Participaram ainda o vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) Ernani Cauduro, Guiomar Vidor, presidente da CTB do RS, Raul Carrion, deputado do PCdoB do estado e o presidente da Assembléia, deputado Adão Villaverde.

Segundo Belluzzo, a crise que atinge principalmente os Estados Unidos e a Europa de forma mais aguda, com reflexos no resto do mundo, chegou ao estágio atual devido, principalmente, a quatro fatores: a desregulamentação financeira e a; a migração de empresas, que desde o final dos anos 70, nos EUA, passaram a buscar novos mercados – principalmente na Ásia; a estagnação dos salários e ao processo de reconcentração de renda, junto ao recuo dos direitos sociais advindos com o neoliberalismo “Costumo chamar esta síntese de ‘almanaque da crise’. Quem acompanhou os movimentos da economia mundial nos últimos 30 anos, entende bem como a crise foi gestada”, apontou.

O economista considera as eleições de Ronald Reagan para presidente dos Estados Unidos, em 1981, e a da primeira-ministra britânica Margareth Thatcher, em 1979, um marco na deflagração da crise global. “Depois dos chamados 30 anos gloriosos, vividos após o final da 2ª Guerra Mundial, que representam um período de prosperidade econômica e de consolidação de uma ampla rede de direitos sociais e de proteção ao trabalho, estas lideranças conservadoras passam a pregar a redução do tamanho do Estado como forma de estancar a inflação. Junto veio a diminuição do poder dos sindicatos, a redução de impostos para as classes privilegidas, a desregulamentação financeira, a interdependência das instituições bancárias, o que, mais tarde, levou os governos a socorrerem os bancos para evitar a devastação total”, analisou.

Crise não pode ser subestimada

De acordo com Sérgio Barroso, o Brasil não pode subestimar os efeitos da crise internacional. Disse que a situação da crise dos EUA, especialmente, é “profundamente preocupante”. Segundo Barroso, a chamada supercomissão criada com republicanos e democratas para reduzir em US$ 1, 3 trilhão as despesas do governo “reconheceu o fracasso de não ter encontrado saída”. Agora – afirmou o pesquisador –, “as agências de rating já ameaçaram novamente reduzir a nota para a classificação de riscos dos papéis americanos e se isso ocorrer será um novo momento de agravamento da crise”.

Além de defender mudanças no sistema financeiro nacional, Barroso propôs que empresários, trabalhadores, governos e partidos façam um pacto em torno de políticas macroeconômicas que protejam os setores produtivos e a economia brasileira dos obstáculos ao crescimento. “A gravidade da conjuntura internacional exige um novo contrato social e político no Brasil. Não queremos que ninguém abra mão das suas convicções, mas a crise precisa ser enfrentada por um movimento nacional que dê sustentação a uma política econômica mais avançada”, argumentou.

Alerta para o Brasil

Um dos organizadores do debate, o deputado Raul Carrion (PCdoB) manifestou preocupação com a situação do Brasil. Segundo o parlamentar, apesar do país ter adotado políticas que o protegeram da crise mundial e mantiveram a economia em ascensão, é preciso ter cuidado com o risco da desindustrialização. “Nossa pauta de exportações é cada vez mais de matérias-primas, alimentos e commodities. Estamos vendo a queda de indústrias estratégicas para o país, de valor agregado superior”, avaliou.

O vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) endossou o alerta de Carrion. Para Ernani Cauduro, é fundamental que o governo adote medidas que barrem o processo de desindustrialização, estimulado pela valorização do real em relação ao dólar e pela taxa de juros. “Todos os dias temos notícias de empresas que fecharam, sem condições de competir em função do câmbio desfavorável”, ressaltou o empresário. De acordo com ele, o setor compreende 4.500 empresas, sendo 90% de pequeno a médio porte, gerando 250 mil empregos diretos. “Um país do tamanho do Brasil só se sustenta se tiver uma indústria forte e competitiva. Não dá para concorrer no mercado internacional se nossas máquinas custam cerca de 40% a mais do que na Europa, ou se o aço brasileiro é 35% mais caro por que exportamos minério e, depois, importamos o aço. Somos parceiros do governo para mudar esta situação”, observou.

O presidente da CTB (Central dos Trabalhadores do Brasil), Guiomar Vidor, destacou que um projeto nacional de desenvolvimento passa pela valorização do trabalho. “Não adianta o Brasil ser apenas exportador de commodities; temos que agregar valor para ter maior rentabilidade. Depois de perder espaço nos mercados, é difícil recuperar. Há industriais que se transformam em comerciantes, pois está mais lucrativo importar da China e revender aqui. Isto é um indício perigoso e devemos estar atentos”, assinalou o representante dos trabalhadores.

O debate contou com as presenças de dirigentes do PCdoB, como o presidente municipal do partido, Adalberto Frasson, o presidente do PT estadual e ex-prefeito Raul Pont, delegações do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, liderada por Antonio Carlos Santos, que representou o presidente da entidade, o deputado Assis Melo (PCdoB-RS), e do Sindicato dos Comerciários, liderada por Luis Celso, representando o presidente Silvio Frasson.