Euro atinge hoje 7,5 trilhões de euros, um volume de recursos situado em níveis invisíveis, cujo total é muitas vezes mais inviável do que em separado é o total da dívida pública da Grécia ou da Irlanda.
A inovação tecnológica e a pesquisa, que são as únicas premissas para a sobrevivência da Zona do Euro e da União Européia em meio à turbulência da competição econômica mundial, não permitem otimismo de longo prazo para se garantirem os necessários superávits primários para o Velho Continente.
Se em tudo isso for somado o elevado custo social e político das políticas de saneamento que já começou a onerar, principalmente, o Sul europeu, então o horizonte estratégico da Zona do Euro é preocupante, principalmente se seus 17 países integrantes continuarem evoluindo em suas opções atuais.
Entende-se, então, que a convulsão social e a desestabilização política serão múltiplas em países como a Alemanha e a França, se existirem tentativas de contração do nível de vida em escala considerável.
Com estas premissas, as receitas de saneamento que, com responsabilidade principalmente alemã, impõem-se aos problematismos fiscais, agravam a crise. Primeiro, a restrição de demanda não demorará a atingir duramente as exportações e os superávits da Alemanha.
Segundo, conforme já é certo que, após a Grécia, Irlanda e Portugal serão necessários adicionais pacotes de salvação, a Alemanha conclui que deverá devolver parte de seus superávits sob condições muito piores e custo extremamente alto daquilo de um aumento da demanda interna no país, a fim de ser reconstituído um certo equilíbrio entre Norte e Sul.
É algo mais do que certo que dentro deste cenário não existem estratégias periféricas separadas e muito mais estratégias nacionais de sobrevivência. Nem a Alemanha e, muito menos os demais países superavitários podem fugir do custo de salvação do Sul, muito menos o Sul pode buscar soluções fora da Zona do Euro.
Dispender massa cinzenta em busca da forma com a qual tornar-se-á viável – principalmente, para os mercados – a dívida pública grega é esbanjar tempo. "É a raiz da árvore que está podre".
Acrescentem aos 7,5 trilhões de euros da dívida pública atual dos países integrantes da Zona do Euro os cerca de 10 trilhões da dívida pública dos EUA: É algo mais de que claro que, em um futuro não muito distante, os líderes empoados da Europa e dos EUA colocarão sobre a mesa das negociações o desafio do enfrentamento total do problema.
Em outras palavras, a crise da dívida pública dos países integrantes da Zona do Euro e dos EUA resultará em total apodrecimento do status quo que havia sido conformado na primeira década de existência da Zona do Euro. Assim, quanto mais rápido forem compreendidas as reais dimensões da crise, tanto menor será o custo que serão convocados a pagar a Alemanha e outros países superavitários.
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Fonte: Monitor Mercantil