Horizonte

Para ele, a rua nunca foi tão infinita.

Saiu caminhando, levando consigo apenas os poucos pertences, numa sacola. Levava também um olhar baixo, pesado: a velha sensação de impossibilidade frente ao que foi, sempre, maior, mais intenso e, principalmente, incompreensível.

Escutou o portão e, logo depois a porta, se fechar. Pensou no quanto aquilo era dolorido para ambos, sabia o quanto a sinceridade de cada um era incompreendida pelo outro. Chorou pouco, mas intensamente, e acreditou, naquele instante, ser melhor seguir andando por aquela rua interminável.

Rua sem músicas. Sem pessoas. Sem carros. Sem almas. Sem chão.

Apenas o som de seus passos compassados dizendo, a cada meio segundo, que o próprio passada não era mais seu, que mais uma vez o perdeu, e era preciso, sempre é, viver aquele presente e, quem sabe, o futuro.

A caminhada até seu planeta era longa, mas decidiu fazê-la, a pé.

Durante o trajeto, veio do horizonte, do fim da infinita rua, um homem. Por tempos eles, apenas, se viram e, quando chegado o momento de cruzarem o caminho – aquele momento que ou oferecemos a tristeza de um rosto indiferente ou a alegria de um olhar – preferiram manter o silêncio e a distância. E assim fizeram.

É triste se sentir só – pensaram, ambos, depois.

Numa porção de tempo tão grande quanto uma vida, ele chegou ao final da rua. E lá, em sua casa, seu planeta, seu recanto, onde mora com seus vulcões, entrou. Respirou um ar áspero. Sentou no velho sofá. Afagou o velho gato. Ligou a velha TV. Acendeu um novo cigarro, preparou o coração para, naquela noite, não dormir. O café era sua única companhia.

Única.

* Luiz Henrique Dias é dramaturgo e diretor da Cia Experiencial O Teatro do Excluído. Siga ele no twitter: @LuizHDias