DE acordo com as instruções do Governo Popular Central da República Popular Chinesa, encontro-me aqui em nome das 475 milhões de pessoas que compõem o povo chinês para acusar o governo dos Estados Unidos de um ato ilegal e criminoso: a agressão armada contra o território chinês de Taiwan (Formosa) e as ilhas Penghuledao(1) (Sempre que posteriormente, falar de Taiwan estarei me referindo também, às ilhas de Penghuledao).

Esta acusação sobre a agressão contra Taiwan, apresentada ao Conselho de Segurança pelo Governo Popular Central da República Popular Chinesa contra o governo dos Estados Unidos, deveria ter sido apresentada pelo delegado da República Popular Chinesa no Conselho de Segurança, representando a República Popular Chinesa na qualidade de membro permanente do Conselho de Segurança. Contudo, em conseqüência das intrigas e das obstruções do governo dos Estados Unidos, os legítimos delegados da República Popular Chinesa não foram admitidos até agora na Organização das Nações Unidas. Eis porque devo, em primeiro lugar, erguer perante a Organização das Nações Unidas um protesto contra o fato de que, até hoje, ela autorize a sentar-se ilegalmente entre nós, com toda a desfaçatez, o “delegado” dos restos da camarilha reacionária do Kuomintang que pretende representar o povo chinês.

Membros do Conselho de Segurança! O povo chinês não pode aceitar semelhante situação.

Mao Tsé-Tung, presidente do Governo Popular Central da República Popular Chinesa, declarou, solenemente, ao mundo inteiro, por ocasião da instalação do governo, a 1.° de outubro de 1949, que o Governo Popular Central da República Popular Chinesa é o único governo legal que representa todo o povo chinês.

Os imensos êxitos alcançados pela República Popular Chinesa no ano passado nos domínios militar, econômico político e cultural, demonstraram eloqüentemente a todo o mundo que o Governo Popular Central da República Popular Chinesa é o único governo legal que representa o povo chinês.

Os restos da camarilha reacionária do Kuomintang que se opõem ao Governo Popular Central da República Popular Chinesa cessaram, de há muito tempo de existir na China continental. Desde o momento em que, em julho de 1946. quando a camarilha reacionária de Chiang-Kai-Chek desencadeou, apoiada pelo governo dos Estados Unidos, uma guerra civil de grande envergadura, durante mais de quatro anos de guerra o Exército Popular de Libertação da China destruiu os exércitos reacionários de Chiang-Kai-Chek cujos efetivos se elevavam a 8.070.000 homens e libertou todo o território chinês com exceção do Tibet e de Taiwan.

Durante o último ano transcorrido, o Governo Popular Central da República Popular Chinesa uniu estreitamente todas as camadas da população; criou em todo o país os órgãos de administração local e regional em todos os seus graus, exercendo um controle efetivo na China continental. O Governo Popular Central, sendo o governo de toda a China, não encontra paralelo em toda a história chinesa por sua coesão, estabilidade e pelo apoio que lhe concede o povo. Os próprios inimigos do povo chinês não podem deixar de reconhecer este fato.

O governo reacionário do Kuomintang desmoronou e deixou de existir há muito tempo Seus próprios remanescentes foram expulsos pelo povo chinês da China continental. Atualmente, só conseguem arrastar sua existência precária graças à proteção armada dos Estados Unidos. Mas, de há muito, foram repelidos pelo povo chinês e não têm nenhum direito, nem de jure, nem de facto, de representar o povo chinês. Os pretensos “delegados” dos restos da camarilha reacionária do Kuomintang na Organização das Nações Unidas não passam de um instrumento pessoal (e nada mais do que isso) de um punhado de fugitivos que cedo serão totalmente eliminados. Eles não têm, absolutamente, o direito de representar o povo Chinês.

                                              Taiwan é Parte Inalienável da China

DESDE 15 de novembro de 1949, o ministro do Exterior da República Popular Chinesa, Chu En-Lai solicitou por várias vezes que a Organização das Nações Unidas expulsasse de todos os seus órgãos os “delegados” dos restos da camarilha reacionária do Kuomintang, assim como de todas as suas sessões e admitisse os delegados do Governo Popular Central da República Popular Chinesa. Até hoje, porém, não obstante o apoio enérgico concedido pela União Soviética o por outros países, ao pedido de admissão na ONU dos delegados da República Popular Chinesa, em que pese o voto favorável de 16 Estados membros da ONU a saber URSS, Polônia, Tchecoslováquia, Índia, Birmânia, Israel, Afeganistão, Paquistão, Rússia Branca, Ucrânia, Dinamarca, Holanda, Reino Unido, Suécia, Iugoslávia e Noruega — a Organização das Nações Unidas, em conseqüência das intrigas e das obstruções do governo dos Estados Unidos continua a recusar a admissão de nossos legítimos delegados. Devido a isso, os “delegados” dos restos da camarilha reacionária do Kuomintang continuam a sentar se no Conselho de Segurança e nos outros órgãos da ONU. Não podemos deixar de levantar um enérgico protesto contra esse fato.

Membros do Conselho de Segurança! Quisera lembrar-vos que, enquanto a Organização das Nações Unidas mantiver sua recusa em admitir um membro permanente do Conselho de Segurança que representa um povo de 475 milhões de pessoas, ela não poderá tomar nenhuma decisão legal sobre qualquer assunto importante, nem resolver nenhum problema importante, principalmente no que diz respeito à Ásía. Com eleito, sem a participação dos legítimos delegados da República Popular Chinesa que representam um povo de 475 milhões de habitantes, a Organização das Nações Unidas não corresponde, na realidade, ao nome que tem. O povo chinês não pode reconhecer nenhuma resolução ou decisão tomadas pela ONU, sem a participação dos legítimos delegados da República Popular Chinesa.

Em nome do Governo Popular Central da República Popular Chinesa, solicito novamente que a Organização das Nações Unidas expulse os “delegados” dos restos da camarilha reacionária do Kuomintang e admita em seu seio os legítimos delegados da República Popular Chinesa.

Os membros do Conselho de Segurança devem recordar que, a 24 de agosto, o ministro das Relações Exteriores da China, Chu En-Lai, apresentou ao Conselho de Segurança da ONU uma acusação sobre a agressão armada desfechada pelo governo dos Estados Unidos contra o território chinês de Taiwan. O governo dos Estados Unidos, porém, tudo fez para impedir a discussão dessa justa acusação pelo Conselho de Segurança. Foi somente devido à justa posição do delegado soviético que presidiu o Conselho de Segurança em agosto, e graças ao apoio de outros países, que essa acusação da República Popular Chinesa relativa à agressão armada dos Estados Unidos contra Taiwan figura hoje na ordem do dia do Conselho de Segurança, embora sob uma forma imperfeita, em conseqüência das objeções dos Estados Unidos contra essa acusação: que tomou o seguinte título “Queixa sobre a agressão armada contra Taiwan (Formosa)”.

Tendo Impulsionado o governo títere de Li Sin Man, da Coréia do Sul, a desfechar a guerra civil na Coréia, Truman, presidente dos Estados Unidos, fez a 27 de junho último uma declaração em que põe em destaque que o governo dos Estados Unidos decidiu-se a impedir pela força a libertação de Taiwan pelo Governo Popular Central da República Popular Chinesa. Ao mesmo tempo, por ordem de Truman, as forças armadas norte-americanas iniciaram a invasão aberta, em larga escala, de Taiwan, visando desse modo, impedir pela força a libertação de Taiwan pelo Exército Popular de Libertação da
China.

Em sua declaração de 28 de junho de 1950, o Governo Popular Central da República Popular Chinesa assinalava que a declaração de Truman de 27 de junho, bem como a ação das forças armadas
norte-americanas constituem uma agressão armada contra o território chinês e uma violação flagrante da Carta da ONU.

O povo chinês não pode tolerar esses atos de agressão bárbaros, ilegais e criminosos, postos em prática pelo governo dos Estados Unidos.

Membros do Conselho de Segurança! As provas de acusação apresentadas pelo Governo Popular Central da República Popular Chinesa são irrefutáveis. Qualquer pessoa de bom senso sabe perfeitamente que Taiwan é parte inalienável do território da China e os chineses estavam em Taiwan bem antes da descoberta da América por Cristóvão Colombo. Bem antes de que o Estados Unidos tivessem obtido sua independência, Taiwan se tornou parte inalienável do território chinês. Justamente em virtude do fato histórico incontestável de que Taiwan é um território chinês é que os países civilizados do mundo jamais consideraram como justa a ocupação de Taiwan pelo Japão imperialista, durante um período de 50 anos, desde 1895 até 1945. Pelo contrário, a população de Taiwan sempre lutou contra a dominação do imperialismo japonês. Durante os 50 anos da dominação dos imperialistas nipônicos, a população de Taiwan teve uma existência miserável e conheceu todos os sofrimentos de um povo oprimido. Contudo, durante esses 50 anos, a população de Taiwan não cessou jamais sua luta indomável contra a dominação estrangeira do imperialismo japonês, e a sua luta para voltar ao seio da mãe pátria. Em sua luta heróica contra o imperialismo japonês, a população de Taiwan escreveu, nas páginas da história, com letras de sangue e de fogo, que é membro da grande família do povo chinês.

O próprio Livro Branco “Sobre as relações entre os Estados Unidos e a China”, publicado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, foi obrigado a reconhecer que “A população autóctone sofreu durante 50 anos o jugo do invasor estrangeiro e é por isso que saudou como libertadores os soldados chineses. Sob a ocupação japonesa, a principal esperança da população foi sua reincorporação à China continental”.

Justamente porque Taiwan é parte inalienável da China, a declaração do Cairo, firmada conjuntamente a 1.° de dezembro de 1943 pelos governos da China, dos Estados Unidos e do Reino Unido previa claramente que “seu objetivo (o das três grandes potências) consiste em que todos os territórios que o Japão arrebatou aos chineses como, por exemplo, Mandchúria, Formosa e as ilhas Pescadores, sejam restituídas à República Chinesa”.

Taiwan é parte inalienável da China. Isto constitui não somente um fato histórico incontestável, mas um dos principais objetivos pelos quais se uniu o povo chinês na luta contra o Japão imperialista. Tal objetivo se refletiu na mencionada Declaração do Cairo. A Declaração do Cairo é um solene compromisso internacional, que o governo dos Estados Unidos se obrigou a respeitar. Como uma das principais cláusulas referentes à capitulação incondicional do Japão, esta solene declaração internacional foi novamente incluída na declaração de Postdam, assinada, a 26 de julho de 1945, conjuntamente, pela China Estados Unidos e Grã-Bretanha e à qual aderiu posteriormente o Governo da União Soviética. O artigo 8° da Declaração de Postdam diz:

“As condições fixadas pela Declaração do Cairo serão executadas e a soberania japonesa será limitada às ilhas Hondo, Hokkaido, Siusiu, Sikok e a outras pequenas ilhas a respeito das quais adotaremos uma decisão”.
A 2 de setembro de 1945, o Japão assinou a ata de capitulação cujo artigo 1° estipula claramente que o Japão aceita:

“as condições que foram publicadas a 26 de julho de 1945 em Postdam pelos governos dos Estados Unidos, da China e da Grã-Bretanha e à qual aderiu posteriormente o governo da URSS”.
Quando o governo chinês aceitou a capitulação das forças armadas japonesas em Taiwan, estabeleceu sua soberania sobre esta ilha, Taiwan tornou-se parte integrante do território chinês, não apenas de facto, mas de jure. Tal é a situação de Taiwan, a partir de 1945. Conseqüentemente, no decorrer dos cinco anos de após-guerra, de 1945 a 27 de junho de 1950, ninguém jamais pôs em dúvida que Taiwan é, de jure como de facto, uma parte integrante do território chinês.

A situação é tão clara que o próprio Truman teve de reconhecer a 5 de janeiro de 1950 que:

“Em declaração comum, feita no Cairo, a 1.° de dezembro de 1943, o presidente dos Estados Unidos, o primeiro ministro da Grã-Bretanha e o presidente da China tornaram público o seu desejo de restituir à República da China os territórios tomados à China pelo Japão, entre os quais Formosa. Os Estados Unidos assinaram a declaração de Potsdam, de 26 de julho de 1945, onde se diz que os termos da Declaração do Cairo devem ser executados. As cláusulas dessa declaração foram aceitas pelo Japão, quando de sua capitulação… Durante os quatro últimos anos, os Estados Unidos e as outras potências aliadas aceitaram que a China exercesse sua autoridade sobre esta ilha.
“Os Estados Unidos não abrigam nenhum plano de conquista de Formosa ou qualquer outro território chinês… Tão pouco tem a intenção de utilizar suas forças armadas para intervir na situação atual.
“O governo dos Estados Unidos não adotará uma linha de conduta que possa envolvê-lo na guerra civil da China”
O próprio presidente Truman reconheceu, portanto, que Taiwan constitui um território chinês. Vê-se, desse modo, que não há nenhum motivo para duvidar que Taiwan seja parte integrante do território chinês. Apesar disso o governo dos Estados-Unidos teve o cinismo de declarar que estava decidido a utilizar suas forças armadas para impedir a libertação de Taiwan pelo Governo Popular Central da República Popular Chinesa e a enviar suas forças armadas para cinicamente invadir Taiwan, em larga escala.

                                             A Agressão Norte-Americana a Taiwan

MEMBROS do Conselho de Segurança! O fato de que os Estados Unidos tenham utilizado a força armada para invadir Taiwan não necessita nenhum inquérito, porque foi reconhecido pelo próprio governo dos Estados Unidos. Anunciando a decisão supra-citada, Truman ordenou que a sétima esquadra dos Estados Unidos invadisse nossas águas territoriais, ao largo de Taiwan. Consequentemente, nunca negou que a sétima esquadra norte-americana tivesse invadido as águas territoriais chinesas de Taiwan. As forças armadas dos Estados Unidos invadiram Taiwan, território chinês, mas, efetuando atividade de reconhecimento e de patrulhamento violaram as fronteiras marítimas e aéreas chinesas, tanto ao largo de nossas costas, como no continente.

Segundo uma notícia transmitida a 24 de junho de Taipei pelo correspondente do “New York Tribune”:

“a esquadra opera numa zona que se estende desde Swaton, no sul da China, até Tsing-Tao, no norte da China ao longo de uma costa de mil milhas de extensão”.
Ao mesmo tempo, o governo dos Estados Unidos jamais negou que a 13.ª Força Aérea Ianque irrompeu em Taiwan. As unidades militares, navais e aéreas dos Estados Unidos, que invadiram Taiwan ao mesmo tempo que as forças agressivas norte-americanas o faziam na Coréia, ampliaram e continuam ampliando sua agressão além de Taiwan e no espaço aéreo territorial da China continental.

Voltarei a tratar desses fatos mais adiante.

Proclamando uma política de agressão armada contra Taiwan e passando à sua realização, Truman enviou Mac Arthur, comandante supremo das forças armadas norte-americanas no Extremo Oriente, a Taiwan, com a missão de entabular negociações secretas com Chiang Kai-Chek sobre as medidas concretas a serem tomadas para utilizar Taiwan como base para a guerra contra o povo chinês.

Mac Arthur e Chiang Kai-Chek decidiram que as forças terrestres, navais e aéreas dos Estados Unidos e de Chiang Kai-Chek devem ser colocadas sob o comando único de Mac Arthur para a “defesa comum” de Taiwan. Antes de partir, a 1.° de agosto, de Taiwan para o Japão, Mac Arthur declarou abertamente:

“A coordenação efetiva das operações entre as forças armadas norte-americanas e as forças armadas do governo chinês (isto é, da camarilha reacionária do Kuomintang) foi efetivada”.
Por sua vez, Chiang Kai-Chek declarou:

“O general Mac Arthur e eu chegamos a um acordo sobre todos os problemas discutidos nas conferências que se realizaram nos dois últimos dias. Estabeleceu-se, desse modo, a base para a defesa comum de Formosa e para uma colaboração militar entre a China e os Estados Unidos”.
Juntamente com seus títeres — a camarilha reacionária de Chiang Kai-Chek — o governo dos Estados Unidos, que invadiu e ocupou Taiwan provoca o povo chinês à guerra. Bem antes de 27 de junho último, o governo dos Estados Unidos empreendeu ações agressivas contra Taiwan, inclusive atos de agressão armada, por intermédio de seus títeres. Atualmente, o governo dos Estados Unidos age mais insensatamente do que nunca. O 13.° corpo da aviação norte-americana já constituiu em Formosa “um estado maior avançado” (emissão da rádio de Taipê, a 10 de agosto) que se instalou na sede do Estado-Maior das forças aéreas do regime títere do Kuomintang (emissão da rádio de Taipê, do dia 7 de agosto). A sétima esquadra norte-americana criou em Taiwan um “estado maior naval de ligação” (informação de Taipê, da agência United Press com data de 24 de julho”).

Para facilitar a unidade do comando das forcas militares, navais e aéreas de agressão a Taiwan, o governo dos Estados Unidos enviou uma missão militar oficial chamada “Grupo de observadores do comando norte-americano do Extremo-Oriente, em Formosa”. Foi anunciado que o “grupo de observadores” tinha sido chamado a 3 de outubro ao Japão e que, segundo todas as evidências, fora dissolvido. Tudo comprova, no entanto, que não se trata senão de uma tentativa do governo dos Estados Unidos para induzir o mundo a erro. As forças armadas dos Estados Unidos, seus comandantes e postos militares de comando permanecem em Taiwan.

Taiwan é parte inalienável do território chinês. A invasão de Taiwan pelas forças armadas do governo dos Estados Unidos e sua ocupação constituem um ato de agressão armada direta e aberta contra a China, por parte do governo norte-americano. Nada pode justificar a invasão de Taiwan, nem sua ocupação pelo governo dos Estados Unidos Contudo, esse governo se viu obrigado a procurar uma “justificativa” dessa agressão. Dai a teoria de que o “estatuto de Taiwan ainda não foi determinado” e de que, por conseqüência, a ocupação armada de Taiwan pelos Estados Unidos não pode ser considerada como invasão ou ocupação de território chinês pelos Estados Unidos.

Será que isso não é uma “justificativa”? Truman não declarou, ao dar a ordem de proceder a uma agressão armada contra Taiwan, que a

“determinação do futuro estatuto de Formosa deve ser adiada até ser restabelecida a segurança no Pacífico, a regulamentação da paz com o Japão ou até o exame dessa questão pela Organização das Nações Unidas?”

                  A Questão do Estatuto de Taiwan e do Tratado de Paz com o Japão

OCUPEMOS, em primeiro lugar, da questão do estatuto de Taiwan e do tratado de paz com o Japão. Existe algum motivo, para afirmar que não tendo ainda sido fixado o estatuto de Taiwan, a invasão de Taiwan pelas forças armadas norte-americanas não constitui uma agressão à China? Não; não há nenhuma razão para afirmá-lo. Em primeiro lugar, a declaração feita por Truman, a 5 de janeiro de 1950, contradiz sua declaração de 27 de junho de 1950. A 5 de janeiro último, Truman declarou:

“Os Estados Unidos e as outras potências aliadas reconheceram que a China exerce sua autoridade sobre essa ilha”.
Presume-se que, naquele momento, Truman não pensasse que o tratado de paz com o Japão já estivesse assinado.

Alem do mais, as palavras do presidente Roosevelt contradizem as de Truman. A 1° de dezembro de 1943, o presidente Roosevelt proclamou solenemente na declaração do Cairo que

“todos os territórios que o Japão usurpara à China como, por exemplo, a Mandchúria, Formosa e as ilhas Pescadores, devem ser restituídos à República Chinesa”.
Certamente, nem o presidente Roosevelt, nem ninguém mais acreditavam, nesse momento que a falta de um tratado de paz com o Japão pudesse tornar caduca a declaração do Cairo e que a Mandchúria, Formosa e as ilhas Pescadores, devem ser restituídos à Repú [falha no original impresso] japonesas.

Os acontecimentos históricos desses últimos séculos, bem como a situação durante os cinco anos que transcorreram desde a capitulação do Japão, contradizem igualmente as palavras de Truman, porque os acontecimentos históricos e a situação que se criou após a capitulação do Japão, já determinaram, de há muito, o estatuto de Taiwan como parte inalienável da China. O estatuto de Taiwan foi determinado há muito tempo: não existe problema sobre o estatuto de Taiwan. O artigo 107 da Carta da ONU prevê, claramente, que:

“A presente Carta não priva absolutamente de sua força jurídica as ações empreendidas ou aprovadas, como resultado da segunda guerra mundial, pelos governos responsáveis por tais ações, em relação a qualquer Estado que, durante a segunda guerra mundial, tenha sido inimigo de qualquer dos Estados signatários da presente Carta, nem tão pouco impede tais ações”.
Eis porque a Organização das Nações Unidas não tem absolutamente o direito de modificar o estatuto de Taiwan tanto mais que não existe a questão desse estatuto. Truman declarou que a solução da pretensa questão do estatuto de Taiwan deve ser adiada até o seu exame pela Organização das Nações.

Depois de a República Popular Chinesa ter acusado os Estados Unidos, perante a Organização das Nações Unidas, de uma agressão armada a Taiwan, o governo dos Estados Unidos deu a entender que saudaria o exame e a investigação por parte da ONU da questão de Taiwan. O representante dos Estados Unidos à 5.ª sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas apresentou a pretensa “questão de Formosa” e utilizou sua máquina de votar para inscrever essa questão na ordem do dia. Todas essas medidas do governo dos Estados Unidos se destinam a legalizar, sob a capa da ONU , os atos ilegais de agressão armada a Taiwan e a consolidar a ocupação de fato de Taiwan.

Meu governo protestou energicamente perante a Assembléia Geral da ONU, erguendo-se decididamente contra a inscrição da pretensa “questão de Formosa” relativa ao estatuto de Taiwan, na ordem do dia da Assembléia Geral. Quaisquer que venham a ser as decisões da Assembléia Geral, na pretensa questão do estatuto de Taiwan — quer ela entregue esta ilha aos Estados Unidos para administra-la abertamente sob a máscara de uma “tutela” ou de uma “neutralização”, quer adie indefinidamente a solução do problema por meio de um “inquérito” mantendo, por esse modo, a atual situação de ocupação efetiva da Ilha pelos Estados Unidos — isto significará, de fato, a apropriação de um território que pertence legalmente à China e o apoio à agressão norte-americana a Taiwan, a despeito da vontade do povo chinês.

Qualquer decisão desse gênero será injustificada e ilegal. Nenhuma decisão desse gênero conseguirá, jamais, quebrar a vontade do povo chinês de libertar Taiwan e não o impedirá de agir para libertar Taiwan. Quero dizer a todos os países que estão prestes a seguir os Estados Unidos nesta questão: não vos deixeis enganar, não tireis as castanhas do fogo para os Estados Unidos, porque, se sustentardes a agressão norte-americana, devereis, inevitavelmente, assumir a responsabilidade de vossas ações. O estatuto de Taiwan foi fixado há muito tempo. Muito pura e simplesmente não existe, portanto, a questão do estatuto de Taiwan. Existe, contudo, na realidade, uma questão relativa a Taiwan. É a questão da agressão armada do governo dos Estados Unidos, contra Taiwan, parte do território chinês. Eis porque é zombar da história, da realidade, da razão humana e dos acordos internacionais afirmar, baseando-se unicamente no pretexto de que o tratado de paz com o Japão não está ainda concluído, que o estatuto de Taiwan permanece indeterminado e que essa questão deve ser examinada pela Organização das Nações Unidas. Afirmar tal coisa é zombar da Carta da ONU. Esta absurda farsa não merece sequer ser combatida pois por ela o próprio Truman se expôs aos risos do público.

                                              A Questão da Segurança na Zona do Pacífico

QUIZERA dizer, em seguida, algumas palavras a respeito do argumento absurdo, segundo o qual a agressão dos Estados Unidos a Taiwan estaria destinada a garantir a segurança da zona do Pacífico. O governo dos Estados Unidos persiste em divulgar uma falsa versão em que afirma que a agressão norte-americana contra Taiwan seria uma “medida provisória provocada pela guerra na Coréia” e que não teria por finalidade senão “localizar” esta guerra e garantir a segurança na zona do Pacífico. Eis porque, de acordo com as afirmações do governo dos Estados Unidos, far-se-ia necessário adiar a fixação do futuro estatuto de Formosa, até o restabelecimento da segurança na zona do Pacifico”.

A guerra civil na Coréia foi desencadeada pelos Estados Unidos. Não pode. porém, sob nenhum aspecto, servir de justificativa ou de pretexto à agressão norte-americana contra Taiwan.

Membros do Conselho de Segurança! Pode-se dizer que a guerra civil na Espanha deu à Itália o direito de ocupar o território francês da Córsega? Poder-se-ia dizer que a guerra civil no México teria dado direito à Grã-Bretanha de ocupar o estado norte-americano da Flórida? Isto é completamente absurdo e inconcebível. No fundo, a política de agressão armada contra Taiwan, aplicada pelo governo dos Estados Unidos, assim como a política de agressão armada à Coréia foi elaborada, bem antes do desencadeamento da guerra civil na Coréia pelos Estados Unidos. Seis dias antes do inicio da guerra civil na Coréia, isto é, a 19 de junho de 1950 o New York Times escrevia em um editorial:

“Parece que, em tais condições, faz-se absolutamente necessário conservar algumas bases para a defesa do Japão. De outro lado, a idéia obsoleta da existência de três ou quatro bases relativamente isoladas é, efetivamente, um absurdo… É muito provável que justamente devido a essas razões, é que Mac Arthur está pronto, segundo as últimas informações, a insistir na adoção de um plano coordenado de defesa, relativo a todo o Oeste do Pacífico e não apenas ao Japão. Isto levanta novamente a questão das medidas que devem ou podem ser tomadas em relação a Formosa. É uma opinião bastante difundida a de que essa ilha pode ser ocupada e que, se já é tarde, atualmente, não é ainda demasiadamente tarde… Eis porque um programa eficaz de defesa, elaborado em base regional, exigiria decisões políticas de enorme importância. Ele poderia exigir a modificação de nossa posição na questão de Formosa”.
A 27 de junho, o New York Post publicou uma informação em que se dizia:

“Pouco antes da partida de Johnson e de Bradley para o Japão, o estado maior geral norte-americano concordou com uma política para o Extremo Oriente que prevê os dois seguintes pontos:
1) Ausência de tratado de paz com o Japão, nos próximos cinco anos;
2) Adoção de todas as medidas necessárias para impedir que Formosa caia em mãos dos comunistas”
Uma informação proveniente de Tóquio, e publicada no New York Herald Tribune, a 25 de junho, revela os pormenores desta decisão:

“Graças à firme posição dos Estados Unidos em Formosa existem, segundo o Estado-Maior do Comando Supremo, noventa por cento de probabilidades de que a invasão dos comunistas seja evitada porque os chineses não estão aptos, por si mesmos, a lutar diretamente contra as forças norte-americanas… Os representantes do Estado-Maior acham que se poderia, falando de um modo geral, tirar aos comunistas qualquer desejo de desencadear uma ofensiva contra Formosa se se empreenderem ações rápidas de acordo com o seguinte plano: os Estados Unidos devem fazer uma enérgica declaração pública em que será dito que, levando em conta a participação da União Soviética na preparação militar da China, e à luz da nova situação internacional, a solução do destino definitivo de Formosa, que fora uma possessão japonesa, deve ser adiada até a conclusão de um tratado de paz com o Japão. Enquanto esse tratado não for concluído, Formosa ficará sob a jurisdição dos Estados Unidos ou da Organização das Nações Unidas. Esta declaração deve ser acompanhada do envio de uma numerosa missão militar a Formosa, com uma quantidade limitada de armamento. Esta ajuda deve ser, guardadas todas as proporções, aproximadamente igual a que foi concedida ao governo grego em sua luta contra os guerrilheiros. Expressa-se, igualmente, a opinião de que, além do envio de uma missão militar, cumpre fazer uma demonstração de força naval. Segundo as palavras de um oficial, a presença de um único porta-aviões, tiraria aos comunistas, sem dúvida, por muito tempo, o desejo de atacar”.
Não há necessidade de citar outros testemunhos sobre este caso.

Informações tão importantes que comprometem o governo dos Estados Unidos jamais foram desmentidas por esse governo e, conseqüentemente, podem ser consideradas como correspondentes à realidade.

O que acaba de ser citado demonstra, suficientemente, que o governo dos Estados Unidos tinha decidido orientar-se para uma agressão armada contra Taiwan, bem antes de ter desfechado a guerra na Coréia. Foram mesmo tomadas decisões concernentes a ações concretas, necessárias à aplicação dessa política, como, por exemplo, a publicação de uma declaração enérgica, uma manifestação de poderio naval, o envio de missões militares, etc. Desencadeando a guerra civil na Coréia, o governo dos Estados Unidos visava apenas a um fim: encontrar pretexto para desfechar uma agressão armada à Coréia e a nosso território de Taiwan, assim como para reforçar o controle norte-americano no Viet-Nam e nas Filipinas.

             Mac Arthur Confessa Cinicamente os Objetivos Rapaces dos Estados Unidos

É EVIDENTE que desencadeando, ao mesmo tempo, uma agressão armada à Coréia e a Taiwan, a pretexto da guerra civil da Coréia que era sua própria obra, o governo dos Estados Unidos estendeu, consideravelmente, a guerra coreana. Isto se confirma inteiramente por uma série de provocações executadas pelas forças aéreas dos Estados Unidos, desde o inicio da agressão à Coréia e a Taiwan. De acordo com seu plano, o governo dos Estados Unidos estende à China o fogo da guerra de agressão. Em vez de localizar a guerra da Coréia ele lhe dá, pelo contrário, maior extensão. O povo chinês apoiou, constantemente, todas as propostas relativas à solução pacífica da questão coreana e a uma efetiva localização da guerra na Coréia. O povo chinês espera ardentemente que a segurança da zona do Pacífico seja garantida. A guerra da Coréia se estendeu, porém e a segurança na zona do Pacífico está minada. Quem ampliou a guerra coreana? Quem solapa a segurança na zona do Pacífico? Será que são as forças chinesas que invadiram as ilhas norte-americanas de Havaí, ou foram as forças norte-americanas que invadiram Taiwan território chinês! Todo o mundo sabe que não existem forças armadas chinesas entre as ilhas Havaí e o continente americano. Se a guerra na Coréia tomou tal extensão é precisamente porque os Estados Unidos desfecharam, ao mesmo tempo, uma agressão a Taiwan. Se a segurança foi solapada na zona do Pacífico, é precisamente porque as forças armadas dos Estados Unidos atravessaram 5.000 milhas de oceano, para entregar-se a agressão contra a Coréia e Taiwan. Foi justamente a agressão armada desencadeada pelos Estados Unidos, a pretexto de “manter a segurança na zona do Pacífico” que abalou a segurança nesta zona.

Todas as mentirosas declarações, freqüentemente repetidas por Truman, Acheson, Austin e outros, segundo as quais a agressão dos Estados Unidos contra Taiwan seria “medida provisória” exigida pela guerra na Coréia, e tendo por finalidade “localizar” a guerra coreana e “manter a segurança na região do Pacífico”, todas essas falsas declarações foram reduzidas a zero por algumas confissões sem rebuços de Mac Arthur.

Em sua mensagem de 28 de agosto, dirigida aos “Veteranos de guerra no exterior”, Mac Arthur reconheceu sem rebuços que os Estados Unidos consideram Taiwan como o “centro” da frente norte-americana no Pacífico, como “um porta-aviões insubmersível” e que os Estados Unidos deviam exercer seu controle sobre Taiwan para assegurar “à sua aviação o domínio sobre todos os portos asiáticos, de Vladivostok a Singapura”.

Sobressai claramente disto tudo que a agressão armada dos Estados Unidos contra Taiwan não é, absolutamente, uma “medida provisória” exigida pela guerra da Coréia mas, sim, um plano preconcebido, adotado muito antes do desencadeamento da guerra civil na Coréia. Esta agressão armada dos Estados Unidos visava a estender ao máximo a guerra coreana e não a “localizá-la”, a assegurar o “domínio (dos Estados Unidos) sobre todos os portos asiáticos, de Vladivostok a Singapura” e não a “manter a segurança na região do Pacífico”. Esta agressão armada dos Estados Unidos abalou, fortemente, a segurança na zona do Pacífico.

Afirma mentirosamente o governo dos Estados Unidos, além disso, que a invasão armada e a ocupação de Taiwan pelos Estados Unidos foram executadas a fim de “neutralizar militarmente” Taiwan.

O governo dos Estados Unidos invocou esta fórmula hipócrita para “justificar” a agressão armada contra Taiwan e enganar os povos do mundo, particularmente o povo norte-americano. O povo dos Estados Unidos, entretanto, como os povos de todo o mundo, compreende claramente isto: a libertação de Taiwan, que o povo chinês tem a intenção de executar, é um assunto exclusivamente interno da China e nenhuma fórmula mentirosa pode ocultar o fato de que o ato do governo dos Estados Unidos é uma intervenção armada nos assuntos internos da China. Que o povo norte-americano julgue por si mesmo: se um pais qualquer enviasse a sua marinha de guerra para a região compreendida entre as ilhas Havaí e o continente americano, anexasse esse território americano e impedisse o governo dos Estados Unidos de aí exercer seus direitos soberanos afirmando, ao mesmo tempo, que essa ação tinha por finalidade a neutralização militar das ilhas Hawaí, a fim de garantir a segurança na zona do Pacífico, se um país qualquer fizesse tudo isto, seria por acaso tolerado pelo povo norte-americano?

Que o povo norte-americano examine, também, o seguinte: se, quando o presidente Lincoln esmagava os vestígios das forças escravistas sulistas, uma potência estrangeira interviesse subitamente para ocupar pela força armada o Estado de Virgínia, afirmando, ao mesmo tempo, que isto tinha por finalidade neutralizar militarmente o Estado de Virgínia e defender a segurança do continente americano, se assim procedesse uma potência estrangeira, será que o povo norte-americano não consideraria tais atos como uma flagrante intervenção nos assuntos internos dos Estados Unidos? Será que o povo norte-americano não consideraria isto como uma ocupação armada do território dos Estados Unidos?

                                                Agressão Militar Direta, Criminosa e Ilegal

A OCUPAÇÃO armada de Taiwan pelo governo dos Estados Unidos é um ato de agressão e, consequentemente, uma flagrante intromissão nos assuntos internos da China e uma ocupação militar de território chinês. Trata-se de uma provocação aberta è premeditada dirigida contra os 475 milhões de cidadãos chineses. O povo chinês não pode tolerar este ato de agressão militar direta, criminosa e ilegal, dirigido pelo governo dos Estados Unidos contra a China. Entendemos que o povo norte-americano, por sua vez, não aprovará esta agressão criminosa, pois tais ações do governos dos EE. UU. prejudicam igualmente, os interesses do povo norte-americano. Existirá entre o povo norte-americano amante da paz um só homem disposto a servir de carne de canhão, a morrer unicamente porque o seu governo decidiu invadir Taiwan, situada a 5.000 milhas da América? As cínicas ações do governo dos Estados Unidos, que desencadeou uma agressão militar injustificada contra Taiwan, provocaram a indignação de todas as pessoas honestas do globo. Mentira alguma, nenhum engodo no que diz respeito ao “futuro estatuto” de Taiwan, podem desvanecer tal indignação.

O governo dos Estados Unidos precisou recorrer a mentira ainda mais grosseira para disfarçar a sua descarada agressão. A 19 de julho, o presidente dos Estados Unidos declarou em sua mensagem ao Congresso:

“Para que não permaneça absolutamente nenhuma dúvida sobre nossas intenções a respeito de Formosa, quero declarar que os Estados Unidos não têm nenhuma ambição territorial sobre esta ilha e que não procuramos obter nenhuma posição ou privilégio especial em Formosa”.
Membros do Conselho de Segurança! Nós, chineses, somos um povo habituado a “escutar as palavras e a observar os atos”. As forças armadas dos Estados Unidos invadiram um território chinês: Taiwan. Apesar disso, o presidente dos Estados Unidos afirmou que o governo norte-americano não tinha nenhuma ambição especial em relação a Taiwan. Em que devemos acreditar nesse caso? Nas palavras do governo norte-americano ou em seus atos? Como vemos, criou-se uma situação em que o agressor, após ter invadido o território de um outro país, declara que não tem nenhuma ambição territorial sobre este território. Que se deve entender nesse caso por “ambição territorial”? Não é possível menosprezar o bom senso humano. A invasão do território de um Estado é, sem dúvida, a suprema manifestação de ambição territorial em relação a este Estado.

Os atos das forças armadas norte-americanas, que se expressaram na invasão de Taiwan, provam, eloqüentemente, não apenas que os Estados Unidos têm ambições territoriais quanto ao território chinês de Taiwan, mas que já estão realizando seus objetivos. As verdadeiras intenções dos Estados Unidos, como o reconheceu Mac Arthur, consistem em fazer de Taiwan o centro da frente dos Estados Unidos no Pacífico, a fim de estabelecer o seu domínio sobre todos os portos asiáticos, de Vladivostok a Singapura.

O sr, Austin, delegado dos Estados Unidos na ONU, em sua carta dirigida a 25 de agosto, ao sr. Trigve Lie, secretário geral da Organização das Nações Unidas declarou: “Os Estados Unidos não invadiram o território da China; os Estados Unidos não empreenderam ato de agressão contra a China.” Muito bem. Mas, nesse caso, para onde se dirigiram a sétima esquadra e a 13.ª força aérea dos Estados Unidos? Ao planeta Marte, por acaso? Não. A sétima esquadra e a 13.ª força aérea dos Estados Unidos se encontram em Taiwan. O que se denomina a 7.ª esquadra e a 13.ª força aérea não são por acaso, forças armadas dos Estados Unidos? Sim; a 7.ª esquadra e a 13.ª força aérea são realmente a 7.ª esquadra e a 13.ª força aérea dos Estados Unidos. De que se trata, então? Pode existir no mundo um ato de agressão mais cínico do que esta invasão e ocupação do território de outro país? Somente regimes fascistas como os regimes alemão e japonês não reconheceram a invasão e ocupação da Mandchúria chinesa, ou a anexação da Áustria e da Tchecoslováquia como ato de agressão.

Membros do Conselho de Segurança! Não podemos tolerar esse engodo por parte do governo dos Estados Unidos. Vivemos em um mundo real, vivemos depois da vitória alcançada na guerra anti-fascista. Nenhum sofisma, nenhuma mentira, nenhuma invenção, poderão modificar o fato inegável de que as forças armadas dos Estados Unidos executaram uma agressão a um território chinês, a ilha de Taiwan.

Membros do Conselho de Segurança! A agressão armada do governo dos Estados Unidos a nosso território de Taiwan não é devida ao acaso. Ela é a conseqüência inevitável da política agressiva do governo dos Estados Unidos, que se dirige contra a China, e tem por finalidade imiscuir-se nos assuntos internos da China e estabelecer um domínio exclusivista sobre ela. Trata-se da antiquíssima política imperialista dos Estados Unidos.

                                        Os Crimes do Imperialismo Ianque na China

DURANTE toda a história das relações exteriores da China, embora os povos dos EE. UU. e da China tenham sempre mantido relações de amizade entre si, os imperialistas norte-americanos agiram, permanentemente como pérfidos agressores em suas relações com a China. Os imperialistas norte-americanos nunca foram amigos do povo chinês. Eles sempre tomaram o partido dos inimigos do povo chinês. Eles foram sempre inimigos do povo chinês. Malgrado as cínicas afirmações dos imperialistas norte-americanos, que pretendem fazer-se passar por amigos do povo chinês, não se pode modificar a história, que mostra quem é amigo e quem é inimigo.

As vésperas da segunda guerra mundial, devido a que outros imperialistas já tinham conquistado posições na China, os imperialistas norte-americanos executaram uma política que se conhece pelo nome de “política de portas abertas” e de “direitos iguais”. Embora, na aparência, esta política se distinguisse da política das outras potências imperialistas, era, na realidade, uma política agressiva visando dividir com os outros países imperialistas tudo o que havia sido pilhado.

Depois da segunda guerra mundial, graças, sobretudo, aos esforços e aos sacrifícios realizados, durante ela, pelo povo chinês e pela União Soviética, foi destruído o poder do imperialismo japonês na China e enfraqueceu-se o das outras potências imperialistas. Tirando partido dessa situação, o governo dos Estados Unidos se orientou mais resolutamente para o estabelecimento de seu domínio exclusivo sobre a China. Revelaram-se, porém, imensas as dificuldades que surgiram na realização dessa política, porque unicamente a camarilha reacionária do Kuomintang apoiava essa política, ao passo que todo o povo chinês se erguia contra ela. Eis porque os imperialistas norte-americanos, para aplicar a sua política tiveram de apoiar a camarilha reacionária do Kuomintang e opor-se com todas as suas forças, ao povo chinês.

Depois da capitulação do Japão imperialista, em 1945, o governo dos Estados Unidos empreendeu imediatamente uma política de intromissão aberta nos assuntos internos da China, pondo em ação todos os meios para facilitar à camarilha reacionária do Kuomintang o desencadeamento de uma sangrenta guerra civil, do massacre do povo chinês. O governo dos Estados Unidos mobilizou 113.000 homens de suas forças militares, aéreas e navais, para desembarcá-los nos grandes portos chineses e, apoderar-se dos pontos estratégicos importantes, dos quais a camarilha reacionária do Kuomintang pudesse começar a guerra civil, e para ajudar a camarilha reacionária do Kuomintang, transportando um milhão de soldados para as frentes onde deveria ser desencadeada a guerra civil. O governo dos Estados Unidos além disso, equipou em épocas diversas, 166 divisões do exército reacionário de Chiang Kai-Chek como força principal para invasão das regiões libertadas da China, ajudou Chiang Kai-Chek a aparelhar 9 frotas aéreas compostas de 1.720 aviões, entregou à esquadra de Chiang Kai-Chek, 757 navios e, finalmente, concedeu a Chiang Kai-Chek uma ajuda material e financeira superior a 6 bilhões de dólares norte-americanos, embora o governo dos Estados Unidos não reconheça mais do que dois bilhões.

Unicamente devido à importante ajuda recebida dos Estados Unidos é, que a camarilha reacionária de Chiang Kai-Chek ousou e pôde desencadear contra o povo uma guerra civil sem precedentes na história da China por sua amplitude e crueldade, e que exterminou, com a ajuda das armas norte-americanas, vários milhões de chineses.

Durante a sangrenta guerra civil empreendida por Chiang Kai-Chek contra o povo chinês, o governo dos Estados Unidos enviou a Chiang Kai-Chek mais de 1.000 conselheiros militares para elaborar os planos de guerra civil; as tropas dos Estados Unidos, estacionadas na China, participaram diretamente da guerra civil e invadiram mais de quarenta vezes as regiões libertadas da China.

Durante o mesmo período, o governo dos Estados Unidos e a camarilha reacionária do Kuomintang concluíram toda espécie de tratados e de acordos desiguais, que reduziram a China à situação de colônia e de base militar dos Estados Unidos. Tais foram os acordos militares, como o “acordo sobre a aviação” e o “acordo sobre a marinha de guerra”, assim como os tratados e os acordos econômicos como o “tratado sino-norte-americano de amizade, comércio e, navegação”, o “acordo bi-lateral entre a China e os Estados Unidos” e, enfim, o “acordo sino-norte-americano sobre a reconstrução das regiões agrícolas”.

Segundo esses tratados e acordos, o governo dos Estados Unidos obteve uma série de bases militares, navais e aéreas, na China do Kuomintang, e estabeleceu seu controle nos órgãos militares, políticos, financeiros e econômicos do governo do Kuomintang. Os produtos norte-americanos invadiram os mercados da China, levando à falência a indústria nacional chinesa. Os monopólios dos Estados Unidos controlaram, por meio das quatro grandes famílias — Tchang, Sung, Kung e Chen — a maior parte da economia da China. Na realidade, o regime reacionário do Kuomintang nada mais foi do que um boneco de engonço com a ajuda do qual o imperialismo norte-americano exerceu o seu controle sobre a China. É com justa razão que o povo chinês responsabiliza os imperialistas norte-americanos por todos os crimes tirânicos de Chiang Kai-Chek. O povo chinês jamais esquecerá os crimes sangrentos dos imperialistas norte-americanos. O imperialismo norte-americano terá de assumir a grande responsabilidade pelos crimes perpetrados pelos bandidos de Chiang Kai-Chek contra o povo chinês. As mãos dos imperialistas norte-americanos estão tintas do sangue do povo chinês. O povo chinês tem inteira razão em acusar o governo dos Estados Unidos dos crimes sangrentos, do assassinato de populações chinesas e da escravização da China, por intermédio de seu títere Chiang Kai-Chek.

                          Taiwan Transformada em Colônia e Base de Agressão dos Estados Unidos

FRACASSARAM, porém, todos os esforços do governo dos Estados Unidos. Pode-se encontrar um relatório bastante completo desse fracasso no Livro Branco, publicado pelo Departamento de Estado norte-americano e intitulado “As relações dos Estados Unidos e da China”. O governo dos Estados Unidos, entretanto, se recusa ainda a reconhecer que tais fatos significam uma derrota definitiva e, atualmente, concentra sua ação agressiva em relação à China contra a ilha de Taiwan, repara os escombros da camarilha de Chiang Kai-Chek, em sua última luta desesperada. Pouco depois da capitulação dos japoneses, as forças armadas norte-americanas tomaram diversas medidas preparatórias, objetivando a agressão a Taiwan, a pretexto de ajudar o regime do Kuomintang a “aceitar a capitulação” e a “repatriar os prisioneiros de guerra”. O objetivo dos atos empreendidos pelos Estados Unidos em Taiwan, por intermédio do regime do Kuomintang, assim como o objetivo de seus atos no Japão, eram, primeiramente, manter intactas todas as forças militares e as bases militares dos fascistas japoneses. Durante o segundo semestre de 1947, de acordo com as diretivas do governo dos Estados Unidos, o ex-governador japonês de Taiwan, Hasegawa Kiyoshi, o ex-presidente da Sociedade Japonesa para o desenvolvimento da indústria da Mandchúria, Yoshisuke Aikawa que, por ordem de Mac Arthur foi libertado da prisão de Sugano, assim como outros notórios criminosos de guerra japoneses, participantes da guerra de agressão contra a China, foram enviados a Taiwan, sob a proteção dos Estados Unidos. Para lá foram eles mandados com a finalidade de elaborar planos de instalação de bases militares em Taiwan e para ajudar de acordo com as instruções dos Estados Unidos, no preparo de tropas de Chiang Kai-Chek, tendo em vista o extermínio do povo chinês.

Durante este período, os Estados Unidos criaram bases aéreas estações de rádio e outras instalações nos aeródromos de Taipê, Sungsan, Taichung, Tainan e Hsintchu. Os aviões militares da 13ª força aérea norte-americana do Pacífico foram enviados para fazer aerofotogrametria de toda a ilha de Taiwan e realizar observações meteorológicas. Além disso, os aviões militares dos Estados Unidos estavam permanentemente nos diversos aeródromos de Taiwan O aeródromo de Hsintchu, que durante a ocupação japonesa foi durante certo tempo, a maior base-aérea de Taiwan tornou-se após a capitulação dos japoneses, a base das agressivas forças militares dos Estados Unidos, a base de sua 13.ª forca aérea.

Entrementes os Estados Unidos transformaram pouco a pouco os portos de Keelung e Kaoshing, em Taiwan, em bases navais próprias. Chegou a Taiwan na primavera de 1948, o almirante Charles M. M. Cooke Jor. com as forças militares navais dos Estados Unidos no Pacifico Ocidental que se encontravam sob seu comando e obrigou o regime do Kuomintang— que pretendia esconder o fato de ter vendido os portos chineses — a declarar, oficialmente que tanto Keelung, como Tsingtao, eram portos abertos à esquadra norte-americana. Desde então, os navios da esquadra norte-americana violaram constantemente as águas territoriais de nosso pais em torno de Taiwan, e a encontraram nos diversos portos dessa ilha. Em determinado momento, o número de navios norte-americanos que se encontravam unicamente no porto de Kaoshing elevou-se a vinte e sete. Quanto a forças militares terrestres, o “Comitê dos Conselheiros Militares” enviou, há muito tempo, numerosos oficiais da ativa para realizarem um trabalho permanente em Taiwan. Esse estado maior militar, segundo os planos militares em comum, dos Estados Unidos e de Chiang Kai-Chek, está encarregado da organização do equipamento e da formação do pretenso “novo exército do Kuomintang, destinado a atacar o povo chinês. Os Estados Unidos desse modo, assumiram, na realidade, no plano militar, o papel desempenhado outrora pelo Japão, submeteram Taiwan ao seu controle e a transformaram em uma base militar norte-americana.

No plano econômico, o governo dos Estados Unidos e os monopólios norte-americanos tais como a “Westinghouse Eletric”, “Reynolds Metal”, “American Express Company” etc, estabeleceram, por diversos meios, seu domínio nos ramos essenciais da economia de Taiwan; energia, alumínio, cimento, adubos químicos, etc, submeteram a seu controle a vida econômica de Taiwan e transformaram, de fato, esta ilha em uma colônia dos Estados Unidos.

                                           O Imperialismo Ianque é o Pior Inimigo do Povo Chinês

É EVIDENTE que, nessas condições, os Estados Unidos não renunciarão facilmente a Taiwan. Eis porque, para atingir o seu objetivo — o estabelecimento de seu domínio sobre Taiwan — o governo dos Estados Unidos organiza, há muito tempo, tenebrosas conspirações políticas. Em suas tentativas de organizar um “movimento separatista em Taiwan”, os Estados Unidos atingiram um tal grau de descaramento que o representante do governo norte-americano em Taiwan disse francamente: se a população de Taiwan expressa o desejo de se libertar da dominação da China, os Estados Unidos estão prontos a ajudá-la.

A população chinesa de Taiwan foi testemunha ocular de todas as conspiratas tramadas pelo governo norte-americano, em estreita ligação com os restos dos reacionários do Kuomintang. Durante os últimos cinco anos ela desencadeou, por diversas vezes, grandes movimentos de libertação nacional, dirigidos contra o governo norte-americano e seus títeres. A população chinesa de Taiwan, proclamou a todo o mundo, por sua gloriosa insurreição de 27 de fevereiro de 1947, que jamais aceitaria o domínio do imperialismo norte-americano, do mesmo modo como tinha repelido a dominação do imperialismo nipônico. A população de Taiwan reclama decididamente sua volta ao seio de sua já libertada pátria e trava, atualmente, uma luta penosa e heróica pela libertação de Taiwan.

O Exército Popular Chinês de Libertação terminou, em 1949, a libertação da China continental. Os restos da camarilha de Chiang Kai-Chek fugiram para Taiwan, a fim de transformarem-na em covil para sua última luta desesperada. O governo dos Estados Unidos tem aumentado, na realidade, seu apoio aos restos da camarilha de Chiang Kai-Chek, que se reagruparam em Taiwan, apesar da hipócrita declaração feita pelo presidente Truman, dos Estados Unidos, a 5 de janeiro de 1950, a propósito da “não intervenção na situação de Taiwan”. Com a ajuda dessa camarilha de foragidos, o governo dos Estados Unidos procura impedir a República Popular Chinesa de libertar Taiwan, e agiu de modo a fazer com que Taiwan permaneça sob o domínio efetivo dos Estados Unidos. Por que, entretanto, o governo dos Estados Unidos não continua esta política, esta forma relativamente disfarçada de agressão com a ajuda do regime títere de Chiang Kai-Chek, por que se vê obrigado a recorrer à agressão armada, aberta e direta, a fim de atingir seu objetivo: o domínio de Taiwan? O crescente poderio do povo chinês, e a destruição inevitável dos restos reacionários do regime de Chiang Kai-Chek, impossibilitaram todas as formas indiretas de agressão, pelas quais os Estados Unidos queriam atingir os seus objetivos. Como vemos, a aberta agressão armada dos Estados Unidos contra o território chinês de Taiwan é a conseqüência inevitável da política imperialista de agressão, praticada pelos Estados Unidos contra a China, velha política de agressão armada contra um território chinês — Taiwan — por parte do governo dos Estados Unidos. Esta agressão significa para o povo chinês uma nova prova de que o imperialismo norte-americano é hostil a todas as suas vitórias, que o imperialismo norte-americano é o pior inimigo do povo chinês.

                                           Plano Imperialista de Dominação da Ásia

MEMBROS do Conselho de Segurança! Devo dizer, em seguida, que a agressão armada do governo dos Estados Unidos contra o território chinês de Taiwan não constitui um ato isolado. Esta agressão é parte integrante de um vasto plano elaborado pelo governo norte-americano para reforçar sua agressão, aumentar o seu controle e agravar o avassalamento dos países e dos povos asiáticos: os povos da Coréia, do VietNam, das Filipinas, do Japão, etc. Esta agressão é um passo a mais na intensificação da ingerência do imperialismo norte-americano nos assuntos da Ásia. Durante os cinco anos decorridos desde o término da guerra, o general Mac Arthur, na qualidade de comandante chefe das forças armadas norte-americanas no Extremo-Oriente, tomou toda uma série de medidas ilegais, abusou do poder de que havia sido investido como comandante chefe das forças aliadas no Japão e violou flagrantemente a declaração de Potsdam, assinada em comum pela China os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, assim como a declaração sobre a “A política fundamental em relação ao Japão, após a sua capitulação”, estabelecida pela Comissão do Extremo-Oriente. Mac Arthur liberta arbitrariamente os criminosos de guerra japoneses, aos quais os povos de toda a Ásia votam ódio implacável. Ele faz renascer o fascismo japonês reprime o movimento do povo japonês por sua independência e libertação e se recusa a concluir com brevidade um tratado de paz com o Japão, procura assegurar-se um domínio exclusivo sobre o Japão escravizar a nação japonesa e fazer do Japão uma colônia dos Estados Unidos, uma base norte-americana para uma nova guerra de agressão. Esta política do governo dos Estados Unidos em relação ao Japão prejudica, não somente aos interesses do povo chinês, mas, também, aos interesses comuns dos povos chinês, coreano e demais povos asiáticos. O povo chinês não pode deixar de protestar energicamente, e enfrentar com firmeza, essa política reacionária do governo dos Estados Unidos. Desde que o povo chinês alcançou a vitória no território da China continental, o governo dos Estados Unidos redobra de esforços febris para aplicar sua política de rearmamento do Japão contra o povo chinês e os outros povos da Ásia.

Atualmente, o governo dos Estados Unidos não apenas fez do Japão sua principal base no Extremo-Oriente, tendo em vista a preparação de uma guerra de agressão, como já principia a utilizá-la para o desencadeamento de guerras de agressão contra vários países asiáticos. O Estado maior geral criado pelo governo dos Estados Unidos para sua agressão contra a Coréia e Taiwan, se encontra no Japão.

A pretexto da guerra civil da Coréia, que foi desencadeada pelo próprio governo norte-americano, esse governo empreendeu, ao mesmo tempo, uma agressão armada contra a Coréia e Taiwan. A agressão armada dos Estados Unidos contra a Coréia criou, desde o seu início, uma séria ameaça à segurança da China.

                                            Os Ataques Norte-Americano à China Continental

MEMBROS do Conselho de Segurança! A Coréia está a cerca de 5.000 milhas das fronteiras dos Estados Unidos. Afirmar que a guerra civil na Coréia ameaça a segurança dos Estados Unidos é um absurdo flagrante e uma grosseira mentira. Entretanto não existe senão um estreito rio entre a Coréia e a China. A agressão armada dos Estados Unidos à Coréia constitui ameaça iminente à segurança da China. As agressivas forças armadas dos Estados Unidos ameaçam diretamente a segurança da China, o que é inteiramente confirmado pelos fatos. Entre 27 de agosto e 10 de novembro de 1950, os aviões de guerra das forças de agressão norte- americanas que operam na Coréia violaram 90 vezes o espaço aéreo do Nordeste da China, efetuando reconhecimentos, metralhando e bombardeando as cidades e aldeias da China, matando e ferindo pacíficos cidadãos chineses e danificando propriedades chinesas.

Os pormenores estão expostos em uma lista separada. Devo verificar, ainda, que a partir do dia 10 de novembro, às 10 horas e 30 minutos, até 14 de novembro, às 13 horas e 10 minutos, isto é, durante 100 horas, os aviões norte-americanos violaram 28 vezes o espaço aéreo chinês. Durante nove dessas incursões, eles realizaram bombardeios e metralhamentos. O número total de aviões que participaram dessas incursões foi de 339. Em dez dessas incursões participaram mais de dez aviões. Durante uma dessas incursões, o número dos aviões atingiu a 68. Seis chineses foram feridos e mais de 189 casas foram destruídas por esses bombardeios e metralhamentos. Em 5 dias, de 15 a 19 de novembro, os aviões norte-americanos violaram, novamente, 33 vezes, o espaço aéreo da China. O numero total dos aviões que participaram dessas incursões foi de 218. A 20 de setembro, os navios de guerra das forças armadas norte-americanas de agressão que operam na Coréia abriram fogo sobre os navios de comércio chineses que se encontravam em alto mar e lhes impuseram uma revista. Todos estes atos de agressão direta contra a China, por parte das forças armadas de agressão dos Estados Unidos na Coréia, são uma cínica provocação que o povo chinês absolutamente não pode tolerar. O Governo Popular Central da República Popular Chinesa por diversas vezes dirigiu à Organização das Nações Unidas documentos de acusação e exigiu que ela tome medidas imediatas para por fim a estes atos revoltantes do governo norte-americano assim como que assegure a retirada das forças armadas de agressão norte-americanas da Coréia, para que essa questão não assuma proporções mais sérias.

Embora, graças ao decidido apoio do delegado da URSS, nossa acusação tenha sido inscrita na ordem do dia do Conselho de Segurança a 31 de agosto, o Conselho de Segurança, recusou, até o momento, devido às manobras e obstruções do governo dos Estados Unidos, permitir ao representante chinês expor sua reclamação e participar da discussão desse caso. As forças armadas de agressão norte-americanas na Coréia aproximam-se atualmente das nossas fronteiras do nordeste. As chamas da guerra de agressão desencadeada pelos Estados Unidos contra a Coréia se aproximam rapidamente da China. Nessas condições, a agressão armada dos Estados Unidos contra a Coréia não pode ser considerada um assunto exclusivamente da alçada do povo coreano. Não! Decididamente não!

                                         A China Solidária com a Coréia e o Viet-Nam

MEMBROS do Conselho de Segurança! A agressão dos Estados Unidos à Coréia ameaça gravemente a segurança da República Popular Chinesa. A República Democrática Popular Coreana é um país unido ao povo da República Chinesa por laços de estreita amizade. Apenas um rio separa geograficamente os dois países. O povo chinês não se pode permitir a passividade diante de uma situação tão séria como a que foi criada pela agressão do governo norte-americano contra a Coréia, nem diante da perigosa tendência à ampliação da guerra. O povo chinês viu com seus próprios olhos como Taiwan tornou-se a presa da agressão e como as chamas da guerra de agressão desencadeada pelos Estados Unidos contra a Coréia se aproximam dele. Tomados por uma legítima cólera, os chineses se alistam em massa para ajudar o povo coreano. A resistência à agressão norte-americana se apóia, incontestàvelmente, nos princípios da justiça e da razão. O Governo Popular Chinês não vê, absolutamente, nenhuma razão para se opor ao envio de voluntários para a Coréia para participar da grande luta de libertação travada pelo povo coreano contra a agressão dos Estados Unidos, sob o comando do Governo da República Popular Democrática da Coréia.

A agressão armada dos Estados Unidos contra Taiwan não pode ser separada da sua intervenção nos assuntos internos da República do Viet-Nam, do apoio que eles concedem aos agressores franceses
e ao regime títere de Bao Dai, e de seu ataque armado contra o povo vietnamita. Os povos de todo o mundo sabem perfeitamente que a França é o agressor no Viet Nam e que o regime de Bao Dai contitui um típico regime títere, incapaz para todo o sempre de obter a confiança e o apoio do povo vietnamita. O governo dos Estados Unidos, sustentando este agressor e o seu regime títere, contra o povo do Viet Nam, não tem apenas por objetivo a agressão contra o Viet Nam; ele ameaça, igualmente, as fronteiras da Republica Popular Chinesa. O povo chinês não pode deixar de experimentar uma profunda inquietação diante do desenvolvimento da agressiva conspiração do governo dos Estados Unidos contra o Viet Nam.

                                            O Fracasso da Política Imperialista na Ásia

MEMBROS do Conselho de Segurança! Fazendo do Japão a sua principal base militar no Oriente, desencadeando uma agressão armada contra a Coréia e contra Taiwan, intervindo ativamente no Viet Nam, ao mesmo tempo que reforçando seu controle sobre os outros países da Ásia, o governo dos Estados Unidos realiza o cerco militar da República Popular Chinesa e se prepara para prosseguir sua agressão contra a República Popular Chinesa e desencadear uma terceira guerra mundial. É fácil compreender o fundo da questão. Após a segunda guerra mundial, a política imperialista norte-americana no território chinês sofreu um vergonhoso malogro.

A grande vitória da República Popular Chinesa mostra aos povos e aos países oprimidos de toda a Ásia o caminho para expulsar o imperialismo da Ásia e conquistar a independência nacional. Esta vitória lhes mostra por fatos concretos que o imperialismo norte-americano pode ser esmagado e que,, não somente os povos da Ásia podem viver sem opressão imperialista, mas que viverão bastante melhor sem ela. A grande vitória da República Popular Chinesa inspirou e encorajou os povos oprimidos de toda a Ásia em sua luta pela libertação e a independência nacional. O imperialismo norte-americano não pode, porém, aceitar a derrocada de seus sonhos de domínio absoluto na Ásia e não pode concordar em retirar-se dela. Eis porque o imperialismo norte-americano considera a vitoriosa China Popular como o mais sério obstáculo à sua dominação completa na Ásia.

O imperialismo norte-americano é hostil a qualquer luta de libertação dos povos da Ásia e, sobretudo, à grande vitória do povo chinês. Eis porque, a fim de realizar os seus fanáticos planos de agressão contra a nova China e estabelecer o seu domínio sobre toda a Ásia, os Estados Unidos recorreram a uma agressão armada, direta e aberta.

Os imperialistas norte-americanos exigem que a “linha de defesa”, norte-americana seja levada ao rio Ialu, ao estreito de Formosa e à zona montanhosa existente entre a China e o Viet Nam, declarando que sem isto, a segurança dos Estados Unidos não estará garantida. É precisamente por isto, declaram eles, que os Estados Unidos empreenderam uma agressão armada contra a Coréia e Taiwan e reforçaram sua intervenção no Viet Nam. Não se pode, contudo, pretender em nenhuma hipótese, que a luta do povo coreano por sua libertação ou o estabelecimento pela República Popular Chinesa de sua soberania sobre Taiwan, território que lhe pertence, ou o desejo livremente expresso pelo povo chinês de opor resistência aos Estados Unidos e de ajudar a Coréia, ou a luta pela independência nacional da República Democrática do Viet Nam contra o imperialismo francês e seu títere, ameacem a segurança dos Estados Unidos da América que se encontram a 5.000 milhas de distância.

                                                      Herdeiros dos Fascistas Japoneses

O POVO chinês está temperado por privações e sofrimentos e sabe perfeitamente que o governo norte-americano desencadeou esta série de atos de agressão para realizar os seus fanáticos planos de hegemonia na Ásia e em todo o mundo.

Um dos autores dos planos da agressão japonesa, Tanaka, declarou um dia; para conquistar o mundo, é preciso primeiramente conquistar a Ásia; para conquistar a Ásia é preciso primeiramente conquistar a China; para conquistar a China é preciso primeiramente conquistar a Mandchúria e a Mongólia; para conquistar a Mandchúria e a Mongólia, é preciso primeiramente conquistar a Coréia e Taiwan.

A política de agressão executada pelo Japão imperialista, a partir de 1895, corresponde exatamente ao plano Tanaka. Em 1895, o Japão imperialista invadiu a Coréia e Taiwan. Em 1931, ele ocupou todo o nordeste da China. Em 1937, iniciou uma guerra de agressão contra toda a China. Em 1941, iniciou uma guerra para conquistar toda a Ásia.

Como todos sabem, o imperialismo japonês foi vencido sem ter executado esse plano. Com sua agressão contra Taiwan e a Coréia, o imperialismo norte-americano retomou, na realidade, o memorandum de Tanaka e segue o caminho trilhado pelos agressores imperialistas japoneses.

O povo chinês acompanha vigilante o desenvolvimento da agressão imperialista norte-americana. Ele já adquiriu uma experiência, assimilou as lições da história e sabe como se defender da agressão.

Membros do Conselho de Segurança! O imperialismo norte-americano ocupou o lugar do imperialismo japonês. No momento atual, ele segue o caminho já traçado de agressão à China e à Ásia, o que já foi trilhado pelo imperialismo japonês em 1894-1895, esperando percorrê-lo mais rapidamente. Entretanto, 1950 não é 1895; mudaram os tempos e as circunstâncias. O povo chinês está de pé. Ele, que aboliu vitoriosamente, no território da China, o domínio do imperialismo japonês, do imperialismo norte-americano e de seu lacaio Chiang Kai-Chek, expulsará, sem nenhuma dúvida os agressores norte-americanos e reconquistará Taiwan e todos os outros territórios pertencentes à China.

                                                      Urge Deter e Punir o Agressor

DURANTE os 55 anos que se passaram, em conseqüência das vitórias da Grande Revolução Socialista de Outubro na União Soviética e de suas vitórias alcançadas na segunda guerra mundial anti-fascista, como, também, graças à Grande Revolução do Povo Chinês, os países e os povos oprimidos do Oriente despertaram e se organizaram.

A despeito da barbárie e a ferocidade dos agressores imperialistas norte-americanos, o povo japonês em luta, o povo do Viet Nam que avança vitoriosamente, o povo da Coréia que resiste com heroísmo, o povo das Filipinas que jamais depôs as armas, e todos os povos e nações oprimidas do Oriente, não deixarão de unir-se em estreita solidariedade. Sem se deixar influenciar, nem pelas promessas, nem pelas ameaças do imperialismo norte-americano, eles continuarão incansavelmente sua luta pela independência nacional até a vitória definitiva.

A agressão armada ao território chinês de Taiwan e a extensão da guerra de agressão na Coréia pelo governo norte-americano aumentaram, imensamente, a indignação e o ódio do povo chinês para com o imperialismo norte-americano.

A partir de 27 de junho, milhares e milhares de protestos contra o ato abjeto de agressão cometido pelo governo norte-americano, emanando de diversos partidos políticos democráticos, de organizações populares, de minorias nacionais, de chineses que vivem no exterior, de operários, camponeses, intelectuais, industriais e comerciantes de toda a China, demonstraram a cólera irresistível do povo chinês. O povo chinês ama a paz. Se os agressores norte-americanos porém, consideram isso como uma manifestação da fraqueza do povo chinês, estarão cometendo um grave erro. O povo chinês nunca temeu, e jamais temerá, uma guerra de resistência à agressão. Independentemente de quaisquer medidas militares ou de obstáculos criados pelo governo dos Estados Unidos e qualquer que seja o modo por que ele possa encobrir seus objetivos com o nome da Organização das Nações Unidas, o povo chinês está inteiramente decidido a reentrar na posse de Taiwan e de todos os outros territórios
pertencentes à China e que se encontram em mãos dos agressores norte-americanos. Esta é a vontade inquebrantável e inflexível dos 475 milhões de pessoas que constituem o povo da China. Os Estados Unidos devem assumir a responsabilidade integral por todas as conseqüências que possam advir de sua invasão em Taiwan e da ocupação da mesma.

Para manter a paz e a segurança internacionais e para respeitar escrupulosamente a Carta das Nações Unidas, o Conselho de Segurança da ONU tem o dever imperioso de determinar sanções contra o governo dos Estados Unidos, por seus atos criminosos de agressão armada contra o território chinês de Taiwan e por sua intervenção armada na Coréia. Eis porque, em nome do Governo Popular Central da República Popular Chinesa, proponho:

— Que o Conselho de Segurança da ONU condene abertamente o governo dos Estados Unidos por seus atos criminosos de agressão armada ao território chinês de Taiwan e sua intervenção armada na Coréia, e adote medidas concretas para aplicar-lhe severas sanções;
— Que o Conselho de Segurança da ONU adote, imediatamente, medidas efetivas para obter do governo norte-americano a retirada completa de suas tropas que se entregam a uma agressão armada contra Taiwan, a fim de que a paz e a segurança possam ser garantidas no Pacífico e na Ásia;
— Que o Conselho de Segurança da ONU tome imediatamente medidas eficazes para efetivar a retirada das forças armadas dos Estados Unidos e dos outros países da Coréia e possibilitar ao povo da Coréia do Norte e do Sul resolver, por si mesmo, os assuntos internos da Coréia, a fim de que seja alcançada uma solução pacifica da questão coreana.

                                                      * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Notas:
(1) Pescadores. (nota da redação)