Justiça espanhola prossegue investigação às agências de rating
As agências de rating são acusadas de se comportarem como sanguessugas do dinheiro público, em benefício dos seus clientes no sistema financeiro. Foto doug88888/Flickr No mês passado, a Fiscalia Anticorrupción – semelhante à Procuradoria Geral da República portuguesa, com o máximo responsável nomeado pelo governo – pronunciou-se pelo arquivamento da queixa, embora considerasse na fundamentação que existe "um nexo muito claro" entre a acção das agências e "o dano causado aos cofres públicos espanhóis". Esta terça-feira, um juíz da Audiencia Nacional decidiu manter viva a queixa e pedir outro relatório à Fiscalía, após a entrega de vários documentos por parte dos queixosos sobre as acções das agências nos últimos meses.
A queixa crime contra as agências de rating, por manipulação do mercado em favor dos seus clientes à custa dos dinheiros públicos, foi entregue na justiça espanhola por sete organizações, entre as quais os partidos Izquierda Unida, Esquerra Republicana de Catalunya e Iniciativa per Catalunya/Verds. Também em Portugal, um grupo de economistas entregou uma queixa-crime na PGR, à semelhança do que já foi feito em Itália e nos Estados Unidos. Todas as queixas acusam as agências de terem agravado a crise da dívida destes países, em benefício dos seus clientes.
O destino da queixa espanhola foi alvo de polémica quando foi descoberto que a primeira procuradora responsável pela investigação, Carmen Monfort, se tinha reunido com os advogados das agências. O diário espanhol Público confirma que a Moody's, Standard and Poor's e Fitch são defendidas em Espanha pelos escritórios de advogados Cuatrecasas Gonçalves Pereira e Uría Menéndez, em cujo ramo português pontificam António Vitorino e Proença de Carvalho.
As eventuais pressões das agências sobre o governo de Zapatero já levaram a Izquierda Unida a questionar o governo no parlamento, criticando-o por não ter dado instruções à Procuradoria para que "trabalhasse de forma decidida em defesa do interesse económico público" e perguntando se alguma das agências tentou "comunicar directa ou indirectamente ao governo a sua intenção de não classificar mais a dívida espanhola enquanto prosseguisse o procedimento penal".
Em Itália, a Procuradoria de Trani apreendeu no início de Agosto vários documentos nos escritórios da Moody's e Standard & Poor's, na sequência de queixas apresentadas por associações de consumidores. A primeira denúncia acusa a Moody's de difundir um comunicado em Maio em que afirmava que o sistema bancário italiano estava em risco com a queda da Grécia, provocando de imedidato a queda nas cotações bolsistas. "Foram "juízos infundados e imprudentes", diz a Procuradoria italiana. Outra das queixas é mais recente e diz respeito à avaliação do plano de cortes apresentado por Berlusconi em Julho. A agência Standard & Poor's deu nota negativa ao plano, "antes de haver um texto definitivo", refere a Procuradoria de Trani.
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Fonte: Esquerda.net