Presidindo a sessão, o vereador proponente, Jamil Murad, fez a fala de encerramento, apontando, entre os presentes, diversas pessoas que participaram com ele das lutas democráticas que levaram à queda do regime militar. “A presença de tanta gente que participou de tantos episódios mostra que estamos entrelaçados na luta por uma sociedade melhor, por progresso, liberdade e igualdade”.

Ele ressaltou que embora ainda haja muita desigualdade, “as estatísticas mostram que o país já melhorou muito. Isso faz parte de um processo: derrubamos a ditadura, enfrentamos o neoliberalismo, elegemos Lula e Dilma. E essas vitórias do povo se devem a figuras como Dom Paulo”.

Jamil lembrou que “numa época em que sindicatos, partidos e entidades sociais estavam na clandestinidade, Dom Paulo foi um dos que abriram a igreja para a mobilização popular. Ele sentiu que poderia fazer algo por seu país e se jogou de corpo e alma nessa missão”.

Para o vereador, valores como os defendidos por Dom Paulo devem ser cada vez mais valorizados. “Temos de nos contrapor às ideias malignas que ainda permeiam nossa sociedade. Em São Paulo, uma das mais importantes cidades do mundo, pessoas ainda são agredidas por sua condição sexual ou por viverem nas ruas. Precisamos estar atentos contra essas demonstrações de violência e buscar o caminho da união na luta por causas justas. E Dom Paulo representa essa luta”.

A abertura do evento coube ao presidente da Câmara José Police Neto. Conforme destacou, “Dom Paulo vive cada momento em oferecimento à sociedade. Esta homenagem ajuda a perpetuar sua história para aqueles que virão depois de nós. Que a vida permita a cada um de nós conhecer cada vez mais obra de Dom Paulo”.

Reconhecimento

João Paulo, dirigente estadual do MST, ressaltou a defesa de Dom Paulo à reforma agrária. “Sempre dedicou a vida à defesa dos mais pobres e, ao longo dos anos, nunca mudou de lado”. Para ele, o fato de um vereador comunista homenagear um homem da igreja “é uma das coisas mais bacanas da construção de nosso processo democrático e de um novo país”.

Numa fala emocionada e repleta de lirismo, o padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, brincou: “quando vemos um comunista homenagear um católico ficamos vermelhos de alegria”. E completou: “Dom Paulo inspirou a resistência, a esperança militante; é o Dom Paulo dos mártires, dos presos políticos, dos pobres e dos moradores de rua”.

Clarice Herzog, viúva do jornalista Vladmir Herzog, morto pela ditadura em 1975, ressaltou que “nas mais tenebrosas circunstâncias, quando ninguém sabia se voltaria ileso para casa, ele lutou com persistência por liberdade para todos os brasileiros”. Clarice disse também que Dom Paulo “foi, para mim e para meus filhos, um bálsamo e um sublimador de nossas dores”.

Waldemar Rossi, da Pastoral Operária Metropolitana, destacou o fato de estar ali representando os trabalhadores e recordou que parte do movimento de resistência à ditadura nasceu de reivindicações populares, impulsionadas pelo trabalho de base de Dom Paulo. “Falávamos com o povo, com o trabalhador, do arrocho salarial, da piora nas condições de vida, da transformação da saúde em mera mercadoria para mostrar o caráter da ditadura”. Segundo ele, Dom Paulo “mostrava aos operários o que era luta de classe e ensinava-os a necessidade de se libertarem da exploração”.

Antonio Funari Filho, presidente da Comissão Justiça e Paz, colocou que “Dom Paulo rompeu com o conformismo e virou uma referência nacional, movido pela ética e busca pela construção de um país mais justo”.

A vereadora Juliana Cardoso (PT), disse que “Jamil acertou ao propor esta homenagem porque é uma forma de reconhecer o papel de Dom Paulo e de ressaltarmos o trabalho de cada um que aqui está na busca por um país melhor”.

Dom Tarcísio Scaramussa, bispo auxiliar, representou a Arquidiocese de São Paulo. Para ele, “a sessão era uma justa homenagem a um pastor destacado da igreja junto ao rebanho dos mais pobres, um grande líder dos lutadores pela democracia e pelos direitos humanos”. Segundo Scaramussa, sua luta continua atual uma vez que “o processo democrático ainda não garantiu os direitos básicos a todos”.

O ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, dirigente do PSol, colocou que “o que aproxima comunistas e cristãos é a luta pela igualdade, pela dignidade humana”. Dom Paulo “representa um movimento fundamental da igreja: a atenção ao pobre, ao humilhado, ao perseguido, ao ofendido”.

Impossibilitado de estar presente por indicação médica, Dom Paulo foi representado no evento por Paulo César Pedrini, professor e coordenador da Pastoral Operária Metropolitana. Depois de agradecer pela realização da sessão, enfatizou que “não há contradição entre o comunismo e o cristianismo. Frei Betto dizia que o mundo não se divide entre crentes e ateus, mas entre exploradores e explorados”.

Pedrini lembrou ainda que a sessão se realizava às vésperas do dia de São Francisco. “E como franciscano, Dom Paulo fez, de fato e não de retórica, uma opção pelos mais pobres”. Ele finalizou dizendo que “a maior homenagem que podemos fazer a Dom Paulo é continuar sua luta”. Pedrini recebeu de Jamil a Salva de Prata em homenagem a Dom Paulo. O ato foi encerrado com a apresentação musical de Cícero de Crato (voz), Clodoaldo Santos (voz e violão) e Chiquinho Rodrigues (flauta e saxofone).