O agravamento da crise econômica nos Estados Unidos e na Europa deve provocar um processo de desaceleração da economia mundial com repercussões na China, que inclusive deve diminuir os preços internacionais de ativos, sobretudo commodities, afirmou o professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica, Luiz Gonzaga Belluzzo. "Nesse contexto internacional, os juros no Brasil vão acabar caindo", comentou ressaltando que compete ao Banco Central determinar qual o momento mais adequado para iniciar o ciclo de corte da Selic. Contudo Belluzzo ponderou que, como a Selic está num patamar muito alto, de 12,5% ao ano, o BC teria espaço para cortá-la até o nível de 8% aproximadamente. Ele citou que a velocidade do corte dependerá das condições da evolução do nível de atividade mundial.

"Se o Fed adotar o QE3 aí nós teremos que nos cuidar para proteger o câmbio e a taxa de juros teria que cair com certa rapidez", comentou." Por outro lado, caso o desaquecimento global seja menos intenso no curto prazo, mas mesmo assim com impacto negativo em preços de minerais, alimentos e petróleo, o BC poderia adotar uma política mais gradual de redução da Selic."Esta postura mais cautelosa de queda dos juros deveria ser adotada para evitar uma depreciação súbita do câmbio, fato que prejudicaria muitas empresas brasileiras com dívidas atreladas ao dólar", destacou. Para Belluzzo, é necessário aguardar o desempenho da economia americana no próximo mês, a fim de verificar quais medidas monetárias o Federal Reserve (Fed) poderá adotar. Para muitos especialistas, inclusive o acadêmico, o Fed se tornou a última esperança do governo dos Estados Unidos para diminuir as chances daquele país ingressar em breve numa nova recessão – double dip.

Belluzzo tem uma avaliação pessoal de que a inflação no Brasil não deve preocupar mais nos próximos meses. Especialmente devido ao movimento desinflacionário que o mundo está vivendo e que deve continuar nos próximos trimestres. "Você acha que vai ocorrer um novo choque de commodities? Eu não acredito". Com o desaquecimento crônico no curto e médio prazo, o economista acredita que a China será afetada mas continuará com crescimento vigoroso a ponto de alcançar uma média de expansão de 8,5% ao ano. Para o Brasil, o acadêmico ressalta que a economia pode perder um pouco de vigor, mas acredita que é possível que cresça entre 3,55 e 4,5% no próximo ano.

O acadêmica ressalta que entre os instrumentos que o governo pode usar para mitigar os efeitos da crise internacional sobre o Brasil. O principal deles é a queda de juros. "Como a economia está aquecida, não é necessário relaxar o aperto fiscal que nesse caso precisa ser mantido. Belluzzo defende a queda de juros de acordo com a constatação, pelo BC, de uma situação confortável para a inflação. Contudo ele já fez críticas à postura do BC no passado, quando poderia ter baixado o patamar de juros e não o fez. Ele se refere especialmente ao final de 2008, quando em plena crise financeira global, a pior desde a década de 30, o BC elevou a Selic no dia 10 de setembro de 2008, de 13% para 13,75%. O mundo já passava por problemas sérios de desaquecimento desde agosto de 2007. E que mergulhou numa recessão global a partir de 15 de setembro quando quebrou o banco Lehman Brothers. O Copom manteve a taxa de 13,75% por mais quatro meses e somente a reduziu no dia 21 de janeiro de 2009, bem depois que os principais bancos centrais do mundo iniciaram uma política agressiva de juros mais baixos.

Belluzzo fez tais comentários depois de participar do seminário "Novo Desenvolvimentismo e uma Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento", organizado pelo Centro Internacional Celso Furtado com o apoio da FGV-SP.

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Fonte: Agência Estado