Falando para um auditório com mais de 250 participantes, na quinta-feira 29, na Faculdade de Economia da UFMT, Sérgio Barroso afirmou que o Brasil já viveu dos ciclos civilizatórios. O primeiro, segundo ele, ocorreu ainda no século XIX, com a proclamação da Independência, momento em José Bonifácio chegou a elaborar um projeto autonomista para o país, infelizmente descartado pela força política dos latifundiários de então, junto com outros setores. Mas nessa época já surgiram rebeliões de natureza republicana e democrática contra a ordem conservadora.

A Revolução de 30 abre o segundo ciclo civilizatório brasileiro, com o governo Vargas, um estadista burguês. Com a derrota da velha oligarquia, afirma-se um projeto de Estado nacional desenvolvimentista, que trouxe algumas conquistas como os direitos trabalhistas, no início de nossa industrialização. O papel do Estado, nesse contexto, foi determinante. “O Estado é importante até hoje, nos Estados Unidos, por exemplo, o Banco Central não dá um passo sem consultar o presidente da República. É o Estado no comando. Essa história de que o Estado não pode intervir na economia é conversa de liberal”, ressalta Barroso.

No contexto mundial, o Brasil se caracterizava pelo capitalismo tardio, com domínio imperialista e grande desigualdade, marcas do subdesenvolvimento.

Depois do esgotamento do nacional-desenvolvimento, o país ainda conviveu, a partir dos anos 1980, com a ascensão do neoliberalismo. “Desmonte do Estado, privatizações, desnacionalização da economia, aprofundamento da dependência externa, abertura comercial e liberalização financeira. Ao invés de se investir na produção, investia-se no mercado financeiro, aproveitando a elevada taxa de juros. O resultado foi aumento do desemprego, recessão, concentração de renda e aumento da desigualdade social”, pontua Barroso.

Agora, segundo Barroso, o país precisa entrar em seu terceiro ciclo civilizatório. Mas, para atingir essa etapa, precisa de um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. “Mesmo com as importantes conquistas dos governos Lula e Dilma, o país precisa avançar, precisa ter como meta a superação do capitalismo e de suas crises. O objetivo principal é alcançar a primeira etapa de transição do capitalismo para o socialismo nas condições do Brasil e do mundo contemporâneo. Um socialismo com feições brasileiras, a partir da nossa realidade histórica e cultural”, afirma categoricamente Barroso. Ele diz que, para isso, esse projeto precisa acumular forças, apoios e alianças, para conquistar a hegemonia.

O professor Tito Carlos de Oliveira, da UFMS, segundo palestrante da noite, discorreu sobre o tema “Mato Grosso no contexto nacional de um novo projeto de desenvolvimento”. Segundo ele, a economia tem que se reinventar, pois tem cada vez mais cuidado só das questões práticas, taxa de câmbio, juros, etc. “O economista tem de voltar a estudar filosofia, tem de voltar a pensar a economia política voltada para a sociedade e não somente para o enriquecimento individual.

O capitalismo hoje convive com a centralização do capital e descentralização da produção, assim se processam os arranjos produtivos locais, é nesse contexto que se insere a economia de Mato Grosso”. O professor Tito Carlos ainda ressaltou que a superação do capitalismo ainda vai exigir muita luta. “A burguesia, o capitalismo não irão morrer como morreu a oligarquia. A burguesia vai morrer estrebuchando”, disse ele.