Floresceram cem mil margaridas
Floresceram cem mil margaridas
Nunca dantes neste país descoberto por Cabral as mulheres conquistaram tanto poder quanto agora.
A antiga terra das palmeiras está ainda mais cheia de graça e malícia. Brasília, capital da esperança de todos os Brasis, não cansa de lutar pra ver o dia nascer feliz.
Amanheceu, a mulherada pegou estrada em clima de deserto no Cerrado e foi ao encontro da Presidenta Dilma em plena faxina com que ela mandou fazer lavagem da Esplanada, de alto a baixo.
Mas, de repente, o plano-piloto de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer se encantou com a prodigiosa marcha das margaridas vindas dos quatro ventos de Brasília: dos sertões profundos, de rios distantes, de todos os rincões do país-continente, da beira do mar, do Pantanal, dos Pampas, da Caatinga, da Floresta Amazônica…
Singela homenagem da pátria amada à viva lembrança da mártir brasileira da reforma agrária Margarida Maria Alves, há 26 anos assassinada pelo crime do latifúndio e o machismo atávico, impune até hoje.
Hora extremamente grave quando, há poucos dias, a mão armada de aluguel do Crime abateu a tiros sem chance de defesa a valente juíza Patrícia Acioly! Claro: estas mulheres-símbolos da Pátria foram alvos, todavia o que os covardes inimigos do povo brasileiro querem matar, de fato, é a democracia a fim de deter a marcha triunfante da República Federativa do Brasil!
Porém, do asfalto escuro há de brotar rosas vermelhas. Como do chão agreste onde Margarida tombou brotaram margaridas que se multiplicam pelo Brasil inteiro.
Não há dúvida de que, tal qual o sacrifício de Chico Mendes, Paulo Fontelles, João Batista, Doroty Stang, José Cláudio e Maria Espírito Santo além de muitas outras vítimas marcadas para morrer a mando do latifúndio predador e do crime organizado, fez nascer aos montes reservas extrativistas e de desenvolvimento sustentável; toda nossa América do Sol há de vencer o império da maldade e se cobrir de milhões e milhões de flores de todas cores e variedade.
Desde que Margarida morreu, nasceram e se levantaram muitas Margaridas, as quais marcharam gritando contra a violência, querendo o fim da fome, do desemprego, do trabalho escravo, pedindo mais terra, água, trabalho solidário, ciência e tecnologia para uma agroecologia libertadora.
São mães, companheiras, irmãs e até avós desta brava gente responsável por Lula e Dilma lá em cima no Planalto: prestem atenção! Sem voto popular não tem democracia pra ninguém!…
Este ano marcharam cem mil margaridas, uma das maiores mobilizações de mulheres e do sindicalismo rural com “2011 razões para marchar por desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade” pedindo à primeira Presidenta do Brasil mais e melhores políticas públicas para o povo do campo, da floresta e do litoral.
Campesinato amparado justa e perfeitamente: campo produtivo, meio ambiente saudável, cidade feliz. É isto que a Marcha das Margaridas nos diz.
Sim, nosso Brasil velho de guerra pela utopia selvagem da Terra sem Mal, o maior mais amazônico do planeta, conquista as guerreiras amazonas: não é pouca coisa a revolução verde e amarela, digam lá o que quiserem os entreguistas, indolentes, indiferentes, agiotas do câmbio, amigos da onça e inimigos da brava gente.
José Varella, Belém-PA (1937), autor dos ensaios "Novíssima Viagem Filosófica", "Amazônia Latina e a terra sem mal" e "Breve história da amazônia marajoara".
autor dos ensaios "Novíssima Viagem Filosófica" e "Amazônia latina e a terra sem mal", blog http://gentemarajoara.blogspot.com