«Desde há séculos que os católicos, na sua grande massa, se têm limitado à defensiva… O mundo moderno tem de ser reconquistado para Cristo. É missão da Acção Católica, fazê-lo!»

(Cardeal Gonçalves Cerejeira, Novembro de 1933).

«Vivemos num mundo concreto, com homens concretos, num espaço e circunstâncias determinadas e precisamos de perceber o que se passa à nossa volta… Quais as situações de injustiça em que vivemos ?… Quais as causas que as motivam?… Um amor inteligente ao pobre obriga a compreender a fundo a estrutura social que gera a pobreza como subproduto das minorias opulentas…»

(Irmã Franciscana Ferreira Pinto, Sines, Julho de 1981).

«Na fase de acumulação capitalista, a expropriação dos produtores imediatos é levada a cabo com um vandalismo impiedoso que é estimulado pelas mais infames finalidades, pelas paixões mais sórdidas na sua odiosa mesquinhez. A propriedade privada assente no trabalho pessoal – essa propriedade que, por assim dizer, une o trabalhador isolado e autónomo às condições exteriores de trabalho – será suplantada pela propriedade privada capitalista, assente na exploração do trabalho de outrem, no “salariado”»

(Lenine, Obras Completas, vol. 3).

Nos tempos históricos, o capitalismo gera a pobreza e a riqueza de formas barbaramente desiguais. Para que haja mercados, compradores e vendedores (e lucros), o capitalista tem de investir em salários e em matérias-primas, repartindo por ambos o investimento. Mas quando recolhe lucros e mais-valias, o montante fica só para ele e acumula-se com os ganhos anteriores.

O trabalhador tem de acatar outras regras de jogo. O seu salário é uma parte mínima do investimento. Não tem voz activa na gestão da empresa nem dispõe de poderes de decisão. Se o patrão decidir fechar, fecha; se quiser mudar de ramo, muda; se lhe apetecer «deslocalizar» o negócio, lá se vai para o trabalhador o seu posto de trabalho. Para o capitalista, a perspectiva é a da riqueza; para o trabalhador, espreitam-no permanentemente a pobreza e a miséria.

Os comunistas sabem que as coisas são assim. Nem mesmo quando os capitalistas se afirmam acima de todas as suspeitas, os trabalhadores devem neles confiar. A prática laboral demonstra como é justa esta antiga suspeita da classe trabalhadora. Os governos, a banca, os políticos e os patrões sentam-se à mesma mesa e envolvem-se nos mesmos crimes.

Os católicos não reagem tanto assim. Não é que lhes falte informação ou coragem para lutar. Mas porque continuam a navegar entre mitos e tabus e tolhem-nos os grilhões da cega disciplina, fingindo não verem que o seu dever moral consiste em levantarem os olhos aos céus e erguerem o punho, ligando o princípio à acção.

É afinal isto que separa católicos e comunistas.

Os mitos e a suástica

A era em que estamos a penetrar anuncia-se como uma das mais negras páginas das civilizações. Com alarido, pompa e circunstância, o capitalismo foi apresentado aos povos como agente do desenvolvimento, da paz e do bem-estar dos cidadãos. A Igreja prometeu mudança, renovação e transparência dos seus negócios materiais. Depois, foi o que se viu: o patronato deu o dito por não dito e a hierarquia religiosa ficou de pedra e cal, igualzinha a si mesma. Agora, devemos vasculhar com cuidado o passado recente e as manobras ocultas nos tempos da imposição do fascismo, nos anos 30. Hitler, Mussolini, Franco e Salazar, todos eles ascenderam ao Poder com a «ajuda de Deus» e a credulidade dos católicos.

Nada acontece por acaso. Tal como outrora, o sistema capitalista está simultaneamente a um passo da afirmação final e a outro passo da sua ruína. Pior: a utopia que criou a suástica e firmou o fascismo, cresceu desmedidamente e transformou-se numa ciência de alto nível. A par do horror real, habitamos um «mundo do faz-de-conta». Na perspectiva do caos, tudo é descrito como igual e… tudo é diferente.

Aos católicos bem pode dizer-se: não se enganem outra vez. Os homens vão envolver-se em duras batalhas. Mas as lutas que travarmos no futuro é agora que se organizam. Católicos ou não-católicos, todos temos de optar. Deus ou o Diabo? Fé ou ditadura das hierarquias? Liberdade ou morte?

Na verdade, o velho capitalismo vai desmoronar-se. Mas já das sombras se destaca um «novo capitalismo» tão velho como o anterior. Sacudamos preconceitos e cerremos fileiras. Do seu túmulo, o fantasma do cardeal não voltará a enganar-nos. Morreu.

Agora, somos nós. Temos enormes deveres. Nem um passo atrás!

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Fonte: jornal Avante!