Não faz muito tempo, disseram que o pior resultado possível seria um calote da Grécia. Agora, um desastre muito maior que isso parece altamente provável.

Embora os líderes da Europa insistam em que o problema são os gastos excessivos nos países devedores, o problema real está nos gastos insuficientes na Europa como um todo. E os esforços dos líderes, exigindo austeridade cada vez maior, vêm tendo um papel importante em agravar a situação.

Nos anos que antecederam a crise de 2008, a Europa, assim como a América, teve bancos descontrolados e acúmulo acelerado de dívida. Na Europa, porém, boa parte dos empréstimos foi feita entre países, com recursos da Alemanha fluindo para o sul. Eles eram vistos como de baixo risco: afinal, os destinatários operavam com o euro.

A maior parte desses empréstimos foi para o setor privado, não para governos. Só a Grécia acumulou grandes deficits nos anos bons.

Então a bolha estourou. Os gastos privados nos países devedores caíram fortemente. E a pergunta que os líderes deveriam ter feito era como impedir que aqueles cortes nos gastos provocassem desaceleração econômica em toda a Europa.

Ao invés disso, porém, eles reagiram ao aumento inevitável dos deficits, movido pela recessão, exigindo que todos os governos -não só os dos países devedores- reduzissem gastos e elevassem impostos. Os avisos de que isso aprofundaria a recessão foram rejeitados.

Espere -há mais. Durante os anos de dinheiro fácil, os salários e preços no sul da Europa subiram substancialmente mais que os do norte. Essa divergência precisa ser revertida, ou com queda nos preços no Sul ou com elevação no Norte.

E isso faz diferença: se o sul for forçado a abrir caminho para a competitividade à custa de deflação, pagará alto preço em termos de emprego e agravará seus problemas de dívida. A chance de êxito seria bem maior se o desnível fosse corrigido com elevação dos preços no Norte.

Mas, para isso, os responsáveis políticos teriam de aceitar inflação temporariamente mais alta na zona do euro como um todo. E eles já deixaram claro que não aceitarão.

Os mercados já perderam a confiança no euro como um todo. Não é difícil entender. A combinação de austeridade para todos e um banco central morbidamente obcecado com a inflação torna essencialmente impossível os países endividados escaparem de sua armadilha de dívida; logo, ela é uma receita de calotes sobre dívidas, corridas a bancos e colapso generalizado.

Na América, assim como na Europa, a economia está sendo puxada para baixo por devedores inadimplentes. Também aqui precisamos de políticas fiscais e monetárias expansivas, que sustentem a economia enquanto esses devedores lutam para recuperar sua saúde financeira. No entanto, aqui também o discurso público é dominado por obcecados por deficit e inflação.

Portanto, na próxima vez em que você ouvir alguém afirmar que, se os EUA não reduzirem os gastos, vamos nos converter numa Grécia, sua resposta deve ser que, se de fato reduzirmos gastos enquanto a economia está em depressão, vamos nos converter numa Europa. Na realidade, já estamos a meio caminho.

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Fonte: Pual Krugman, do The New York Times, na Folha de S. Paulo