Crise é oportunidade para BC cortar juro, diz membro do governo
A crise econômica mundial oferece a chance de o Brasil começar um processo de redução da maior taxa de juros do planeta para níveis (bem menores) internacionais. Ao contrário da atitude conservadora que o Banco Central (BC) teve na primeita etapa (financeira) da crise, em 2008, o corte do juro pode começar já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 31 de agosto.
A avaliação é de um membro do próprio governo, Mauro Borges, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), vinculada ao ministério do Desenvolvimento. “[A crise] é uma grande oportunidade. Possivelmente já na próxima reunião do Copom, a queda dos juros estará na pauta”, disse Borges à Carta Maior nesta terça-feira (9).
Subordinado a um dos ministros mais próximos da presidenta Dilma Rousseff, Fernando Pimentel, Borges afirmou acreditar que ela compartilha da visão da crise como “oportunidade” de corrigir o patamar do juro e que ela respaldaria o BC.
Em 2008, o BC foi alvo de críticas – de portadores de uma visão mais desenvolvimentista, não de gente ligada ao “mercado” – por não ter aproveitado a chance que uma turbulência proporciona e baixado o juro.
A crise estourou dia 15 de setembro, com a quebra do banco Lehman Brothers, e o Copom – que havia inclusive elevado o juro cinco dias antes – só foi diminuir a taxa quatro meses depois, em janeiro de 2009. Para os críticos, houve “barbeiragem”.
Reação da "imprensa liberal"
Borges, que é economista, participou, nesta terça-feira, de seminário promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) que discutiu o pacote de apoio à indústria lançado pelo governo para ajudar o setor produtivo a enfrentar uma eventual crise.
No debate, ele defendeu a liderança estatal na atual conjuntura. “O que a gente está propondo é uma forte intervenção do Estado num momento crítico”, afirmou. “É o Estado que dá a linha de onde deve se dar o processo de acumulação de capital. Os empresários não têm essa preocupação.”
Por conta desse caráter interventor do governo, o plano teria sido mal recebido pelos veículos de comunicação. “A reação da grande imprensa foi em seu conjunto contrária à política industrial”, disse. “É uma grande imprensa liberal.”
Segundo Borges, estaria havendo resistência a uma iniciativa que, em parte, lembra uma ação estatal histórica que ajudou o capitalismo a passar pela Grande Depressão dos anos 30, o New Deal do presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt.
O presidente da CUT, Artur Henrique da Silva Santos, acredita que os críticos da política industrial – que a central apoia no geral, mas critica em pontos específicos – preferem o liberalismo dos anos 90. E citou frase atribuída ao ex-ministro da Fazenda Pedro Malan: “A melhor política industrial é não ter política industrial”.
O economista Anselmo dos Santos, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também defendeu o pacote. “Os problemas do Brasil só serão enfrentados com a intervenção do Estado”, disse.
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Fonte: Carta Maior