Ambas – tanto a fiscal quanto a monetária – atuam sobre o nível da demanda da economia, derrubando quando se quer combater a inflação, aumentando, quando se quer combater a recessão.

Se se aumentam os juros, teoricamente reduzem-se as vendas; e vice-versa. Se há um choque fiscal (corte de despesas ou aumento de impostos) retira-se dinheiro da economia e reduz-se o nível de atividade. E vice-versa.

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Na crise de 2008, a Fazenda tomou uma série de medidas fiscais para estimular a economia – reduzindo impostos sobre vários bens de consumo. Mas o Banco Central atuou no sentido inverso, mantendo taxas de juros extraordinariamente elevadas, contendo a demanda.

Foi um erro monumental, só equiparável ao choque fiscal ocorrido em São Paulo no mesmo período, durante o governo Serra. Aliás, em dezembro de 2008, com a economia nacional desabando, o Banco Central ainda sustentava que a atividade econômica era robusta.

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Além de comprometer o esforço fiscal, significava um custo extraordinário, no aumento do serviço da dívida pública – o que obrigava a um esforço fiscal adicional, depois da crise, para recuperar a trajetória de queda da relação dívida/PIB.

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Desde fins do ano passado, tentou-se uma mudança de rota. O Ministério da Fazenda adotou um conjunto das chamadas medidas prudenciais para conter a demanda. Fazem parte desse estoque aumento do compulsório dos bancos (a parcela dos depósitos que os bancos precisam recolher ao BC), exigência de entradas maiores nos financiamentos, redução de prazo etc. Todas elas são medidas que impactam a demanda, sem pressionar a dívida pública.

Ao mesmo tempo, o BC ensaiava uma mudança lenta e gradual no discurso econômico.

Um dos grandes desafios para o mercado aceitar as chamadas medidas prudenciais era dispor de modelos que permitissem avaliar o impacto das medidas sobre a inflação. O chamado "efeito manada" exige formas padronizadas de avaliação de inflação futura.

Outro desafio era ampliar o escopo da pesquisa Focus (que mede expectativas de mercado), incluindo setores não beneficiários da alta da taxa Selic.

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Mesmo assim, a taxa Selic não caiu. Só agora o próprio mercado começa a mudar as expectativas, aceitando taxas menores para enfrentar a crise. Mais uma vez, o BC irá a reboque.

Nos últimos dias, tanto a presidente Dilma Rousseff quanto o Ministro da Fazenda Guido Mantega deram a receita oficial para enfrentar os efeitos da crise global: pé no freio fiscal (com cortes orçamentários) e redução das taxas de juros. Estimula-se a economia via juros, mantem-se o controle fiscal e reduz-se gradativamente o custo da dívida pública.

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Nos últimos 13 anos, só de juros da dívida pública o Brasil pagou R$ 2 trilhões, em valores históricos, R$ 7 trilhões em valores corrigidos.

Para efeito de comparação: para levar água potável e esgoto tratado para todos os brasileiros (hoje em dia existem 36 milhões sem acesso) seriam necessários R$ 295 bilhões até 2025 – o equivalente a apenas um ano e quatro meses de juros.

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Fonte: Luis Nassif Online