Sob lemas como «Luta por um emprego», «Os verdadeiros saqueadores são os bancos», «Dêem um futuro aos nossos filhos», o desfile teve lugar precisamente uma semana depois da eclosão dos distúrbios que já provocaram cerca de 2300 detenções e cinco mortos em várias cidades da Grã-Bretanha.

No final do desfile, os manifestantes realizaram uma assembleia onde se ouviram apelos à não-violência, mas também críticas à política de austeridade do governo de centro-direita e medidas para atenuar os graves problemas sociais que atingem amplas camadas empobrecidas da população.

No centro de Tottenham, os manifestantes voltaram a reclamar justiça pela morte de Mark Duggan, de 29 anos, abatido pela polícia em circunstâncias não totalmente esclarecidas. Depois de as autoridades terem garantido que Duggan fora morto num tiroteio, na semana passada uma comissão de investigação revelou que a vítima não disparou nenhuma arma.

Fractura social

Ao contrário do primeiro-ministro, David Cameron, para o qual os graves acontecimentos que incendiaram parte da capital britânica e alastraram a outras cidades se resumem «a criminalidade pura e simples», o ministro das Finanças, George Osborne, reconheceu que os distúrbios no país reflectem graves problemas sociais. Nesse sentido, explicou que algumas comunidades foram excluídas da vida económica e ignoradas durante demasiado tempo e que é necessário «ajudar aqueles que sentem que não têm lugar na sociedade».

Esta visão é parcialmente partilhada pelo polícia norte-americano, Bill Bratton, contratado como assessor por Cameron, para ajudar a controlar os motins urbanos. Bratton, que foi chefe de polícia em Nova Iorque, Boston e Los Angeles, assinalou: «As detenções são certamente apropriadas para os mais violentos, os incorrigíveis, mas grande parte deste problema deve ser abordado de outro modo. Não é apenas uma questão policial, é também uma questão social», declarou, dia 13, à cadeia norte-americana ABC.

Entretanto, a polícia metropolitana colocou 16 mil agentes nas ruas de Londres, em vez dos habituais 2500, de modo a manter a «calma e tranquilidade». A segurança foi igualmente reforçada nas cidades de Manchester, Nottingham e Birmingham, onde também houve tumultos.

De resto, o clima de repressão parece ser a principal opção do governo britânico. Na segunda-feira, 15, David Cameron reiterou, em Oxford, que os distúrbios não tiveram qualquer componente racial nem foram originados por cortes no orçamento ou pela pobreza, resultando apenas da «má conduta» dos seus autores, aos quais declarou uma «guerra total». Pouco depois, porém, contradizia-se, qualificando o ocorrido como «uma chamada de atenção» ao país; «os problemas sociais que foram gerados durante décadas explodiram-nos na cara».

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Fonte: jornal Avante!