No entanto, o fio condutor é sempre o mesmo: considerar que os interesses da União Europeia são os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, sobretudo os interesses dos que têm sede nos países mais ricos e poderosos como a Alemanha, a França, a Grã-Bretanha, o que demonstra bem como esta construção europeia é um instrumento do capitalismo a nível europeu.

Ao contrário do que apregoavam, quando teciam loas à coesão económica e social, ao dito modelo social europeu ou às benesses da criação da moeda única, agora insistem em políticas que agravam desigualdades sociais e territoriais, que aumentam as divergências, aprofundam o desemprego, o trabalho precário e a pobreza, numa Europa rica onde há mais de 43 milhões de pessoas em pobreza extrema e cerca de 100 milhões ameaçados de idêntica situação, se falharem os apoios sociais existentes. E, no entanto, o Tribunal de Justiça Europeu acaba de pôr em causa cerca de 80% da ajuda alimentar de 500 milhões de euros, ao dar razão a uma queixa da Alemanha apoiada por seis países membros da UE.

Por outro lado, mesmo sabendo que se vivem momentos muito difíceis nalguns países da zona euro, o Banco Central Europeu (BCE) teima na subida das taxas de juro e na manutenção de uma moeda forte. Para o BCE de pouco valem os problemas financeiros ou a recessão económica e social da Grécia, Portugal ou Irlanda.

O que conta para os responsáveis do BCE e do directório de potências da União Europeia é o significativo crescimento económico da Alemanha, a quem interessa manter uma moeda forte e evitar possíveis tendências inflacionistas, resultantes do aumento das matérias-primas a nível internacional, e as suas possíveis repercussões no aumento dos salários, obrigando a alguma redistribuição do rendimento, beliscando os aumentos dos lucros das suas grandes empresas.

Crise agravada

Mas, em contrapartida, com a taxa de juro de referência do BCE mais elevada, o crédito bancário fica mais caro e a banca passa a exigir juros mais elevados às empresas e às famílias, o que, para países em recessão, será mais um contributo para agravar a situação, encerrar micro, pequenas e médias empresas mais frágeis, criar mais desemprego e aumentar os problemas de milhares de famílias que já estão com a corda na garganta.

Em resumo, e apesar de estarmos perante o mesmo sistema capitalista, enquanto nos EUA os objectivos da Reserva Federal norte-americana incluem, não apenas a estabilidade dos preços, mas também alguma preocupação com o emprego, para evitar a deflação que o país já viveu durante o tempo da grande depressão, para o BCE e a Alemanha apenas conta a estabilidade dos preços, ou seja, a manutenção das elevadas e escandalosas percentagens de lucros, mesmo que à custa de cada vez mais desemprego e mais pobreza, o que sempre pressiona os trabalhadores a ter de aceitar trabalhar por qualquer salário de miséria, num trabalho mais precário e com menos direitos.

E, assim, na União Europeia prossegue a destruição dos últimos laivos de políticas keynesianas, que alimentaram o chamado modelo social europeu, enveredando pelo mais duro neoliberalismo, que há-de multiplicar pobreza, tensões sociais, recrudescimento do racismo e xenofobia, podendo acabar em novas guerras, para além da guerra do euro, a que, aliás, algumas potências europeias estão já perigosamente ligadas, desde as guerras na ex-Jugoslávia, no Iraque, Afeganistão e, mais recentemente, na Líbia.

Por isso, é essencial e urgente travar esta espiral do neoliberalismo europeu que, igualmente, está perigosamente instalada em Portugal. O que exige o reforço das lutas, da organização dos trabalhadores e do partido de classe mais consequente e determinado na luta contra a exploração, o PCP, num diálogo permanente com todas as pessoas que queiram lutar contra o capitalismo monopolista e desejem o desenvolvimento e o progresso social, a paz e a cooperação com os povos de todo o mundo.

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Fonte: jornal Avante!