– É uma situação extremanete difícil – avaliou para Terra Magazine o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do Brasil, Julio Gomes de Almeida.

Nesta sexta-feira (2), a chanceler alemã Angela Merkel anunciou que estão sendo preparadas uma união fiscal e mudanças nos tratados europeus.

– O que aparentemente as negociações entre França e Alemanha estão tentando é criar um novo marco para delimitar o endividamento, e portanto criar uma norma fiscal entre os países da zona do euro. Isto é necessário. Que façam também uma união fiscal os países que tenham um grau de relacionamento a ponto de ter uma moeda única, um mercado comum de bens e de trabalho – opinou Almeida.

Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ele comenta os pontos principais do cenário europeu e sua repercussão no Brasil.

Problemaço, hoje insuportável

“Alguns pontos são muito duvidosos, pelo que a gente conhece até agora desta tentativa. Primeiro, ela visa restaurar a confiança no euro e na União Europeia, mas, do meu ponto de vista, a iniciativa para definir um marco do endividamento dos países europeus não exclui as medidas muito difíceis na área do endividamento que se alcançou até agora e que exigem uma reestruturação. Uma coisa é definir novos marcos de endividamento para o futuro na zona do euro, outra coisa é como lidar com um problema hoje insuportável: o endividamento que já alcançaram Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. Enfim, é um problemaço a ser resolvido a situação atual, pois se deixou que dívida chegasse a um nível muito avançado”.

Inevitável união fiscal

“Acho que a Europa não vai escapar de fazer algum tipo de reescalonamento da dívida dos países, de acabar emitindo um título para refinanciar a dívida deles ou aceitar que o Banco Central Europeu assuma um papel mais forte na aquisição de títulos dos países mais endividados. Em suma: é inevitável que os países europeus procurem, sob o comando da Alemanha e da França, uma maior união fiscal. Mas isso não vai implicar em resolver os problemas que estão postos hoje em dia, que derivam de um excessivo endividamento dos países”.

Agravamento da recessão

“Ainda não foi anunciado como será esse passo na direção de uma união fiscal. Tenho ideia de que serão regras mais estritas para o endividamento dos países europeus, coisa que pode gerar, dependendo da forma como for feita, até um agravamento da recessão que se espera para a Europa no início de 2012. Mas temos que ver com mais detalhamento o que será feito”.

Efeitos no Brasil

“Isso envolve o Brasil, que é um vendedor de produtos para esses países. Somos beneficiados ou punidos se a Europa conseguir ou não conseguir sair do atoleiro em que se meteu. Porque ela compra menos do Brasil se estiver em recessão. Nossa situação é de um parceiro comercial que tem a perder ou a ganhar, caso se apresente uma situação ou outra”.

Situação extremamente difícil

“É muito difícil a situação europeia. Para resumir, eles têm que resolver a dívida que se formou na Grécia, na Irlanda, em Portugal, na Espanha, na Itália. E têm que resolver também como eles transitam para uma situação fiscal mais homogênea, que é um problema que não conseguiram resolver quando formaram a União Europeia. É um problema de origem, e hoje eles têm um problema adicional, pois o endividamento evoluiu muito em vários países, isso tem que ter uma solução específica.

Alguns países continuariam na zona do euro e com um pacote de união fiscal e endividamento muito rigoroso. Outros países poderiam ter outra velocidade no enfrentamento dos seus problemas. É uma situação extremamente difícil”.

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Fonte: Terra Magazine