Quando eu crescer quero ter muita cultura


Chega um dia em que vem uma coceirinha para comprar uma pequena lista de coisas faltando na casa, para sí, e tal, e que vai crescendo com o passar do tempo, coisas necessárias. Programe-se para ir à 25 de março e a palavra é mesmo “programe-se” pois será uma gincana tomar o metro [de carro nem pensar] e duelar com milhões de transeuntes nas ruas. Escolha um dia ensolarado para que, no duelo, não tenha que enfrentar os guarda-chuvas e as poças d´água, verdadeiros lagos-paranoás pelas calçadas emburacadas. Vá com tempo sobrando, melhor que tire o dia, pois no final precisará de um escalda-pés.

á na 25, é preciso redobrar sua atenção com trombadinhas. Segure a bolsa que deverá ser pequena e acoplada ao corpo e divirta-se! Alguma dificuldade será razoável, vai sobrar um filete de calçada disponível para trançar seus pés e desviar das sacolas alheias. As barraquinhas, cheia de genéricos e penduricalhos Made in China, disputarão espaço com os carros que trafegam em meio à multidão e você precisará ziguezaguear entre eles. Pois é, tem louco que entra com o carro na 25, provavelmente teve a pretensão, um dia, de ser toureiro…

Daí você dispara nas suas compras. A pequena lista que decorou há semanas, disputa prioridade com a lista espontâna que vai surgindo irrefletidamente. É que os olhos vão crescendo com as novidades e últimos lançamentos que a novela das 9 sugeriu. Serão brincos, pulseiras, colares, anéis, cintos, bolsas, cachecóis e boinas, brilhos para aplicar em roupas, lenços coloridos irresistíveis, capinhas para o celular, enfeites, armarinhos, brinquedos, devedês, karaokês, nãoseiokês, que vão subir-lhe à cabeça.

Todo mundo comprando, e você fica contaminado pela febre do "também preciso comprar". Não se preocupe que em cada esquina encontrarás um vendedor de sacolas P, M e G e todas estampadas e à la última moda com pele de onça e zebra…

Tome um café reforçado pela manhã, antes de sair de casa, porque comer algo por ali é um desafio que talvez não queira enfrentar e nem vou gastar palavras com as comilanças do centro da cidade, ainda mais com o churrasco grego que tem pelas esquinas paulistanas. Há horas a fio de entra e sai de loja, é melhor bater em retirada, porque a grana acabou e aquela satisfação do consumir, começa a fazer efeito. É como uma droga que percorre nas veias e chega ao coração, e te deixa feliz da vida!

Na volta prá casa, você é mais um a espancar os usuários do metro com suas sacolas cheias, de quê nem se lembra mais, são águas passadas. Em casa, estica as pernas, toma água, um café [ai que delícia estar em casa] liga a tevê e relaxa. Desfaz-se das sacolas, com a ajuda dos gatos curiosos, e tirando os sacos plásticos, as embalagens de papel, as embalagens dos produtos, sobra quase nada sobre a mesa. Pôxa, só comprei isso? Da lista oficial, faltou coisa, e da lista criativa bate um remorso e a constatação de que não precisava comprar. Mas que foi muito bom, foi. Afinal, um argumento frequentemente usado é que um bom remédio para o tédio, tristeza, mal humor, é comprar alguma coisa… o famoso consumismo.

Passado o efeito calmante do gastar [cuidado para que não seja em menos de 1 mês] lembre-se que consumir é um vício que vai além do necessário. E adie a próxima listinha usando uma famosa frase para os viciados: só por hoje.

Exagerei?

Eliana Ada Gasparini – fonte : http://coisasdeada.blogspot.com/
 
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