A situação aqui, na Somália, está atingindo dimensões dramáticas, enquanto, em meio à guerra, milhões de seres humanos são ameaçados de morte por inanição. E, enquanto, envidam-se "os tradicionais esforços internacionais para limitar a catástrofe humanitária", o xenófobo governo militar que luta contra a organização extremista Al Shabab, em sintonia com o prolongado período de estiagem que assolou as terras de Somália, agravam o problema da subnutrição.

Duas regiões, Bacul e Baixo Sabel, foram declaradas em estado de inanição pela Organização das Nações Unidas (ONU) até agora, e a Agência das Nações Unidas para a Coordenação das Questões Humanitárias anunciou que, "se não for feito algo imediatamente, todo o sul da Somália será entregue à inanição dentro deste ano".

Com objetivo de abrir caminho para a ajuda das organizações humanitárias, semana passada as tropas do exército da União Africana travaram choques contra os islamistas da Al Shabab, organização que segundo se supõe mantém relacionamento com a Al Qaeda.

A União Africana anunciou que seis de seus soldados foram mortos e 19 feridos durante os entreveros, sendo que os últimos foram transportados de helicópteros a hospitais de Quênia. A Força de Paz da União Africana relatou que o ataque ocorreu a apenas quatro quilômetros do mais próximo acampamento de refugiados.

Calcula-se que pelo menos 20 mil somalis famélicos entraram em Mogadíscio somente mês passado. Famílias inteiras são obrigadas a caminhar centenas de quilômetros para chegarem à capital do país. No acampamento de refugiados de Dadaab – o maior do mundo – chegam 1.300 refugiados por dia e, embora o acampamento tenha sido construído para receber 90 mil refugiados durante a guerra civil da Somália, hoje "hospeda" mais de 900 mil refugiados.

Guerra desde 1991

Felizmente, as operações de transporte aéreo de alimentos realizam-se regularmente, enquanto o déficit de US$ 252 milhões que existia e ameaçava com interrupção a ajuda humanitária, foi coberto por países doadores. A ONG Médicos Sem Fronteiras denuncia as condições miseráveis de higiene e o crescente número de refugiados portadores de doenças, entre os quais, existem muitas crianças com idade inferior a dez anos.

A Al Shabab não permite o acesso das organizações humanitárias às regiões que ocupa e impede que milhares de seres humanos recebam alimentos. Refugiados revelaram que membros da Al Shabab assassinaram somalis que tentavam chegar aos acampamentos de refugiados, dizendo que "é melhor vocês morrerem de fome a que receber ajuda do Ocidente".

A Amisom, a Missão da União Africana na Somália, amplia-se a cada ano; enquanto, no início deste ano atuava em apenas 40% da extensão territorial do país, atua hoje em 60%, e anunciou que "informará as organizações humanitárias sobre suas futuras operações de combate da fome" e que compreende a necessidade de redução das operações militares, "mas a questão essencial é a reconstituição da estabilidade na capital e a garantia de proteção do povo em caso de novas operações de guerra".

O governo militar do país teme que a fome expulse o povo que paga os impostos e é obrigado a prestar serviços militares. Paralelamente, o mesmo governo militar havia proibido há algum tempo a oferta de ajuda por países estrangeiros, temendo "intromissão do Ocidente nos assuntos internos da Somália".

Grande parcela de responsabilidade para a atual situação de miserabilidade do povo somali deverá ser atribuída ao governo militar, que, há dois anos, proibiu qualquer ajuda financeira externa.

O estado de guerra no Chifre da África castiga o país desde 1991 e a morte do ditador Siad Bare, que trouxe a disputa entre os islamitas da Al Shabab contra o então governo "filhote" da ONU, hoje é apoiado por cerca de 9 mil "guardiões da paz", isto é, soldados da União Africana que vieram de Uganda e de Burundi.

A estiagem criou um "triângulo de morte por inanição" onde encontram-se as fronteiras da Etiópia, Quênia e Somália.

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Fonte: Africa News Agency, no Monitor Mercantil