Rios e ilhas do mundo

De fato, quem no mato sem cachorro em meio à Crise global quiser descobrir o vasto mundo há de ter um grande rio a fim de descer a galope até o mar profundo em canoa montaria boa. Há de querer descobrir uma ilha filha da sua imaginação e aí – que nem Macunaíma, cheio de malícia e preguiça; ao contrário do avozinho europeu – se coroar imperador no reino da encantaria que nem a odisséia de Ulisses depois da guerra de volta a terra, reencontrar seu velho cão na ilha de Ítaca, junto à fidelíssima Penélope … Sim! Depois da embatucada civilização industrial, há que se reencontrar o antigo ócio criativo como negócio pós-colonial para todos, todolos! Todolos! Aposentar a besteira de elite da iberiana presepada amazônica.
Porém o ribeirinho de tamanho sonho carece ter pés no chão. Fazer-se arquiteto de novos mundos com o barro dos primeiros dias a cabo da primeira noite do mundo, democratizar a Utopia para reinventar o futuro da Terra sem males.

Quem habita o Ver O Peso e o tempo da chuva das duas horas da tarde em Belém do grão Pará; quem mora na filosofia da academia do Peixe frito, viaja no lombo da Cobragrande e ancora a bordo do navio encantado na costa-fronteira da Ilha das Onças defronte à Vila da Barca: um dia almeja subir a cabo de remo e vela o grande rio das almazonas (isto mesmo almazonas…), ver o peso da maré, visitar a mina de puteiros, meter gateiros na cadeia, achar barreiros e compreender tantos salceiros pelo beiradão, caminho das drogas do sertão e das tropas de resgate antigamente…

Então, no Alto Amazonas, há de ver a mais valia da brava gente que habita palafitas desde sempre, que nem em Belém de Iquitos, bairro das águas descidas deste elevadas paragens andinas de Machu Pichu para a formidável planície no tropel furioso de “los pongos” através da apurada taquicardia do Apuriamac…

Na distância amazônica e solidão da lenda de Ofir, no Solimões lendário donde a borracha inventada pelos índios foi prestar serviço à revolução industrial, o Nilo celestino vem à lembrança da mais antiga civilização que nasceu do ventre da mãe África no berço escuro da Etiópia para florir com os faraós do Egito: mestiçagem de tribos semitas, berberes e indo-européias além mar Mediterrâneo no apogeu Greco-romano.

No primeiro fim da história, a última fronteira da Terra plana, no rio das amazonas: nova zona tórrida das antípodas… Diáspora da velha casa do pão, desde a prístina Filistina até o grão Pará e mais arriba até Iquitos, no bairro de Belém, querendo remontar o rio para os Andes, até as nascentes no Peru e antes mais abaixo a volta grande de Orellana e Pedro Teixeira, na bifurcação para o Napo, subindo para Quito, no Equador…

Quantos são os sóis e luas no céu tantos são na terra as ilhas dos mares e rios do mundo: cidades e aldeias à beira rio e mar hão de ser hortos e jardins de um outro mundo possível. Onde velhos e crianças brincarão descuidos da luta de classes e crises cíclicas da Bolsa e no bolso. Ama e sonha Amazônia!

   José Varella, Belém-PA (1937), autor dos ensaios "Novíssima Viagem Filosófica", "Amazônia Latina e a terra sem mal" e "Breve história da amazônia marajoara".

autor dos ensaios "Novíssima Viagem Filosófica" e "Amazônia latina e a terra sem mal", blog http://gentemarajoara.blogspot.com