Como a juventude deve lutar pela defesa da pátria
À juventude está reservada uma missão de extraordinária responsabilidade, nos dias inquietos e perigosos que vive o Brasil, a América e todo o mundo. A guerra que, em 1º de setembro de 1939, se desencadeou entre a Alemanha e Itália, de um lado, países fascistas, e a Inglaterra e a França, países democráticos, do outro, com um caráter de disputa de grandes interesses e capitais em jogo; esta guerra que foi envolvendo todos os países neutros da Europa, indefesos, entregues por filhos traidores, os quinta-colunistas, e dominados pela Alemanha, que tem submetido até hoje a provas e sacrifícios que repugnam ao mais frio temperamento; esta guerra que culminou com a invasão da União Soviética, país com o qual a Alemanha havia firmado um pacto de não agressão; esta guerra que chegou à America com a invasão covarde e traiçoeira ao país irmão, Estado unidos, é hoje uma guerra essencialmente para a dominação mundial do nipo-nazi-fascismo, é uma guerra entre a Liberdade e a Civilização, de um lado e a opressão e a barbárie de outro. Todos que ativa ou passivamente ajudam a vitória do fascismo, estão contra a sua pátria, por que o fascismo quer subjugar o mundo. Todos os que lutam contra o fascismo são merecedores de nossa solidariedade, do nosso apoio, por que estão ajudando a derrotar e esmagar o inimigo comum, estão contribuindo para a própria defesa da liberdade e independência do Brasil. Portanto, para sermos coerentes, conseqüentes e verdadeiramente patriotas, temos que agir assim, em relação à política internacional. Não podemos combater os nossos aliados. Isso é trabalho para a quinta-coluna, desagregadora, divisionista e traidora.
A guerra chegou ao Brasil
Numa empolgante e impressionante resposta, toda a América expressou o seu repúdio pela agressão ao nosso Continente e o seu apoio à causa da Liberdade dos povos, da Civilização e da Democracia. Na Conferência do Rio de Janeiro, glória para o nosso país, um dos maiores acontecimentos históricos da humanidade, toda a América decidiu romper relações diplomáticas com os aleivosos agressores, com a Alemanha, com a Itália e com o Japão, cerrando fileiras na frente unida dos povos na luta contra o fascismo.
O “eixo” então, para não deixar dúvidas aos povos da América dos seus propósitos de hostilidade e agressão, imediatamente põe a pique navios dos países latino-americanos: do Brasil, Uruguai, do Chile e da Venezuela e bombardeia costas sul-americanas. Em Tókio, os representantes diplomáticos brasileiros foram desrespeitados e maltratados. Seis dos nossos navios foram torpedeados e afundados, dezenas de nossos irmãos pereceram e a nossa soberania foi ultrajada e ofendida.
Em todo Brasil correu uma onda de ódio e indignação que se irradiou como um relâmpago. No Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Pará, etc., o povo brasileiro, na rua, expressou sua firme e patriótica decisão de repelir o agressor, vingar os nossos compatriotas e lutar denodamente contra qualquer tentativa de dominação do “eixo”.
A juventude brasileira já respondeu ao inimigo da Pátria
E os jovens do Brasil estiveram onde quer que se levantasse o nosso povo, sempre à frente da multidão que protestava. Ninguém mais do que eles, que sempre cultuaram com o mais sagrado carinho as tradições de Liberdade, Cultura, Progresso e Independência e pelas quais nunca deixaram de lutar, ninguém mais do que eles poderia, agora, quando um grande e iminente perigo ameaça a integridade de nosso território e nossa soberania, estar pronto moral e fisicamente para defender o Brasil. Aqui na Bahia, as demonstrações de 12 de março, os manifestos lançados e as reuniões realizadas pelos estudantes, são exemplos vivos do aceso e vivo patriotismo da juventude e do seu espírito anti-fascista.
Mas, esta ação é própria dos primeiros momentos de agitação; Este espírito deve manter-se firme. Entretanto, para defendermos seriamente o país, é preciso mais alguma coisa. È preciso organizar a ação do jovem (como a de todo povo), metódica e eficazmente.
Como trabalhar eficazmente pela defesa nacional
A muita gente, não sei com que propósitos, pode parecer apressada ou falsa a questão da defesa nacional imediata. Porém falso, criminoso mesmo, é pensar assim. Defender militar e civilmente as costas e o interior do Brasil, é um problema tão urgente, que receamos, até, não se tomem todas as providências a tempo. A quinta-coluna estrangeira e nacional (o integralismo) já está preparada para o assalto. E é maior quinta-coluna da América. Calculadamente se pode falar em 800.000 só de estrangeiros: japoneses, alemães e italianos. Para destruir logo os argumentos dos suspeitosos descrentes desse perigo e para alertar aos de boa fé, vamos citar telegraficamente alguns dados já do conhecimento das autoridades brasileiras:
A existência de um exército japonês de aproximadamente 125.000 pessoas, perfeitamente organizado, dirigido por altos oficiais alemães e japoneses, que ajudaria a ação das demais camadas quinta-colunistas para atacar o governo, quartéis, edifícios públicos e pontos estratégicos, etc., assim que recebessem as ordens de Tókio. Dispõem de metralhadoras, granadas de mão e canhões anti-tanques, que foram importados como máquinas agrícolas. Diversos setores deste exército estão localizados ao largo das linhas ferroviárias estratégicas, com a missão de fazê-las voar no momento oportuno, impedindo, desta forma, a chegada de reforços a São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde se encontram as maiores concentrações humanas e econômicas dos alemães, japoneses e italianos.
Em toda a costa de São Paulo existem oficiais navais japoneses, que simulam ser pescadores e que se estão preparando para impedir a chegada de reforços por mar, destinados ao sul do país.
As linhas ferroviárias que unem o Brasil à Bolívia e Paraguai foram minadas e podem voar a qualquer momento.
Em várias localidades, em todo o país, os colonos japoneses preparam a terra de tal maneira que facilmente pode ser convertida em base aérea.
Os pescadores japoneses construíram bases para submarinos em vários pontos de nossas costas.
As comunicações e serviços de água, eletricidade, que v;ao aos fortes e quartéis paulistas passam pelas propriedades japonesas, podendo ser cortadas com a primeira ordem.
Existem túneis, cavados pelos japoneses, debaixo das fábricas nacionais de armamentos, onde foram colocados campos de minas que fariam as desaparecer em um segundo.
A prisão continuada de oficiais alemães e japoneses, em todos os pontos estratégicos do país, principalmente no Nordeste (Natal, Recife, etc.), sendo apreendidos mapas militares, fotografias de cidades assinalando os pontos estratégicos, artigos de propaganda em português, armamentos em abundância, etc, etc.
Aqui na Bahia, conhecemos os casos dos armamentos aprendidos na colônia japonesa e da ação da quinta-coluna nacional no interior do estado, o que se repetiu em São Paulo e Rio de Janeiro.
Ao lado de tudo isso, a possibilidade de uma invasão aérea, e talvez naval, nas costas do nordeste brasileiro. É bastante significativo que o general alemão Wilhelm Faupel, que exerceu missão de responsabilidade junto ao exército brasileiro, esteja atualmente em Dakar, o ponto onde os nazista poderiam lançar uma ofensiva contra o Brasil.
Creio que estes fatos bastam para convencer-nos que estamos frente a uma luta iminente em defesa de nosso país, contra inimigos externos e internos, principalmente.
Principais medidas para ajudar à defesa
Vejamos agora, como organizadamente podemos contribuir com o nosso esforço individual e coletivo para defender o Brasil.
A experiência desta guerra mostra-nos que somente unido, como o povo inglês, o povo chinês e o povo russo, se pode sustentar uma luta vitoriosa contra o inimigo. Esta é uma verdade indiscutível. Custou muito caro aprende-la de uma vez por todas. Isto quer dizer que para organizarmos a defesa do país, para resistirmos à luta e chegarmos à vitória, é preciso que todos os brasileiros se unam, por cima de todas as divergências políticas e religiosas, e como um só homem lutem, na frente como na retaguarda, pelo mesmo objetivo: pela independência e pela liberdade de nosso povo e de nossa pátria.
Os jovens estudantes podem desempenhar um papel muito importante na elaboração da união de todos os brasileiros, que ainda está começando. No próprio movimento estudantil já há alguma experiência deste trabalho, por que na conquista de suas reivindicações procuraram unir-se todos deixando de lado as divergências. É verdade que muitos se afastaram do trabalho combatendo. Mas estes combaterão a defesa nacional, combaterão a própria pátria; são os quinta-colunistas, são traidores. Claro que a união não inclue a estes, porque o que eles querem é a desunião.
Nas suas organizações os estudantes devem trabalhar pela classe, mas tendo em vista o dever supremo da defesa nacional. Estes órgãos da classe estudantil, alguns de bastante prestígio nacional e estadual, poderão colaborar grandemente na mobilização da juventude para a defesa. Para as suas manifestações, os estudantes devem convidar todas as camadas da população, todas as entidades de representação profissional, todas as organizações culturais, de assistência e de beneficência.
A juventude deve estar em contato com o governo que seguindo a política do Presidente da República, após a Conferência dos Chanceleres, tem sabido compreender as demonstrações da juventude e do povo, de apoio à defesa de nosso país e combate aos nossos inimigos.
Finalmente devemos dizer sempre ao povo que esqueça as divergências e se uma em torno da bandeira de defesa da pátria. Devemos vigiar aqueles que falando em nome dos “interesses nacionais” estão procurando, de fato, desunir-nos e desarticuar-nos. O inimigo age assim, também.
Vimos que a questão fundamental para a defesa nacional é a união nacional. Como devemos, então, trabalhar por esta união? Quais são as medidas principais para quie o povo brasileiro se uma de fato, e conseqüentemente possa defender bem a pátria?
1) – Apoiar sem vacilações a política democrática externa do governo brasileiro e ajuda-lo no combate à quinta-coluna e na obra urgente da defesa. Apoiar as resoluções da Conferência do Rio, para as quais contribuiu o nosso país, representado pelo chanceler Oswaldo Aranha, e também ajudar o governo a cumpri-las;
2) – Colaborar para a defesa passiva anti-aérea, seguindo as instruções baixadas pelo Decreto-lei de fevereiro e instruindo a todo o povo a executá-las;
3) – Fundar Comissões de Ajuda à Defesa Nacional, das quais deve participar todo o povo, numa eloqüente demonstração de civismo, e tendo à frente figuras representativas da nossa sociedade e do nosso governo;
4) – Fundar Comissões de Ajuda aos Aliados, afim de prestarmos nossa contribuição aos nossos irmãos americanos, ingleses e demais povos que lutam pela liberdade e independência de todos os países. Estas comissões angariarão roupas, alimentos, abrigos, remédios, cereais, chocolate, cacau e tudo mais que possa servir aos soldados da liberdade. Em toda a América esta ajuda tem sido impressionante. A solidariedade do povo brasileiro não pode faltar nem tão pouco pode ser a última a chegar;
5) – Fazer a campanha pró alistamento da juventude nos CPOR, nos tiros de guerra, no exército, nos clubes de aviação, nos clubes de tiro ao alvo, etc. Esta importante iniciativa do exército brasileiro (a criação do CPOR) indo buscar no seio dos estudantes a reserva de nossa oficialidade, é merecedora de todo aplauso. Agora mais que nunca. Ao mesmo tempo, a campanha aeronáutica civil poderá ser orientada de maneira mais ampla, afim de que todos os jovens, seja qual for sua categoria social, seja facultado servir à defesa do país na aviação. As organizações estudantis poderão, ao lado das Comissões de Defesa Nacional, auxiliar bastante estas campanhas;
6) – Fazer a campanha pela participação da jovem brasileira na defesa nacional, através de clubes de enfermeiras, da Cruz Vermelha e em todas as demais atividades. Os exemplos de Ana Neri, Maria Quitéria e Anita Garibaldi são um símbolo do valor da mulher brasileira nos momentos em que a pátria necessitou do seu heroísmo;
7) – Fazer a campanha do alumínio, do ferro velho e tantas outras para auxiliar a produção de guerra;
8) – Estender estas atividades aos jovens de todas as profissões e a todo o povo, por que estes são os deveres da nacionalidade;
9) – Criar o ambiente moral, levantando o entusiasmo e o ânimo dos jovens e de todo o povo, o seu espírito patriótico, afim de que ninguém se furte ao trabalho pela pátria. Este é um fator decisivo na luta. A coragem e o patriotismo na linha de frente como na retaguarda são condições indispensáveis à vitória. Tão importantes como a qualidade do material bélico.
Por isso, principalmente, é que a campanha de ajuda aos países em luta contra o fascismo tem um valor incalculável. A prova material da solidariedade do mundo aos heróicos combatentes de Londres, China, França, Rússia, Austrália, Filipinas contribuirá enormemente para levar estes povos à vitória. Vitória que também é nossa.
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Esta é a maneira de ajudar a defender o Brasil. Assim, a atual geração cumprirá os seus deveres para com a pátria e os seus antepassados. Fora disso, estaremos apenas gritando e deixando o inimigo passar. É necessário fazer as duas coisas: manifestar os nossos sentimentos patrióticos e antifascistas, com toda energia, e trabalhar ativa e seriamente pelo Brasil. Tudo isso em função da defesa nacional, da união nacional e do combate aos nossos inimigos externos e à quinta-coluna.
O jovem brasileiro já tem um elevado saldo, na América, na luta pela Liberdade e pela Democracia. Depois que fizer o que os exige a defesa da pátria – e ninguém poderá duvidar – ele nada ficará a dever ao jovem de nenhum outro país do mundo
Fonte: Revista Seiva, junho de 1942