Com manifestações previstas para a Pintada, dia 17, Buriti Cristalino e Brotas de Macaúbas, dia 18, os 40 anos da morte do capitão Carlos Lamarca e de José Campos Barreto serão lembrados com atos públicos, missa e noite cultural, além de apresentação de filme. Trata-se de eventos desenvolvidos pelo Instituto Zequinha Barreto em conjunto com a Diocese da Barra e as prefeituras de Brotas de Macaúbas e Ipupiara, com apio do governo estadual.

A programação dos dias 17 e 18 de setembro próximo será intensa, como informa Roque Aparecido da Silva, sociólogo ultimamente trabalhando em Salvador e companheiro de Zequinha na famosa greve dos metalúrgicos de Osasco, em 1968. Ele informou que para o principal ato público, em Brotas de Macaúbas, no dia 17, está prevista a presença da ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, além de várias outras autoridades, bem como de representantes de movimentos sociais e entidades vinculadas à luta pelos direitos humanos. Está incluída na programação uma homenagem ao geógrafo baiano Milton Santos, que morreu há dez anos e que é filho do município de Brotas.

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PROGRAMAÇÃO

Dia 17 (sábado)

10h – Ato público em Brotas de Macaúbas

12h30 – Almoço

13h30 – Deslocamento para a Pintada

14h30 – Ato em Pintada e visita às obras do Santuário dos Mártires

19h30 – Exibição do filme do Buriti a Pintada, de Reizinho Pereira dos Santos

Dia 18 (domingo)

10h – Momento Celebrativo em Buriti Cristalino

12h – Almoço16h30 – Momento Celebrativo na Pintada

19h30 – Noite Cultural em Brotas de Macaúbas

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Família de Lamarca lembra execução

Assinado pela família de Carlos Lamarca – Maria Pavan Lamarca, Cesar Pavan Lamarca e Claudia Pavan Lamarca – texto é um testemunho visceral da saga de um homem que entrou para a História do Brasil.

Veja:

"Tudo que já se escreveu sobre Carlos Lamarca permite a reflexão de um momento da História do Brasil. Não há dúvidas de que sua atitude, decisão e sacrifício foram refletidos em gerações que ainda, pouco ou nada sabem sobre este brasileiro.

Em 11 de setembro de 2011 um canal brasileiro de televisão mostrará ao Brasil, ao povo brasileiro, 10 anos do acontecimento em New York, quando as torres do World Trade Center foram atingidas por duas aeronaves de grande porte, que resultou na morte de inúmeras pessoas.

Em 17 de setembro de 2011, farão 40 anos da execução sumária de Carlos Lamarca, nenhuma reportagem será levada ao conhecimento do povo brasileiro.

É de conhecimento geral que foi executado por forças federais brasileiras, por muito tempo fora forjada a “idéia” de que, apesar de sua condição física, esta constatada após a execução, que ele teria oferecido resistência impar as forças federais brasileiras, a verdade dos fatos, não lhe foi possível oferecer nenhum tipo de reação dada a sua condição física a aquele momento.

Seu corpo fora violado após a morte, sobre seu cadáver ocorreram atos abomináveis ao ser humano e a conduta de honra entre militares, seu transporte foi da mesma forma quando uma caça é abatida, até sua chegada ao IML de Salvador – Estado da Bahia – BA.

Foi exposto ao olhar de curiosos, de personalidades políticas e militares como um troféu e somente, após a chegada de alguns parentes vindo do Rio de Janeiro, e, a pedido de um deles, que foi cessada aquela peregrinação. Seu corpo foi reconhecido por parentes, enterrado em cova comum no cemitério da cidade de Salvador, e somente em 1973 foi possível o traslado para a cidade do Rio de Janeiro por seus parentes e sepultado no cemitério do Caju.

Tudo isto ocorreu longe de sua companheira e seus filhos, pois residiam em Havana – Cuba e somente regressariam após a “abertura política” no Brasil em 1979. Cumpriram exílio durante 10 anos seguidos.

São 40 anos de sua execução. A família Lamarca resgatou de forma silenciosa a cidadania brasileira, pois se encontrava em terra estrangeira, se mantém sob orientação de Maria Pavan Lamarca, hoje com 74 anos de idade e sua convicção é de que, ainda há muito a ser feito em memória de seu companheiro.

Contrariando orientações e seguindo a sua determinação pessoal foi a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, e com muito afinco e determinação prova que, a farsa forjada na Operação Pajussara era frágil demais para ser mantida, com ajuda do Deputado Federal Nilmário Miranda, do Partido dos Trabalhadores exumou os restos mortais de seu companheiro e no IML de Brasília o Legista Médico, Nelson Massini prova a execução de seu companheiro.

A Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos e a imprensa recebem de um repórter do Jornal O Globo, um material comprometedor as forças federais brasileiras, material este “escondido” dentro de um cofre, em uma “sala esquecida” na Polícia Federal em São Paulo, onde lá foram encontradas sete pastas que mostram um dossiê completo e fotografias de Carlos Lamarca e que serviram de base para contribuir com a suspeita de execução em contribuição com as observações profissionais do médico legista.

Não houve dúvidas para a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, Carlos Lamarca fora executado sumariamente, lhe fora interrompida a vida, lhe fora privado o direito a rendição, a prisão, ao julgamento, a pena e possivelmente a anistia política e restituição dos direitos, inclusive a promoção militar, pois lhe interromperam a vida, assim como ocorreu com muitos outros.

A Carlos Lamarca lhe foi alienado o direito a vida. A sua companheira vai a Comissão de Anistia requerer o que também, o Poder Judiciário atual não reconhece em benefício de seu companheiro, em benefício do resgate do direito constituído, o direito a anistia política.

Seus representantes judiciais lutam até a presente data, de tribunal em tribunal, de recurso em recurso, de agravos em agravos para derrubar uma liminar sustentada pelo Clube Militar do Rio de Janeiro, como um troféu contra a anistia de Carlos Lamarca. Os representantes judiciais de Maria Pavan Lamarca lutam a 24 anos seguidos pelos reparos devidos a família Lamarca.

São 40 anos da execução de um homem que entregou sua vida pela luta democrática, optou pela luta armada, pois quem se impôs no poder pela violência deveria ser removido da mesma forma, pelas armas.

Nós da família Lamarca lamentamos que, após 40 anos da execução de Carlos Lamarca sua condição seja a mesma, não se deseja medalhas e honrarias e sim o que a lei permite dentro do estado de direito.

Carlos Lamarca, ainda, e possivelmente seja o único brasileiro não anistiado pela própria Lei de Anistia, pelo Poder Judiciário e pela própria União, independente de governos e suas políticas.
Nós da família Lamarca olhamos para o nosso querido marido e pai, em uniforme militar com uma brilhante carreira pela frente e o recebemos e suas últimas fotografias quase como um mendigo, isso não passa de uma vergonha para este País, principalmente para aqueles que se pautam como soberanos da esquerda brasileira.

Não resta dúvidas que esquecer, ignorar, fugir as responsabilidades tem sido uma constante, pois não há mais ideais a serem alcançados, não resta mais nada que, simplesmente aceitar o tempo como bandagem a uma sangria desenfreada de ignorância aos fatos da História do Brasil, nós não somos parte desta hipocrisia e que, de pouco ou nada servirão estas palavras escritas, mas não restam dúvidas de que, a consciência de cada um é seu próprio juiz no final da jornada, e esse julgamento que o tempo prega é como aquela tormenta que chega de vez para que, talvez, possamos refletir dos atos do passado e presente.

A família Lamarca nunca se rendeu, nunca sucumbiu, mas sem nenhum tipo de fobia sabe que são “os novos perseguidos políticos do Brasil”, pois é a partir da transferência de ódios do passado e pendências que, personagens da política brasileira que abominam a democracia, mas se servem dela, se aproveitam de suas condições como parlamentares para atacar aqueles que restaram do sacrifício pela Nação. Quando três clubes militares se unem contra uma brasileira, de 74 anos de idade para lhe suprimir um direito inalienável, o direito de anistia de seu próprio companheiro, é porque chegamos ao caos silencioso e a ignorância de fatos amparados na alienação do poder judiciário de alguns magistrados, onde permitem o dolo a uma família, em particular a uma senhora de 74 anos de idade e compactuar com o passado de desrespeito aos direitos constituídos.

Sua companheira recebeu a missão de seu companheiro de educar seus filhos, cuidar deles, ela está até hoje entrincheirada, sem armas, mas consciente de um dever eterno a ser cumprido, preservar seus filhos e agora seus netos.

Não nascemos para mendigar direitos, nascemos para vencer, somos uma família unida e temos preservado o nome de Carlos Lamarca como compromisso aos ideais e respeito a sua memória.

Um homem morre, suas idéias são eternas.
Ousar Lutar, Ousar Vencer".

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Com informações dos blogs http://vidaspelavida.blogspot.com
e http://ousarlutar.blogspot.com

Fonte: Blog da Chapa da Diamantina