Europa: Sindicalistas propõem resgate social para combater crise
Em meio às discussões dos líderes europeus em Bruxelas para discutir, entre outros assuntos, as medidas anticrise na Zona do Euro, representantes sindicais do continente divulgaram nesta quinta-feira (08/12) a proposta de um “novo contrato social europeu”. O objetivo do documento é criar alternativas para recuperar o bloco da crise econômica, financeira e política iniciada em 2008.
Os líderes sindicais entendem que as medidas levadas a cabo pelas instituições europeias desde 2010 para recuperar a economia do bloco, em especial as medidas de austeridade, até agora fracassaram. Como resultado, as dívidas soberanas estão cada vez mais agudas, o crescimento econômico diminuiu em quase todos os Estados e o desemprego aumentou nos países onde o recorte de gastos públicos foi mais significativo. Além disso, os sindicalistas apontam que a diminuição dos salários, das pensões e dos gastos em educação e saúde resultaram em “mais pobreza e desigualdades e na erosão da coesão social”.
Pregando o retorno da solidariedade europeia como cimento da reunificação do continente posterior à Segunda Guerra Mundial, as oito entidades propõem um plano de resgate social que envolva a revisão dos tratados anteriores da política econômica europeia e novas diretrizes fiscais para o bloco. O plano retoma os princípios acordados no último Congresso da Confederação Européia de Sindicados realizado em Atenas, em maio deste ano.
O documento, publicado na edição de hoje do diário El País, é assinado pelos espanhóis Ignacio Fernández Toxo, do CC.OO. (Confederação Sindical das Comissões Operárias) e Cándido Méndez, da UGT (União Geral dos Trabalhadores), pelo alemão Michael Sommer, da DGB (Confederação Alemã de Sindicatos), pela italiana Susanna Camusso, da CGIL (Confederação-Geral Italiana do Trabalho), pelos franceses Bernard Thibault, da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) e François Cherèque, da CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho) e pelos belgas Claude Rolin, da CSC (Confederação dos Sindicatos Cristãos) e Anne Demelenne, da FGTB (Federação Geral do Trabalho da Bélgica).
Respeito à força trabalhista
O primeiro passo apontado pelos líderes sindicais é “acabar com os mecanismos de especulação e assegurar a capacidade financeira dos Estados membros da UE”. Eles criticam as altas taxas de juros dos títulos da dívida pública da Zona do Euro (que podem chegar a 7%) e relembram que, para sair da crise, o Japão emitiu títulos válidos por dez anos com juros inferiores a 2%. No caso europeu, afirmam, pesa a necessidade de acalmar os mercados e de converter o Banco Central Europeu na garantia de salvação do bloco.
O principal desafio seria reduzir os déficits e as dívidas europeias em prazos realistas e tomar medidas para promover o crescimento econômico e a criação de novos empregos. Para tanto, a segunda medida apontada pelos sindicalistas tem papel fundamental: “A política fiscal, começando pelos impostos de sociedades e sobre as rendas do capital, deve ser comum, em muitos aspectos, na Zona do Euro e deve estar em harmonia com o conjunto da União Europeia”.
Para dar início a este plano de resgate social, os autores apresentaram três medidas práticas: a revisão dos tratados europeus, considerando-se a dimensão social das políticas econômicas; a realização de uma convenção que prepare essa modificação; e o estabelecimento de uma cláusula geral de respeito aos direitos sociais fundamentais (como o de negociação dos trabalhadores).
Sob a perspectiva deste plano, os sindicalistas apontam a necessidade de um novo contrato social e econômico europeu com a participação dos interlocutores sociais, cujos capítulos deveriam ser o emprego, os salários, as pensões, a proteção ao desemprego, a educação e a saúde. Dessa forma, seria possível reaproximar os cidadãos e os governos depois dos desgastes provocados pela crise.
“O progresso da União Europeia deve basear-se na coesão social e na solidariedade no interior de seus Estados. Para tanto, é necessário atuar no âmbito comum europeu e reforçar o diálogo social. Os trabalhadores não devem estar excluídos desse processo”, concluem os autores.
Fonte: Opera Mundi