Os recursos hídricos de que dispõe o Brasil colocam o país no centro da polêmica quando o assunto é geração de energia. Mas não é de uma hora para outra que uma hidrelétrica sai do papel. A Usina de Belo Monte, cujos debates sobre a construção começaram nos idos dos anos 1970 e duram até hoje, é um dos principais exemplos. E um dos entraves para seu andamento é o impacto social e ambiental que provocará.

Para o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe-UFRJ), do ponto de vista social, há uma saída para a construção das hidrelétricas. A perturbação provocada nas áreas de impacto da usina pode ser compensada como uma alternativa às famílias afetadas.

“É um problema real. Elas moram ali e precisam sair. Agora, tem que ser para melhor. A conservação da pobreza, para mim, é uma patifaria. É muito cômodo eu estar aqui cheio de eletricidade, com computador ligado, viajando de avião várias vezes ao ano, enquanto no Norte fica todo mundo comendo folha e caçando minhoca. Isso é deplorável. As pessoas têm que sair desse nível primitivo de vida e passar a integrar o mundo moderno. Não precisa comprar automóvel, nada disso, mas tem que ter educação, saúde, eletricidade em casa, habitação decente.”

Ao fazer essa defesa, Pinguelli, que participa do seminário “Hidrelétricas: as necessidades do País e o respeito à sustentabilidade”, promovido pela CartaCapital no próximo dia 22, cita o exemplo do povo Inuit, nova denominação dada aos esquimós, que vivem em Quebéc, no Canadá, onde foi construída a usina hidrelétrica La Grande 2. De acordo com o professor, é um modelo viável. “Os canadenses têm populações de esquimós em altíssimo padrão de vida graças à renda das usinas hidrelétricas que ocuparam parte da terra deles.”

O professor explica, porém, que, do ponto de vista ambiental, o impacto da hidrelétrica é inevitável. “Já se reduziu muito [o impacto] aqui no Brasil ao fazê-las a fio d’água, sem reservatório. Assim, ela não inunda quase nada”, diz. O professor da UFRJ acredita ainda que há protestos justos, corretos, da oposição à Belo Monte e há outras equivocadas.

“A inundação, por exemplo, é mínima”, afirma. “Quinhentos quilômetros quadrados na Amazônia é uma poça d’água, ainda mais que é em cima do rio, parte dessa área é do Rio. Ele é largo e ele mesmo se alarga mais ainda. O reservatório de Belo Monte é muito pequeno. Não há reservatório praticamente.”

Embora tenha capacidade instalada de 11 mil MW, o que a tornará a segunda maior hidrelétrica do país, Belo Monte terá produção de energia em períodos de seca na ordem de 4,4 mil MW, 40% da capacidade. A atual maior usina do país, a Itaipu binacional, tem 14 mil MW de capacidade e produção em época de seca alcançando os 61%.

Pinguelli relativiza essa situação. Para ele, é um equívoco vender essa ideia comparando com 100% da capacidade da usina. As usinas brasileiras têm um nível de capacidade um pouco acima de 50%. “Há uma exceção, por exemplo as usinas do rio Madeira, que estão muito acima dos 50%. Agora, a média brasileira fica um pouco acima de 50% e Belo Monte fica em 42%, que é bem pior. Mas as hidrelétricas do mundo, a média é muito abaixo disso. Na Europa, em alguns casos, abaixo de 30%; os EUA a média deles é 46% em todo o território americano. Se fizesse reservatórios grandes como no passado, você regularizava o rio e poderia aumentar muito o fator de capacidade. Mas isso não é mais feito para evitar impacto ambiental, porque você guarda água de um período para outro, aí regulariza e inunda uma área grande. Mas evitando inundar você tem que conviver com esses fatores de capacidade. O que já está acontecendo no Brasil, necessidade de complementação à hidrelétrica, o que está sendo feito.”

A licença para a instalação da usina foi dada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 1º de junho deste ano. Antes de entrar em funcionamento, a usina ainda precisa obter uma licença de operação, que está condicionada ao cumprimento de todas as exigências socioambientais previstas no projeto.

Esses e outros temas sobre a construção das usinas hidrelétricas no país serão discutidos no seminário “Hidrelétricas: as necessidades do País e o respeito à sustentabilidade”, promovido pela revista CartaCapital no próximo dia 22 de agosto. Além da participação do professor da UFRJ, são convidados para o debate Jorge Miguel Samek, diretor-geral da Itaipu Nacional; Miriam Belchior, ministra do Planejamento; José da Costa Carvalho Neto, presidente da Eletrobrás; e Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Veja a programação completa:

“Geração de energia: desenvolvimento econômico sustentável, trabalho e bem-estar”
Miriam Belchior, ministra do Planejamento

“As novas hidrelétricas:com conservação do meio ambiente e respeito ao cidadão”
José da Costa Carvalho Neto, presidente da Eletrobras

“Contribuição da Itaipu para o desenvolvimento e a integração do Brasil e do Paraguai”
Jorge Miguel Samek, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional

“O papel da hidreletricidade na matriz energética brasileira”
Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, EPE

“Hidrelétricas: fazer ou não fazer?”
Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ

Mediador: Dal Marcondes, diretor da Envolverde

Data: 22 de agosto de 2011
Horário: das 9 às 13h
Local: Caesar Business – Rua Olimpíadas, 205 – Vila Olímpia – São Paulo

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Fonte: CartaCapital