RIO – Rose Nogueira é uma mulher que usa a voz serena e, ao mesmo tempo assertiva, para despejar críticas aos torturadores e militares que participaram da ditadura. O tom habitual mudou quando entrou em cena a emoção por conta da sanção da lei que cria a Comissão da Verdade.

Aos 65 anos, ela prefere sempre que a identifiquem como presidente do Tortura Nunca Mais, em São Paulo, e não como uma das companheiras de prisão da presidente Dilma Rousseff.

 Assim, me dão uma importância que eu não tenho – diz ela ao GLOBO, afirmando que, embora distante da presidente, ainda adora Dilma e se emociona com ela.

Rose rejeita o rótulo de ex-colega de prisão da presidente porque conviveu com ela nessa circunstância por três meses, enquanto outras chegaram a estar ao lado de Dilma na cadeia por três anos. Prefere apenas dizer que é uma ex-presa política que passou nove meses na cadeia, separada do filho que à época tinha apenas um mês de vida.

A seguir, a presidente do Tortura Nunca Mais, em São Paulo, fala que se emocionou ao assistir pela TV a cerimônia de sanção da Comissão da Verdade, porque “estava viva” para presenciar o que ela chamou de resgate histórico do Brasil.

O GLOBO : Como você vê a sanção da Comissão da Verdade?

ROSE: Eu vejo as duas leis sancionadas hoje (Dilma assinou também a Lei de Acesso à Informação) como correlatas. Se não caísse a lei do sigilo eterno, se não houvesse acesso público aos documentos da História do Brasil, ficaria a verdade secreta? Não existe isso. Fiquei muito emocionada e alegre, quando assisti pela TV ao vivo à cerimônia. Estou viva para ver isso. A maior importância é o resgate histórico para que a geração dos nossos netos e bisnetos tenha direito de saber o que aconteceu e também para que isso não aconteça mais.
 

O GLOBO: Ficou estabelecido que a comissão não vai ter caráter punitivo. Você concorda?
 

ROSE: A comissão não é um tribunal. Nenhuma Comissão da Verdade no mundo é um tribunal. Quem faz a denúncia e manda para a Justiça é o Ministério Público. A tortura é um crime comum, não é um crime político. A comissão vai investigar e, se o MP vier a encontrar ali um crime continuado, tem que denunciar à Justiça. Tortura é crime imprescritível e inafiançável.
 

O GLOBO: O tempo de dois anos e os sete membros são suficientes para levar à frente as investigações?
 

ROSE : Acho muito pouco porque aconteceu muita coisa. Por isso, eu penso que a comissão deveria ter várias subcomissões, como aconteceu na Guatemala, por exemplo. A comissão também tem que levar em conta o que tem sido feito desde 1995 pela Comissão de Mortos e Desaparecidos e todo o trabalho feito desde 2001 pela Comissão da Anistia. Sobre o número de membros, são poucos.
 

O GLOBO: A presidente Dilma ainda não anunciou os nomes para compor o grupo, mas estão entre os cotados oposicionistas DEM, como o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo e o ex-vice-presidente e ex-senador pernambucano Marco Maciel. O que você acha?
 

ROSE: Acho que a comissão tem que ser composta de juristas, gente da área do direito. Político profissional, de jeito nenhum.

Fonte: O Globo